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Jack White faz show no Popload Festival em São Paulo com turnê de álbum ‘punk metal’ | Música

Jack White toca nesta quarta-feira (12) no Popload Festival, em São Paulo, após lançar seu álbum mais próximo do heavy metal.

“Fear of the dawn”, quarto e mais pesado álbum solo do ex-líder dos White Stripes é cheio de raiva e sentimentos intensos. “Talvez seja o resultado de dois anos preso em casa sem poder fazer shows”, ele disse ao podcast ao g1 ouviu. Escute abaixo:

O guitarrista define o álbum como “punk metal”, “garage rock metal”, ou “heavy metal” mesmo. Ele cita Deep Purple e Black Sabbath como referências. Ele veio junto com o álbum “Entering heaven alive”, um contraponto mais calmo, lançado em dobradinha.

“Fear of the dawn” também é cheio de efeitos, edição eletrônica e muitos elementos além de metal – incluindo um pequeno toque de samba – e Jack White tem muito mais a falar ao podcast g1 ouviu. No campo brasileiro, ele exalta os Mutantes: “É como se Velvet Underground e Beatles fossem de férias ao Brasil”.

O guitarrista comemora a demanda renovada por rock, seja em meios analógicos ou digitais: dos vinis ao TikTok.

Quando chegou a pandemia, o maior guitar hero do século 21 foi para o estúdio em Nashville, no estado americano do Tenessee, e agora sai de lá com o pesado “Fear of the Down”. Sai também com um sucessor pronto: “Entering Heaven Alive”, com canções mais calminhas, previsto para 22 de julho.

O fato de “Fear of the dawn” ser o quarto álbum solo do músico de 46 anos pode dar uma impressão errada de sua alta produtividade. Nos últimos vinte anos, foram três álbuns com o Dead Weather, banda com a Allison Moshart e outros três com os Raconteurs, com Brendan Benson.

Mas foram os seis discos com os White Stripes, duo com a ex mulher, Meg White, que ajudaram a renovar o rock do início do século e os colocaram como o grande guitarrista dessa geração.

Jack White costuma ser um cara de poucas notas e poucas palavras. Ele é famoso e odeia o mundo das celebridades. Durante anos, deu entrevistas mentindo que era irmão da Meg White, só para não ter que falar sobre casamento.

Ele é dono da sua gravadora, a Third Man Records, e até da sua fábrica de vinil. Jack White também fabrica estofados – outro lado da sua personalidade excêntrica, de quem faz o que dá na telha.

‘Você ficou doido?’, ele pergunta para si mesmo

2 de 6 Jack White — Foto: David James Swanson

Jack White — Foto: David James Swanson

O plano de lançar dois discos em três meses deixaria qualquer executivo de gravadora indignado. “Mas eu tenho meu próprio selo e ninguém pode me impedir. Provavelmente alguém deveria dizer que essa não é uma boa ideia para os negócios”, ele admite.

“‘O que você está fazendo, Jack? Você ficou doido'”, ele imita o suposto executivo que deveria impedi-lo de lançar os dois discos em sequência. “Mas quando a gente tem a liberdade de ter sua gravadora e sua fábrica de discos, a gente pode ter essas ideias malucas”.

Em resumo, Jack White ficou milionário e comprou seu próprio passe. Ele virou um dos maiores defensores dos vinis na indústria fonográfica. Era mais por amor à música do que pelo dinheiro. Mas a aposta no vinil está paga.

No fim do ano passado, Ed Sheeran contou que quase não conseguiu lançar seu novo álbum em vinil porque Adele ia usar quase todas as fábricas disponíveis para fazer o seu disco “30”.

“Estou implorando às gravadoras para voltar a fazer fábricas de vinis, que eles não fazem desde os anos 70 ou 80. O vinil não é uma moda passageira. Tem uma demanda monstruosa. Além de ajudar a si mesmas e aos artistas, as gravadoras não gastariam muito e podem lucrar muito com isso”, defende Jack White.

Não confunda: ‘Fear of the down’ x ‘Fear of the dark’

3 de 6 Até o designer da capa de ‘Fear of the dawn’, de Jack White, parece ter dado um toque ao fundo com referência a ‘Fear of the dark’, do Iron Maiden. Mas o guitarrista diz que conhece pouco do Iron e que nem conhecia a música — Foto: Divulgação

Até o designer da capa de ‘Fear of the dawn’, de Jack White, parece ter dado um toque ao fundo com referência a ‘Fear of the dark’, do Iron Maiden. Mas o guitarrista diz que conhece pouco do Iron e que nem conhecia a música — Foto: Divulgação

O conteúdo de “Fear of the dawn” remete, em parte, à época em que não faltava vinil no mercado: os anos 70 e 80. “Talvez seja heavy metal, ou punk metal, ou ‘garage rock metal’. É alguma coisa definitivamente pesada, intensa e que foi muito boa de fazer.”

“Tenho sorte de ter nascido nos anos 70 e ter irmãos mais velhos que escutavam muito rock e country. Então fui influenciado de Hank Williams a Deep Purple e Ramones”.

Quando ele fala das influências de rock pesado, vem a curiosidade sobre a possível referência ao título de “Fear of the dark” do Iron Maiden” em “Fear of the dawn”. Até as capas têm um fundo semelhante.

“Eu tenho que admitir minha ignorância sobre o Iron Maiden. Ouvi pouco. Dessas bandas de metal, quando era mais novo, gostava de Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Rainbow e Richie Blackmore. Não cheguei a coisas como Judas Priest, Iron Maiden e Megadeth. Ele até gostava de Metallica no colégio. Mas eu gosto sempre que ouço algo do Iron Maiden.”

O g1 insiste na pergunta, só para confirmar se não era uma referência ao nome de “Fear of the dark”. “Tenho que ouvir essa (música)”, responde Jack.

Mesmo sem a referência, o trocadilho “fear of the dawn” (medo do amanhecer, em vez de medo do escuro), faz muito sentido no disco. A experiência de sair da quarentena, trancado em casa, e ficar assustado com o exterior iluminado está na faixa-título e em “Eosophobia” (que significa medo da luz).

‘Experimental e perigoso’

4 de 6 Imagem de divulgação de ‘Fear of the dawn’, de Jack White — Foto: Divulgação

Imagem de divulgação de ‘Fear of the dawn’, de Jack White — Foto: Divulgação

“Fear of the dawn” não é só metal. Há os toques de sempre de blues e country, algo de psicodélico, rap, jazz, reggae…. O que amarra tudo isso são os efeitos, principalmente de guitarra, com edição eletrônica – uma novidade em seu universo analógico.

Ele diz que não gostava deste tipo de efeito quando era mais novo. “Eu sabia exatamente o que queria tirar das minhas mãos.” Mas depois que envelheceu, começou a curtir mais coisas “experimentais e perigosas”.

“É como mexer com brinquedos, que antes eu não achava que iam dar bons resultados, mas agora acho interessantes e podem me levar para novas direções.”

Jack White parece ser um artista controlador, e a resposta anterior indica o sentimento de liberdade do disco. Ele parece passar por uma fase em que abraça o imprevisível – inclusive ao olhar sua carreira e seu principal sucesso em retrospecto.

“Já lancei coisas que achei que as pessoas iam amar e quando, tocava, não tinha reação nenhuma. Dava pra ouvir os grilos cantando”, ele brinca. “Nunca soube o que ia acontecer.”

“Não tinha ninguém no estúdio quando fizemos ‘Seven Nation Army’ dizendo: “Nossa, eu consigo ver essa música sendo tocada em estádios de futebol’. Ninguém tem uma bola de cristal. Você tem que ir sentindo a resposta das pessoas. A multidão decide.”

Os ‘corpos nus’ dos Mutantes

5 de 6 Jack White comanda show dos Raconteurs no Popload Festival 2019 — Foto: Fábio Tito/G1

Jack White comanda show dos Raconteurs no Popload Festival 2019 — Foto: Fábio Tito/G1

Por falar no imprevisível, no meio do disco novo há uma bateria com mistura de samba e jazz. O batuque está na faixa “Eosophobia (reprise)”. “A gente estava experimentando com a música, aí ficava um pouco reggae, depois um pouco samba, depois um pouco rock. Tivemos tantas ideias que achamos legal mostrar.”

E o que Jack gosta na música brasileira? “Claro que é Os Mutantes. Não passamos um mês nessa casa em que não ouvimos Os Mutantes”, ele elogia.

“Eles fazem uma coisa global. Não entendo português, mas amo o jeito que eles cantam. Parece que o Velvet Underground e os Beatles foram tirar férias no Brasil e gravaram vários discos juntos. É uma banda com um som lindo.”

Jack White canta um trecho da música “Ave Lúcifer”, dos Mutantes. Ele pergunta o que significam as palavras “corpos nus”, e morre de rir da resposta.

6 de 6 O cantor Jack White fez um dos shows de encerramento do Lollapalooza 2012, em Chicago, neste domingo (5) — Foto: Sitthixay Ditthavong/Invision/AP

O cantor Jack White fez um dos shows de encerramento do Lollapalooza 2012, em Chicago, neste domingo (5) — Foto: Sitthixay Ditthavong/Invision/AP

O guitarrista vive sem telefone celular, mas não está desligado do mundo. Jack diz que acompanha – e aprova totalmente – a descoberta do rock por fãs novinhos no TikTok.

“Acho ótimo, muito legal que as pessoas se liguem em música de qualquer jeito. Seja indo a uma biblioteca 50 anos atrás, ou com uma mensagem com um pedaço de uma música nesses apps tipo TikTok, YouTube, o que for. Sempre vai ser bom alguém se ligar em arte ou música de um jeito novo.”

Após implorar às gravadoras para investir em vinil, ele termina o papo com outro apelo: “Por favor, deixem os adolescentes se inspirarem a formar bandas, escrever álbuns, fazer músicas e gravar nas suas garagens ou seus quartos as canções que eles fizerem. Do jeito que for, sou sempre a favor”.

Fonte

MicroGmx

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