♪ OBITUÁRIO – Todo jornalista e crítico musical atuante no Brasil tem dívida impagável com Jairo Severiano (20 de janeiro de 1927 – 27 de agosto de 2022), o maior pesquisador e historiador musical deste país tão rico em sons, compositores, instrumentistas, vozes e ritmos.
Ocorrida há quase um mês, mas noticiada somente em 21 de setembro nas redes sociais do também pesquisador musical Rodrigo Faour, discípulo assumido do mestre, a morte de Jairo Severiano, aos 95 anos, tinha que ter sido amplificada na mídia no mesmo volume da saída de cena de Zuza Homem de Mello (1933 – 2020) – com quem, aliás, Jairo escreveu os dois volumes do livro A canção no tempo (1997 / 1998) – 85 anos de músicas brasileiras, lançado originalmente há 25 anos e reposto no mercado em 2016, em edição ampliada.
Trabalhos referenciais na área da musicografia, esses dois volumes são fundamentais para se entender a gênese da música do Brasil, também contada (muito bem) por Jairo em outros livros de caráter enciclopédico como Uma história da música popular brasileira – Das origens à modernidade (2008).
Cearense nascido em Fortaleza (CE), Jairo Severiano fez história no Rio de Janeiro (RJ), cidade para onde migrou em 1950, após ter passado 23 anos entre a a Fortaleza natal (CE) e o Recife (PE). Foi no Rio que o pesquisador morreu de causas não reveladas, tendo vivido os últimos anos sozinho em apartamento na cidade, aos cuidados de enfermeira.
A obra de Jairo Severiano justifica a expressão-já-clichê legado inestimável. Basta citar a edição, em 1982, do livro Discografia Brasileira – 78 RPM – 1902 / 1964 (Funarte) – fruto de incansável pesquisa feita pelo historiador entre 1968 e 1979 com o intuito de inventariar e documentar dados sobre os primórdios da produção fonográfica brasileira – para se ter ideia da importância capital de Jairo Severiano na pesquisa musical do Brasil.
Biógrafo do compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 – 2006), devidamente dimensionado no livro Yes, nós temos Braguinha (1987), Jairo Severiano também produziu discos de caráter documental de gênios como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Dorival Caymmi (1914 – 2008).
A despeito dessa obra monumental, Jairo Severiano era também reconhecido pela simplicidade e generosidade com todos que o procuravam em busca de referências e dados confiáveis sobre a evolução da música brasileira.
Jairo Severiano fez diferença, fez história e já faz falta.
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