Houve pouca variação em relação à edição anterior, de 2019, mas isso não significa que não houve perdas na aprendizagem na pandemia ou que as desigualdades regionais não se acentuaram no período.
Os novos dados, coletados em 2021 , devem ser interpretados com muita cautela para não levarem a conclusões enganosas. São números distorcidos, explicam especialistas ouvidos pelo g1: foram colhidos em condições que acabaram “mascarando”, de forma não intencional, o verdadeiro retrato da educação brasileira na pandemia (veja mais abaixo).
Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, justamente na etapa em que as crianças enfrentaram dificuldades nos processos de alfabetização à distância, o Ideb nacional foi de 5,8 (uma flutuação muito discreta em relação aos 5,9 de antes da pandemia).
Nos anos finais do ensino fundamental, a variação também foi pequena (de 4,9 para 5,1), e no ensino médio, o Ideb ficou estacionado em 4,2 — mais uma vez, evidenciando que os números não indicam necessariamente o que aconteceu com o desempenho dos alunos neste período.
“A comparação entre os resultados deve ser evitada”, afirma Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Mas por que os dados podem dar essa impressão “enganosa” de que não houve retrocessos na educação?
Primeiramente, é preciso saber como o Ideb é calculado. Em uma escala de 1 a 10, ele cruza duas informações:
Só que, neste ano, esses dois “ingredientes” foram comprometidos, porque:
Na coletiva de imprensa, Victor Godoy Veiga, ministro da Educação, afirmou que estratégias adotadas pelo governo federal, juntamente aos estados e municípios, pretendem levar a uma educação de qualidade, reparando as perdas de aprendizagem decorrentes da pandemia.
O índice é divulgado a cada dois anos, em várias escalas: nacional (em cada etapa escolar), por rede (dos municípios e dos estados) e por escola.
O Inep sempre define metas individuais e gerais, levando em conta o contexto de cada região. Confira abaixo os resultados das últimas edições:
As metas traçadas inicialmente para 2021 não serão consideradas, por causa da pandemia e de todos os fatores que alteraram (não intencionalmente) os cálculos.
Na pandemia, por recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE), algumas redes adotaram a política de não reprovar ninguém. No caso delas, a taxa de aprovação será, portanto, de 100% (todo mundo passou de ano).
Consequentemente, o Ideb aumentará de forma artificial em relação à série histórica, sem necessariamente indicar uma melhora na educação.
“Outras redes não seguiram a mesma conduta [de aprovar todos], porque já tinham retomado as aulas presenciais. Fica, portanto, mais complicado fazer uma comparação entre estados ou de um ano para o outro”, explica Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação.
Vitor de Angelo, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), reforça que essas distorções não são intencionais, mas “sujam as amostras estatisticamente”.
“Estados que reabriram as escolas mais cedo, como Pernambuco, São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo, já haviam voltado ao normal nas práticas de reter alunos. As taxas de aprovação deles vão puxar o Ideb para baixo. Não dá para compará-los com aqueles que tiveram aprovação automática”, diz.
Outro fator que interfere no Ideb 2021 é a quantidade de alunos que prestaram o Saeb.
O Inep já divulgou que, na média nacional, 71,3% dos alunos-alvo fizeram a prova em 2021 – em 2019, a taxa foi de 80,99%.
Quando a prova foi aplicada, em novembro e dezembro do ano passado, muitas escolas ainda não haviam voltado para o formato 100% presencial. Provavelmente, no caso delas, a adesão ao exame foi menor do que a registrada nos colégios que já estavam funcionando normalmente.
Roraima, por exemplo, não teve nenhum município atendendo aos critérios mínimos (50% de adesão ao Saeb) no ensino médio. Há 2 anos, 93% haviam feito a prova. Mato Grosso (18%), Rio Grande do Norte (23%) e Bahia (28%) também não atingiram o patamar necessário para entrar nos cálculos nacionais.
“É complicado comparar uma rede em que 95% dos alunos fizeram a prova com outra em que 50% prestaram o exame. Aqueles alunos que não compareceram tendem a ser os que estavam em maior vulnerabilidade, afastados da escola. Mesmo que de forma não proposital, isso seleciona os alunos participantes e interfere na nota”, explica Gabriel Corrêa.
Ele afirma que, em contextos pré-pandêmicos, os estados registravam porcentagens parecidas de participação, o que facilitava as comparações. Não é o caso de 2021.
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