Johnny Hooker comenta realidade da MPB independente: ‘R$ 2,50 competindo com R$ 5 milhões’ | Música

“A gente faz tudo com R$ 2,50 competindo com caminhões de R$ 5 milhões de reais por lançamento, mas sofre as mesmas pressões de quem tem milhões de reais no caminho”.

É assim que Johnny Hooker percebe o mercado da música no Brasil, especialmente pela ótica de artistas independentes, como ele.

Nem dá para falar em concorrência com os artistas gigantes do mainstream, porque, com o abismo de investimento, os resultados naturalmente são bem distantes quando se fala em posições em playlists e até venda de shows.

Os desabafos e os bastidores de artistas que tocam e investem sozinhos nas próprias carreiras são o tema do podcast g1 ouviu abaixo.

Além do podcast, o g1 publica nesta semana uma série de matérias com Hooker, Luedji e Luna e Karina Buhr sobre a realidade da cena dos artistas independentes na MPB.

“As pessoas querem que o nosso carro velhinho entregue a mesma potência do jatinho deles, mas não dá, precisa de investimento”.

A falta de investimento e oportunidade é a maior barreira para furar a bolha, segundo o cantor pernambucano de 35 anos.

Mas a dificuldade deles não é a mesma de qualquer artista? Não. A música pop do Brasil e do mundo só funciona a partir de algum investimento. Tradicionalmente, as gravadoras faziam este papel. Hoje este aporte vem também de escritórios, como no sertanejo.

“Chega um momento, no Brasil, que você percebe que não adianta, porque o dinheiro que você tem para investir não é o suficiente para fazer sair da bolha. Para colocar uma música em alta rotação em uma rádio é o dinheiro de um carro de luxo”, diz Hooker ao g1.

“Não importa quanto você trabalhe, quantas coisas lindas e importantes você lance que vão construir um legado. Existe um muro intransponível que é o poder econômico, dinheiro, agronegócio.”

Desabafo no lançamento do álbum

Johnny Hooker — Foto: Divulgação

“Não há mais demanda pelo meu trabalho. Se é que houve um esboço de algum dia. É preciso saber a hora de se retirar”, ele escreveu no Twitter ao ver que o single tinha apenas 13 mil plays. Logo, o número saltou para 500 mil depois do burburinho.

“Parece que você precisa falar: ‘Gente, eu vou me jogar da ponte’ para as pessoas olharem e falarem ‘Poxa, olha o estado mental que a gente deixou chegar esse artista aqui'”.

“A nossa música pop tem tanto potencial quanto as músicas que estão tocando na rádio, quanto as músicas que estão no Top 50 do Spotify. O que falta é oportunidade.”

O tom de frustração e cansaço também se repetiu na entrevista ao g1, quando o cantor de “Flutua” explicou como se organiza na carreira. É tudo autogerido por ele e, principalmente, reinvestido.

Cada trabalho que entra é uma chance de colocar dinheiro na carreira e é assim que acontece desde 2015, no lançamento do primeiro álbum, “Eu vou fazer uma macumba para te amarrar, maldito”.

Capa do álbum ‘Orgia’, de Johnny Hooker — Foto: Divulgação

Para Hooker, a volta da pandemia foi ainda pior para o midstream, espaço dos artistas que são conhecidos por determinado grupo ou número de pessoas, mas que ainda não chegaram ao nível de ser um nome amplamente conhecido nacionalmente.

“A nossa música pop tem tanto potencial quanto as músicas que estão tocando na rádio, quanto as músicas que estão no Top 50 do Spotify. O que falta para a gente é oportunidade”, defende.

Johnny Hooker — Foto: Reprodução/Instagram/Johnny Hooker

Hooker está em turnê do álbum “Orgia”, trabalho no qual canta sobre sexo e desejo no Brasil de 2022. Mas não descarta a possibilidade de dar um tempo na música para escrever para cinema ou atuar.

O que cansa o músico e compositor é o reconhecimento tardio das músicas que compõem. Ele usa como exemplo “Caetano Veloso”, faixa do álbum “Coração”, de 2017.

“Ela toca hoje em dia em todas as festas de música brasileira do Brasil inteiro no final de semana… Foi um negócio que foi acontecendo, mas precisa ser póstumo assim?”, reclama.

“Eu sei que não é póstumo, mas digo no sentido de demorar tanto… A música é boa, mas vai chegando aos poucos nas pessoas, porque não tem a máquina por trás”.

“Agora a gente lança ‘Cuba’ e daqui a cinco anos ela vai estar tocando em todas as festas, eu tenho certeza. Mas penso ‘daqui a cinco anos vou ter 40…’ Não sei nem se vou querer mais fazer isso, não sei se vou querer estar morando nas montanhas escondido, uma vibe meio Belchior.”

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