Título: Valsa dos cogumelos – A psicodelia recifense 1968 / 1981
Edição: Edição independente do autor
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ Muito tem se falado e escrito, neste século XXI, sobre a cena psicodélica que movimentou a cidade do Recife (PE) ao longo dos anos 1970 com bandas e cantores que – no rastro da Tropicália e da explosão da música lisérgica no universo particular da contracultura – procuraram caminhos e sons alternativos na capital de Pernambuco. Fora e até mesmo dentro das fronteiras do Recife (PE), contudo, pouco se sabe efetivamente sobre o início, a evolução e a dissolução dessa cena.
Por isso, o livro Valsa dos cogumelos – A psicodelia recifense 1968 / 1981 presta fundamental serviço à bibliografia musical do Brasil ao retratar e expor todas as cores e nomes desse movimento também rotulado eventualmente como Udigrudi.
Extraordinariamente bem escrito, em estilo romanceado que jamais tira a informação do centro da narrativa, o livro é resultado de pesquisa e entrevistas feitas pelo autor Rogério Medeiros, jornalista, pesquisador e colecionador de discos.
Com texto que concilia paixão e objetividade, o livro Valsa dos cogumelos narra a saga de turma que destacou nomes como Alceu Valença, Lula Côrtes (1949 – 2011), Robertinho de Recife, Flávio Tadeu Rangel Lira (1952 – 2021) – o Flaviola, lendário líder do Bando do Sol – e Ivson Wanderley (1953 – 2015), o Ivinho, guitarrista da banda Ave Sangria, originalmente chamada Tamarineira Village.
A propósito, a troca de nome aconteceu em 1974, sendo que Ave Sangria foi sugestão do vocalista Marco Polo, e não de cigana – lenda alimentada por alguns integrantes da banda, mas sucintamente desmentida por Rogério Medeiros no livro.
A banda Ave Sangria, uma das principais personagens da cena radiografada no livro ‘Valsa dos cogumelos’, em foto dos anos 1970 — Foto: Fotógrafo não identificado / Acervo de Rafles de Oliveira
Reativada a partir de 2014, a banda Ave Sangria tem o protagonismo reiterado nas páginas de Valsa dos cogumelos. Contudo, o mérito e a riqueza do livro – batizado com o nome da música de autoria de Laílson e Lula Côrtes, gravada em 1973 no primeiro e único álbum conjunto dos artistas, Satwa – residem na habilidade com que o autor entrelaça as trajetórias de protagonistas e coadjuvantes com maestria, perfilando cena escorada na coletividade.
É quando documenta a produção de nomes como Aratanha Azul, Aristides Guimarães, Os Bambinos, Laboratório de Sons Estranhos, Marconi Notaro, Nuvem 33 e Ricardo Uchôa, entre outros artistas mais ou menos esquecidos na poeira da estrada, que Valsa dos cogumelos agrega valor.
Ao reconstituir os bastidores quase sempre complicados (pela falta de dinheiro e/ou estrutura profissional) da gestação e produção de shows e discos de repercussão apenas local, com o auxílio de reproduções de reportagens e resenhas da imprensa recifense da época, Rogério Medeiros acaba involuntariamente enfatizando o caráter heroico do movimento musical.
Com exceção de alguns cantores que se tornaram ídolos nacionais, como Alceu Valença e Zé Ramalho (artista de origem paraibana, mas com forte presença na cena recifense, a ponto de ter assinado com Lula Côrtes em 1975 o já folclórico álbum duplo Paêbirú), os nomes da cena nunca obtiveram o reconhecimento a que fazem jus por terem feito sons que ainda reverberam Brasil e mundo afora com a quebra das fronteiras pela internet. Mesmo antes da rede, os sons psicodélicos dos anos 1970 ecoaram nas mentes que deram forma ao Manguebeat na primeira metade da década de 1990.
A própria edição do livro, viabilizada através de financiamento coletivo, é ato de heroísmo do autor, extremamente feliz ao registrar para a posteridade o lindo sonho delirante de turma que começou a agitar Recife (PE) entre 1968 e 1969, plantando sementes que germinaram ao longo da década seguinte até que a força da vida e a frieza do mercado dissiparam sonhos como os de Lula Côrtes.
O artista vislumbrou o sucesso nacional ao gravar em 1981 o álbum O gosto da vida, contratado pelo produtor Marco Mazzola para a então milionária gravadora Ariola, mas viu o estrelato escapar pelas mãos quando a gravadora recifense Rozenblit – personagem recorrente na narrativa de Valsa dos cogumelos – acionou a Ariola pelo fato de o disco O gosto da vida incluir algumas músicas do álbum anterior de Lula, Rosa de sangue (1980), disco (mal) editado pela Rozenblit no ano anterior.
Enfim, são muitas as histórias dessa turma que fez história sem ter levado o devido crédito, dado a todos por Rogério Medeiros no relevante livro Valsa dos cogumelos.
Rogério Medeiros, autor do livro ‘Valsa dos cogumelos – A psicodelia recifense 1968 / 1981’ — Foto: Gabriela Lucena / Divulgação
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