‘Império da Luz’ mistura cinema e relações sociais em filme bonito, porém superficial; g1 já viu | Cinema

Quando foram divulgadas as primeiras imagens de “Império da Luz” (veja abaixo o trailer), ficou a impressão de que o novo filme de Sam Mendes, lançado três anos após “1917”, seria focado na magia do cinema e como ela é construída nas salas de projeção, como o clássico “Cinema Paradiso”. Não é bem assim.

O longa que abre o Festival do Rio 2022 nesta quinta-feira (6) e ainda não tem data de lançamento definida no Brasil, realmente mostra o encanto dos filmes e seu impacto nas pessoas que trabalham em cinemas. Porém, isso é só uma pequena parte do que o cineasta vencedor do Oscar por “Beleza Americana” quer discutir em seu novo trabalho.

Assista ao trailer do filme “Império da Luz”

Assim, o diretor (também autor do roteiro) ambienta sua história na cidade costeira da Inglaterra, onde vive Hilary Smalls (Olivia Colman, vencedora do Oscar por “A Favorita”), gerente do cinema Empire. Sua vida é basicamente da casa para o trabalho, sem muita emoção e, para piorar, tem um caso mal resolvido com seu chefe, o Sr. Ellis (Colin Firth, vencedor do Oscar por “O Discurso do Rei”).

Até que, um dia, chega ao cinema um novo funcionário, Stephen (Michael Ward, vencedor do Bafta por “Small Axe”, disponível no Globoplay). Logo, Hilary e o jovem se tornam amigos e a relação vai se tornando cada vez mais íntima. Mas alguns problemas do passado dela e o turbilhão de coisas que acontecem no país acaba por estremecer a vida dos dois.

Toby Jones e Michael Ward numa cena do filme “Império da Luz”, de Sam Mendes — Foto: Divulgação

“Império da Luz” já chama a atenção por sua incrível parte técnica, assinada boa parte por colaboradores habituais do diretor. Um bom exemplo é a belíssima fotografia assinada por Roger Deakins (que venceu o Oscar na categoria por “1917”), que dá um tom mais seco no início do filme, para enfatizar a vida sem graça da protagonista. Ela vai aos poucos ganhando cor à medida que vai saindo da rotina.

Além disso, Deakins cria boas sequências, como na cena em que os personagens veem os fogos da festa de ano novo ou quando mostra como os filmes são exibidos no cinema. As imagens ressaltam a boa qualidade do projeto e podem ser lembradas em premiações de 2023.

Outro destaque vai para a boa trilha sonora assinada por Trent Reznor e Atticus Ross (dupla vencedora dos Oscars de Melhor Trilha Sonora por “A rede social” e “Soul”), que trabalham com Mendes pela primeira vez. A música criada por eles dá o tom singelo e dramático que o filme exige, sem maiores exageros.

Cena do filme “Império da Luz”, de Sam Mendes — Foto: Divulgação

O filme também mostra que Sam Mendes, que assina sozinho o roteiro pela primeira vez, ainda é melhor diretor do que roteirista. O cineasta de “007 – Operação Skyfall” ainda se mostra muito bom para conduzir seu elenco e conseguir extrair a emoção certa de seus atores. Porém, não consegue manter o nível como escritor.

Isso acontece porque Mendes quer tratar de diversos assuntos, como solidão, melancolia, racismo, machismo, entre outros temas de uma vez só e não obtém maior aprofundamento. Tudo fica bem superficial e não dá para o espectador refletir muito sobre o que está acontecendo na telona.

Pelo menos, a relação entre Hilary e Stephen, a mola mestra do filme, não é tão maniqueísta como costuma ser quando tem que mostrar relacionamentos entre pessoas de etnias diferentes, sejam românticos ou de amizades (tipo “Green Book: O Guia”). O longa mostra como um muda a vida do outro, sem forçar a barra e com soluções mais convincentes.

Hilary (Olivia Colman) e Stephen (Michael Ward) numa cena do filme “Império da Luz” — Foto: Divulgação

Aliás, um dos maiores méritos de “Império da Luz” é justamente a boa escolha da dupla de protagonistas. Olivia Colman continua a roubar cenas com grande talento e convence ao mostrar a complexidade de sua Hilary, que se mostra sensata em alguns momentos para, logo em seguida, ter um comportamento instável graças a seus traumas.

Já o pouco conhecido Michael Ward não se intimida diante da premiada atriz de “Meu pai” e comprova seu brilho em cena, seja nos momentos mais descontraídos, seja nas sequências mais densas. Além de Coleman, o ator faz uma boa parceria com Toby Jones (o Armin Zola dos filmes do Capitão América), que interpreta o projecionista Norman, responsável pelos momentos mais poéticos do filme.

Colin Firth e Michael Ward trabalham juntos num cinema no filme “Império da Luz” — Foto: Divulgação

Quanto a Colin Firth, sua performance está adequada a seu personagem de caráter duvidoso e está bem funcional numa cena crucial do filme. Mas não chega a se destacar tanto quanto a Colman e Ward. Até porque seu personagem não tem tanto destaque na trama. O restante do elenco está satisfatório.

“Império da luz”, no final das contas, consegue seu objetivo de emocionar o público, ainda mais para quem ama assistir a um filme numa tela grande. Mas faltou um pouco mais de cuidado ao contar sua história. Não chega a ser o melhor longa da carreira de Sam Mendes, porém vale o ingresso. Afinal, assistir filmes no escurinho do cinema ainda mantém todo o seu encanto.

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