♪ OBITUÁRIO – Ao morrer por volta das 23h30 de ontem, aos 77 anos, vítima de parada cardíaca sofrida em decorrência de complicações de pneumonia, João de Aquino Monteiro (23 de julho de 1945 – 28 de setembro de 2022) fica eternizado como um dos grandes violonistas da música brasileira.
João de Aquino foi um músico tão expressivo que conseguiu fazer o próprio nome sendo primo de gênio inigualável do violão, Baden Powell (1937 – 2000). Contudo, João de Aquino foi também compositor, arranjador e produtor musical, tendo dado forma, por exemplo, ao álbum Axé! Gente amiga do samba (1978), obra-prima do bamba Candeia (1935 – 1978).
Para legitimar o compositor, basta dizer que saiu da inspiração de Aquino, ainda na adolescência, a belíssima melodia de Viagem (1972), música letrada por Paulo César Pinheiro, apresentada ao Brasil há 50 anos – em single da cantora Marisa Gata Mansa (1933 – 2003) – e desde então regravada por intérpretes do porte de Cida Moreira, Emilio Santiago (1946 – 2013), Nelson Gonçalves (1919 – 1998) e Selma Reis (1958 – 2015).
Com Paulo César Pinheiro, Aquino também compôs Sagarana (1969), tema que inspirou Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) a seguir a trilha do grande sertão que deu em Matita Perê (1973).
Além de ter tocado com grandes nomes da música brasileira, o violonista construiu a própria discografia, gravando álbuns como Violão viageiro (1974), Terreiro grande (1978), Asfalto (1980), Patuá (1991), Carta marcada (1994) e Sabor (2002).
O último título dessa pouco ouvida obra fonográfica, Elza Soares & João de Aquino (2021), foi lançado em dezembro, com o registro de sessão de estúdio feita pelo violonista com a cantora Elza Soares (1930 – 2022), presumivelmente em 1996, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).
O repertório incluiu Canário da terra (1996), parceria de Aquino com Aldir Blanc (1946 – 2020). A total interação entre o violão de Aquino e a voz da cantora era fruto da maestria desse instrumentista criado em ambiente musical e que, aos 10 anos, já era aluno de Jayme Florence (1909 – 1982), o grande violonista conhecido como Meira.
De aluno, João de Aquino logo se tornou um mestre com o toque do violão orixá que reverberou a ascendência africana da música do Brasil, sobretudo no disco Terreiro grande. A viagem do artista foi bela e proveitosa.
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