BRASÍLIA – Um juiz no Brasil ordenou na quarta-feira que o aplicativo de mensagens Telegram seja bloqueado em todo o país, enquanto as autoridades investigam grupos neonazistas que dizem ter usado a plataforma para incitar ataques a escolas.
A Polícia Federal pediu a suspensão do aplicativo porque o Telegram descumpriu ordens judiciais que exigiam dados completos de usuários de dois chats de grupos antissemitas. A empresa disse à polícia que os grupos foram excluídos e que não poderia recuperar os dados.
O juiz Wellington Lopes da Silva ordenou o fechamento do aplicativo e impôs uma multa de US$ 200.000 por dia contra ele por descumprimento de decisões judiciais anteriores. Ele também ordenou que o Google e a Apple removessem o aplicativo de suas lojas no Brasil e as operadoras de celular bloqueassem o acesso a ele no país.
A ordem judicial contra o Telegram segue uma série de medidas agressivas das autoridades brasileiras para responsabilizar as empresas de mídia social e mensagens pelo que os usuários postam em suas plataformas.
No ano passado, um juiz da Suprema Corte, Alexandre de Moraes, ordenou o banimento do Telegram por não ter atendido integralmente ordens anteriores de remoção das contas de um destacado apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2015 e 2016, juízes locais no Brasil WhatsApp suspenso quatro vezes em circunstâncias semelhantes, mas essas decisões foram rapidamente anuladas.
A juíza Silva disse na quarta-feira que o Telegram não tinha justificativa para desobedecer à intimação de dados do usuário.
“Esta empresa cumpriu apenas parcialmente a ordem judicial que lhe foi dirigida, uma vez que se limitou a fornecer informações relativas ao administrador (e não a todos os usuários) do canal ‘Movimento Antissemita Brasileiro’, falhando, ainda, em fornecer dados de usuários de o grupo ‘Frente Antissemita’”, escreveu o juiz.
O tribunal entregará intimações às empresas na noite de quarta-feira, e o juiz Silva disse que elas devem retirar o aplicativo do ar assim que receberem formalmente as ordens.
Um advogado do Telegram no Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, mas o Telegram pode recorrer da ordem em um tribunal superior.
O ministro da Justiça brasileiro, Flavio Dino, está liderando uma iniciativa federal para combater o aumento de episódios violentos e ameaças de violência contra escolas no Brasil. Nas últimas semanas, a Polícia Federal prendeu 302 pessoas suspeitas de ameaçar ou planejar massacres em escolas, e outros 1.738 casos estão sob investigação.
“O chamado movimento anti-semita está agindo nessas redes”, disse Dino em entrevista coletiva na quarta-feira. “E sabemos que isso está na base da violência contra nossas crianças, nossos adolescentes.”
As autoridades dizem que as conversas em grupo foram encontradas no telefone de um adolescente acusado de cometer dois tiroteios em uma escola em novembro, que deixaram três mortos e outros 13 feridos. A polícia disse ter identificado conteúdo nazista, vídeos violentos, tutoriais de assassinato e instruções de fabricação de bombas compartilhadas nos grupos que inspiraram os ataques.
Leopoldo Lacerda, delegado federal que solicitou a suspensão do aplicativo, disse que o Telegram “não coopera com as autoridades, o que torna a plataforma um meio para crimes hediondos”. Ele disse que a empresa não cooperou com os investigadores em vários casos relacionados a abuso infantil e ameaças escolares.
Duas semanas atrás, Dino, o ministro da Justiça, assinou uma portaria federal que permite ao governo remover conteúdo online que considere promover a violência. Ele também ordenou uma investigação para determinar se as empresas de mídia social violaram suas obrigações de moderar conteúdo violento que pudesse colocar em risco os alunos.
O Congresso brasileiro também está debatendo um “projeto de lei de notícias falsas” que pode responsabilizar plataformas de mídia social e aplicativos de mensagens por uma variedade de conteúdo gerado por usuários, incluindo postagens que ameacem as instituições democráticas do Brasil ou promovam a discriminação.
Os legisladores ainda estão elaborando a legislação, que o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que levaria para votação na semana que vem, com o apoio da coalizão de esquerda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os legisladores de direita e centro-direita, no entanto, se opuseram ao projeto de lei, dizendo que prejudicaria a liberdade de expressão.