João Gordo mostra no álbum ‘Brutal brega’ que punks também amam e carregam o peso da paixão | Blog do Mauro Ferreira

Edição: Wikimetal Music

Cotação: ★ ★ ★ ½

♪ Os punks também amam e carregam o peso da paixão. Sentimento que irmana ricos e pobres, sertanejos e roqueiros, o amor é a mola que, de forma mais ou menos feliz, impulsiona as 14 pérolas do cancioneiro popular brasileiro que compõem o repertório de Brutal brega, álbum solo de João Gordo, vocalista da banda Ratos de Porão.

Lançado por João Gordo em 6 de outubro, com capa que expõe arte de Wagner Loud, o disco dá o peso do punk rock a esse repertório rotulado como cafona pelas elites culturais por conta do sentimentalismo explícito em letras diretas que mandam o recado sem metáforas ou poesias.

Embora o disco tenha nascido como brincadeira na pandemia, Brutal brega merece ser levado a sério pela produção musical orquestrada por Val Santos com os toques dos músicos Guilherme Martin, Rogério Wecko e Pedro Tiepolo.

Há, sim, um espírito lúdico que paira sobre as 14 regravações, sendo que duas delas – Doces beijos (Julio Seijas, Carlos Villa e Alejandro Monroy em versão em português de Carlos Colla, 1984) e Sandra Rosa Madalena, a cigana (Miguel Cidras e Robert Livi, 1978), sucessos do grupo Menudos e do cantor Sidney Magal, respectivamente – são faixas-bônus da edição em CD já posta à venda pela gravadora Wikimetal Music.

Nem por isso o disco resulta descuidado do ponto de vista musical. E, com exceção de uma ou outra música, caso de Domingo feliz (Beautiful sunday, Daniel Boone e Rod McQueen, 1972, em versão em português de Rossini Pinto, 1972), sucesso do cantor Angelo Máximo, o álbum Brutal brega versa basicamente sobre a dor de amor. Sofrência, no jargão musical da atualidade.

A maioria das faixas desce redonda. E, verdade seja dita, Fuscão preto (Atílio Mutti e José Silva, 1981), hit do cantor Almir Rogério e do Trio Parada Dura, roda muito bem na alta velocidade do punk, como já sinalizou o single que anunciou oficialmente o álbum em 25 de maio.

Com refrão acelerado, Eu vou rifar meu coração (Lindomar Castilho e Letinho, 1973) é outro exemplo de que, no fim das contas, a batida mais forte ouvida no disco Brutal brega é a do coração abandonado e solitário.

Fora do arco da sofrência e em menor velocidade, Os verdes campos da minha terra (Green green grass of home, Curly Putman, 1965, em versão em português de Geraldo Figueiredo, 1967) floresce com a nostalgia amplificada pelo vozeirão do cantor Agnaldo Timóteo (1936 – 2021).

Atriz que integrou nos anos 1990 a Banda Vexame, criada para abordar a música dita cafona, Marisa Orth acerta o tom over de Não se vá (Tu t’en vas, Alain Louis Bellec, 1974, em versão em português de Thina, 1976), sucesso de Jane & Herondy que Gordo revive em dueto com Orth.

Intérprete de três das 14 músicas do álbum Brutal brega, Sidney Magal é cantor muito mais identificado com a sensualidade do que com a sofrência. Uma delas, Tenho (Tengo, Roberto Sánchez e Oscar Anderle, 1968, em versão em português de Sidney Magal, 1978), mostra que o álbum Brutal brega sustenta tanto o peso do punk como o peso da paixão.

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