Por quase 30 anos, Karina Buhr vive do que ganha na música, mas a pandemia fez com que os trabalhos como autora e como desenhista se equiparassem com o lado de cantora.
Foi nesse tempo difícil e sem shows que a artista baiana escreveu o primeiro romance, “Mainá”. Com o lançamento, ela otimiza os dias de shows com sessões de autógrafo no vai e vem das turnês.
“Não estou atirando para todos os lados do sentido do desespero, mas antes a música estava ali de principal, agora está tudo mais ou menos no mesmo lugar. Vamos ver o que acontece”.
Os desabafos e os bastidores de artistas que tocam e investem sozinhos nas próprias carreiras são o tema do podcast g1 ouviu abaixo.
Além do podcast, o g1 publica nesta semana uma série de entrevistas com Karina, Johnny Hooker e Luedji Luna sobre a realidade da cena dos artistas independentes na MPB.
A carreira de Karina Buhr começou nos maracatus de Recife ainda nos anos 90. Tantos anos depois, ela ainda não conseguiu ter uma agenda estável de shows.
A meta da cantora é fazer 12 por mês, mas ela não consegue lembrar quantas vezes chegou nesse número. Ou se chegou alguma vez na vida.
Na pandemia, ela acompanhou de perto a situação crítica pela qual músicos e mestres de coco de roda e de maracatu passaram sem apresentações. Tanto que nem se sente bem em “reclamar”: “Foi difícil para mim, mas para muita gente foi pior”.
Karina Buhr terminou de escrever o livro ‘Maina’ na pandemia — Foto: Reprodução/Instagram/Karina Buhr; Duda Portella
Mas a dificuldade deles não é a mesma de qualquer artista? Não. A música pop do Brasil e do mundo só funciona a partir de algum investimento. Tradicionalmente, as gravadoras faziam este papel. Hoje este aporte vem também de escritórios, como no sertanejo.
“O mercado sempre foi contra a maioria, só que está mais predatório, porque e, principalmente, com a pandemia quem trabalha com isso não pôde realmente fazer o seu ofício”.
“Quando passa a ser só o digital aí acabou para a maioria, porque realmente só consegue sobreviver nesse modelo quem está no mainstream. Precisa-se entender como é que vai ser daqui para frente, porque em tese teria lugar para todo mundo, cada um no seu lugar”.
Karina Buhr — Foto: Reprodução/Instagram/Karina Buhr
Da mesma forma que Johnny Hooker desabafou sobre a baixa procura pelas suas músicas novas, Karina fez um post sobre a venda de ingressos para um show no Sesc Guarulhos, em São Paulo.
O tom era de brincadeira, mas o pedido era real. Faltava muito ingresso para ser vendido ainda.
“Não quis fazer aquele negócio de ‘tá quase acabando’, porque era o contrário. Mas é isso às vezes lota, às vezes não lota. A vida da gente é essa”, justifica.
“A gente vai indo e com muito tempo parada também tem isso, né? Quando você está na televisão, no TikTok é outra coisa”.
Questionada sobre o número máximo de shows que já fez em um mês, Karina diz que é muito instável e que sempre foi irregular assim.
“Nunca tive uma agenda assim de agência daquele orgulho. Vejo a galera do sertanejo… Gente com 30, 27 shows por mês, eu queria 10, sabe?”
“Talvez em turnê tenha rolado, mas pode ser que amanhã eu te mande mensagem falando que não rolou nunca. É uma coisa que realmente me incomoda, gostaria de ter frequência, é maravilhoso”.
É por isso que ela gosta da ideia de fazer 12 shows por mês, três por semana: “Seria lindo para mim, para banda, para equipe”.
Karina Buhr lança romance ‘Mainá’ — Foto: Divulgação
Karina Buhr já tinha lançado “Desperdiçando rima”, livro de poemas em 2015, mas entrou no campo do romance com “Mainá”.
Ela conta que sempre teve por perto “mil caderninhos” e a história da criança vidente está na sua cabeça desde a adolescência.
Ter feito uma oficina de escrita criativa também foi uma das motivações para o livro sair agora.
“Durante a pandemia, comecei a escrever mais e coisas mais longas diariamente. Antes, era mais solto por isso começou a vir essa ideia do livro”.
O livro foi escrito como um roteiro de peça de teatro, arte também muito próxima de Karina. Ela participou do Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez, no começo dos anos 2000.
“Mesmo sendo é um romance, vejo tudo como uma peça e quero montar assim que der.”
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