A oitava edição Popload Festival, nesta quarta-feira (12), em São Paulo, foi uma festa de indies veteranos – uma espécie de Lollapalooza para o público “30+”. Pixies e Jack White foram as atrações principais do evento no Centro Esportivo Tietê, com 14,5 mil fãs, segundo a organização.
O foco nos artistas mais experientes ficou um pouco mais forte por acidente, já que a britânica Years and Years, que seria a atração mais atual, cancelou de última hora. Ela foi substituída pelos (também veteranos) brasileiros da Fresno, com participação da Pitty.
O Centro Esportivo Tietê foi um bom achado para eventos deste porte – região central, de fácil acesso, e com espaço de sobra. As filas grandes para caixas, comida, bebida e banheiro foram o principal ponto negativo – ainda mais se for para cativar esse público um pouco mais velho.
Antes do show de encerramento, o público já parecia cansado ou disperso quando os Pixies entraram no palco. Bastaram os primeiros acordes de “Gouge Away” para chamar a plateia guerreira de volta para o festival.
Direto e sem intervalo, nem mesmo para um “boa noite” ou “obrigado” (nada de novo em uma apresentação da banda), com pouco mais de 20 músicas, os Pixies animaram aquilo que poderia ser o fim de uma festa. E é impressionante como eles conseguem fazer isso. Os integrantes não precisavam pedir (nem iam pedir) para a galera fazer uma coisa ou outra, cantar junto, nada disso. Todo mundo estava ligado, seja para fazer as batidas da bateria no ar ou acompanhar os riffs das guitarras ou pular junto da música.
Teve espaço para duas versões de “Wave of Mutilation”, “Caribou”, “Vamos”, Paz Lenchantin, baixista que substituiu Kim Deal, fez uma boa perfomance em “Gigantic”. Em “Hey”, Black Francis quase deu a entender que conversaria com a plateia, mas era só o começo da música. “Mr. Grieves” manteve a temperatura no alto.
A banda apresentou ainda faixas do novo álbum, “Doggerel”, “Vault of heaven” e “There’s a moon”, que foram recebidas de forma um pouco mais fria. Ou talvez seja porque a recepção dos clássicos do grupo tenha sido calorosa demais: a plateia vibrou com “Debaser”, veio abaixo (com os celulares para cima no modo filmadora) com “Here comes your man” e fez coro em “Where is my mind”, a penúltima do set.
O final foi com o cover “Winterlong”, de Neil Young. A música soou como uma despedia desanimada para o momento (seria esta a intenção?). Em vez do “Obrigado”, o grupo escolheu abaixar a cabeça em reverência à plateia. Em silêncio mesmo. Pixies chegaram, tocaram e foram embora.
Jack White se apresenta no Popload Festival 2022 — Foto: Camila Cara/Divulgação
Jack White fez o penúltimo e melhor show do Popload. O guitarrista de 47 anos está em fase vibrante e criativa – tanto que lançou dois álbuns em 2022, o pesado “Fear of the Dawn” e o suave “Entering heaven alive”. O primeiro domina o setlist, que ignora algumas canções mais conhecidas dos White Stripes.
O trabalho mais recente tem dois pontos interessantes: elementos eletrônicos inéditos na carreira dele e arranjos entre o heavy metal e o funk, que fazem Jack White soar como Tom Morello, do Rage Against the Machine. No palco, a eletrônica é esquecida e a vontade de fazer heavy metal com groove sobressai.
Sempre bicolor, ele trocou o vermelho e branco da antiga banda pelo azul e preto, que dominam todos os elementos do palco, inclusive uma jaqueta do Brasil com a qual ele começa o show.
Ele começa o show com a ótima “Taking me back”, de “Fear of the dawn”, emendada com “Dead leaves and the dirty ground”, dos White Stripes. A conexão entre Jack e o baterista Daru Jones é incrível. Às vezes só para ver e admirar, nas músicas menos conhecidas, e em outras para fazer coro, como nos sucessos “Steady as she goes”, dos Raconteurs, e na obrigatória “Seven Nation Army”.
Cat Power se apresenta no Popload Festival 2022 — Foto: Camila Cara/Divulgação
Cat Power fez um show bonito no lugar errado. Deu vontade de ver em uma casa pequena suas versões intimistas, que superam no repertório suas próprias composições (até porque ela está na turnê do seu terceiro álbum de covers, lançado em janeiro).
A graça é ver a cantora mudar quase tudo em músicas como “Bad Religion”, de Frank Ocean, e “White Mustang”, de Lana del Rey – e, de quebra, alterar até os próprios sucessos, ao estilo Bob Dylan, como a arrebatadora “The Greatest”. Longe de um show fácil de festival.
Ela parece estar sempre no seu mundinho, carinhosa com o público, mas sem ligar para o que se espera dela. Ela parece enxugar as lágrimas no final da releitura (ainda mais) emotiva de Frank Ocean, depois ri sozinha durante “New York, New York”, emendada com a sua “Manhattan” – tudo intenso sem precisar levantar a voz.
No fim, a cantora conhecida por shows imprevisíveis passa pelo palco arrancando os papéis com os setlists dos músicos para dar para os fãs da grade. Um show fofo e até normal para o histórico dela.
Chet Faker se apresenta no Popload Festival 2022 — Foto: Camila Cara/Divulgação
A chuva forte que tomou conta no intervalo entre as apresentações da Cat Power e Chet Faker já tinha dado uma trégua quando o músico entrou no palco.
O australiano levou o show sozinho, apenas com o seu teclado e sintetizador, à vontade. De calça e camiseta de tecidos leves, slippers nos pés e um sobretudo longo poderia ser usado como um roupão de colocar em cima dos joelhos, ele parecia curtir a vibe de feriado no meio da semana com um clima agradável.
Isso não significa que o cara não levantou o público – pelo contrário. No início, a dobradinha “So long so lonely” e “1998” chamou a galera para frente do palco. As passagens de faixas eram feitas, na maioria das vezes, com improvisos de batidas eletrônicas— para não deixar a bola cair. “Drop the game”, feita com o DJ Flume, despertou os baladeiros de plantão que conseguiram dançar no meio da plateia.
Com um ou outro “obrigado”, em português mesmo, talvez Chet Faker não esperasse que a turma cantasse (e vibrasse) com a sequencia bonita de “No diggity”, “Gold”, “Talk is cheap” e “Low”, que encerrou a apresentação em clima de fim de tarde de primavera (sem chuva).
Mais cedo, se apresentaram o Fresno com participação de Pitty, a banda argentina Perotá Chingó e a cantora brasileira Jup do Bairro.
Fresno se apresenta no Popload Festival 2022 — Foto: Camila Cara/Divulgação