Assessor de ex-ministro de Bolsonaro trouxe estojo com os bens e teve mochila averiguada por auditor. Servidor da Receita Federal apreendeu peças avaliadas em mais de R$ 16 milhões. Joias dadas pelo governo da Arábia Saudita a Michelle Bolsonaro
Wilton Júnior/ Estadão
O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional) afirmou em nota neste domingo (5) que o procedimento adotado pelo auditor-fiscal no caso da apreensão das joias para então primeira-dama Michelle Bolsonaro é “padrão” e classificou como “exemplar” a atuação do servidor público.
As joias avaliadas em mais R$ 16 milhões chegaram ao Brasil em 2021 com uma comitiva do Ministério de Minas e Energia. Elas foram apreendidas, porque não foram declaradas como item pessoal nem como presente para o Estado brasileiro.
Os itens eram presentes do governo da Arábia Saudita e foram encontradas na mochila de um assessor do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não havia declarado as peças à Receita.
“Esse episódio revela, por um lado, que garantias constitucionais do funcionalismo público, por exemplo a estabilidade, bem como as prerrogativas específicas dos Auditores-Fiscais, tornam possível o combate a ilícitos e constituem garantia à sociedade de que a Lei será aplicada a todos, independentemente de cargos, funções ou poder”, apontou o sindicato.
O Sindifisco Nacional escreveu também que o caso evidenciou “a importância da atuação da Aduana no combate ao contrabando e descaminho e na fiscalização do comércio internacional, garantindo a proteção da sociedade brasileira”.
Para o sindicato, o caso mostrou a importância da autoridade do auditor-fiscal na aplicação da legislação aduaneira.
Joias para Michelle Bolsonaro: veja perguntas e respostas
Procedimento de fiscalização
De acordo com o Sindifisco, o auditor-fiscal responsável adotou o procedimento padrão da Receita Federal para a fiscalização de passageiros provenientes de voos do exterior:
o trabalho se inicia com a seleção do passageiro para inspeção;
após ser selecionado, é solicitado que o passageiro passe sua bagagem pela máquina de raio-x;
se o raio-x revelar material ou objeto de interesse, a bagagem é encaminhada à inspeção física;
caso seja identificado objeto de interesse (por exemplo item de alto valor e não declarado) o auditor-fiscal entrevista o responsável pela bagagem em busca de informações relevantes para compreender os fatos e aplicar adequadamente a legislação.
“No caso do ouro, material de alta densidade que os raios-x não atravessam, é necessário realizar a inspeção física para averiguar possíveis itens não visíveis por meio do equipamento”, explicou o sindicato.
Segundo o Sindifisco Nacional, a importação irregular de itens dentro da bagagem sujeita ao passageiro o pagamento do tributo de importação, de 50% do valor do bem, além de uma multa de 100% do valor do tributo, montante que é reduzido à metade em caso de pagamento no prazo de trinta dias.
“É vergonhosa e criminosa a utilização da estrutura do Estado, seus ministérios, inclusive setores das Forças Armadas em benefício próprio”, escreveu a entidade.
“É ainda mais vergonhosa a possível atuação da antiga cúpula da Receita Federal ao tentar inibir a ação das autoridades aduaneiras no exercício de sua atribuição legal”, acrescentou o Sindifisco sobre a tentativa do governo Bolsonaro de liberar as joias sem o devido pagamento dos tributos e multa.
Por fim, o Sindifisco Nacional disse que essa atribuição não pode ser “sobreposta pelo assessor de um ministro, secretário da Receita Federal, ministro de Estado ou mesmo o presidente da República”.
PF vai investigar o caso
A Receita Federal acionou na sexta-feira (3) o Ministério Público Federal (MPF) em Guarulhos para apurar o caso. Informações e imagens dos bens já foram enviadas para o MPF.
Um procurador ouvido pela TV Globo afirmou que “chama atenção a pressão das autoridades”. “Segundo os fatos informados na mídia, pode ter havido alguma forma de advocacia administrativa ou corrupção”, disse.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou também na sexta-feira que pedirá para a Polícia Federal (PF) investigar a entrada das joias no Brasil. Segundo Dino, o ofício com as informações deverá ser apresentado à PF na segunda-feira (6).
De acordo com o blog da jornalista Andreia Sadi, a Polícia Federal deve instaurar na própria segunda-feira o inquérito para investigar possíveis crimes na tentativa do governo Bolsonaro de trazer ilegalmente para o Brasil joias para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Na avaliação de Dino, que é ex-juiz federal, os fatos podem configurar os crimes de:
descaminho, que é a tentativa de driblar o pagamento de impostos e que tem pena de 1 a 4 anos de prisão;
peculato, quando um funcionário público se apropria de um bem, com pena 2 a 12 anos de reclusão;
e lavagem de dinheiro, que é a tentativa de ocultar a origem ilícita de um bem, 3 a 10 anos de pena.
MPF recebe documentos sobre entrada ilegal de joias trazidas pelo governo Bolsonaro
Na manhã de sábado, 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil,…
Certificado lista destinos em áreas costeiras que tiveram compromisso com a preservação ambiental e o…
Gisèle Pelicot abriu mão do anonimato para tornar público o julgamento de seu ex-marido e…
"Embora 99,999% dos usuários do Telegram não tenham nada a ver com crimes, os 0,001%…
Mesmo com o imposto de 100% sobre o valor dos veículos americanos, os carros elétricos…
A medida tem como objetivo garantir o direito ao voto para o eleitor. A restrição…