No final dos anos 2000, duas cantoras e DJs suecas de vinte e poucos anos se juntaram com um objetivo claro: fazer uma trilha para todo mundo se divertir. Inclusive elas. O maior hit da dupla Icona Pop veio em 2012: “I love it”, primeiro lugar na parada britânica e top 10 em mais de 20 países, incluindo Estados Unidos.
Dez anos depois, Caroline Hjelt (34 anos) e Aino Jawo (36) seguem tocando e lançando músicas. “Quando começamos tudo era baseado em puro sentimento, emoção, amizade e energia e isso ainda é algo que não mudou”, conta Caroline ao g1 (veja entrevista no vídeo acima).
Na série “Quando eu hitei”, artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”. Leia mais textos da série e veja vídeos ao final desta reportagem.
Aino Jawo e Caroline Hjelt, do Icona Pop, posam grávidas — Foto: Divulgação/Facebook da banda
O que mudou foi o tamanho da família Icona Pop. Caroline tem uma filha de um ano e Aino tem um filho de cinco. Ou seja, as festas antes eram em boates e agora elas têm festinhas com docinhos, bolo da “Patrulha Canina”, decoração da “Ladybug”. Mas elas ainda são baladeiras.
“Eu e Caroline ainda gostamos de festa”, garante Aino. “Não queremos esconder isso e acho que faz parte de um estilo de vida, mas é claro que você encontra coisas que são mais importantes do que festas. Você se diverte por outros motivos, talvez não porque seu coração está partido, mas talvez porque você ama dance music.”
Caroline concorda que elas hoje fazem “outro tipo de festa”. “Você definitivamente tem outras prioridades, mas eu sinto que nunca conversamos tanto sobre sair e festejar, por termos bebês.”
“Conforme você envelhece, você celebra coisas diferentes. É até bom não ficar sempre deprimida… Estamos em uma boa fase. Então, é muito bom dançar e celebrar a vida com os amigos.”
O duo sueco Icona Pop — Foto: Divulgação/Warner Music
Não foi tão fácil assim falar com elas. A entrevista com o g1 teve que ser adiada duas vezes, minutos antes de acontecer, por causa de emergências com a filha de Caroline. Não foi nada sério, a neném está bem… Além de remarcações corriqueiras, como a maternidade afeta a carreira e a vida?
“Você sabe quando as pessoas sempre diziam que você deveria tentar dormir o máximo que pudesse agora, porque quando você tiver um bebê, você não será capaz de dormir e blablablá… Eles sempre nos dizem as coisas negativas sobre ter um bebê, mas é a coisa mais legal que já aconteceu na minha vida”, atesta Caroline.
“Você meio que tem que se ver em segunda perspectiva, o que eu acho que é uma coisa muito saudável, especialmente para um artista. Você é como um bebê grande e agora você meio que não está no pedestal. Você tem que se rebaixar.”
“É tão difícil de descrever, mas eu sinto que estou tão perto dos meus sentimentos e não tenho tempo para qualquer besteira. Então, se precisamos fazer as coisas, nós fazemos e você quer chegar em casa para o seu bebê.”
Aino Jawo e Caroline Hjelt, da dupla Icona Pop, no começo da carreira e em foto após a fama — Foto: Reprodução/Facebook das artistas
A ideia de “I love it” era fazer uma música bem rasgada, quase punk dançante. “Estávamos no estúdio, tudo certo… e o Patrick Berger tocou uma faixa que nós gostamos”, recorda Aino. Patrick é mais conhecido pelo trabalho com outra cantora sueca, Robyn, com quem compôs músicas como “Dancing On My Own”.
“Patrick é louco, no bom sentido. Ele é selvagem, você pode ver que ele vem do punk e é isso que nós amamos nele. Normalmente, quando você entra no estúdio, as pessoas tendem a trabalhar apenas no Logic [software de áudio] ou outro desses ‘programas de produtores’. Patrick pode tocar todos os instrumentos e então ele gosta de misturar os instrumentos. Tudo soa muito, muito diferente do som captado originalmente.”
Quando o produtor apresentou “I love it” a elas, as duas se apaixonaram na hora pela primeira versão, bem diferente. Basicamente, era outra faixa. Tem um vídeo da Charli XCX, a principal compositora da música, mostrando essa versão inicial de 2011 (ouça no vídeo do topo).
“A gente disse que queria experimentar um pouco. E assim que fizemos os vocais, gravamos juntas como sempre fazemos, mas uma vez que fizemos os vocais, sentimos que a produção precisava ser um pouco mais punk e áspera, porque estava bem polida”, lembra Aino.
Icona Pop e Charli XCX, que cantam juntas ‘I love it’ — Foto: Reprodução/Rede social das cantoras
Charli XCX nasceu em 1992, mas Caroline e Aino são dos anos 80. Mesmo assim, consideram-se uma “bitch dos anos 90”, como cantam na música. “A gente não diz que nasceu nos anos 90, nos tornamos humanas nos anos 90. Todas as músicas dos anos 90, o R&B, todas essas coisas que você conhece, as músicas dançantes dos anos 90”, explica Aino.
“Quando eu penso em quando eu era criança, é disso que eu me lembro. Não dos anos 80. Não tenho nada a ver com os anos oitenta, até porque éramos bebês. Toda nossa inspiração veio dos anos 90. Somos ‘bitches’ dos anos 90! E você é também é uma ‘bitch’ dos anos 90 também… você sabe disso”, provoca Caroline apontando para o repórter do g1, rindo.
Toda “bitch” dos anos 90 que se preze via a série “Girls”, estrelada e escrita por Lena Duhnan, na HBO. Foi a partir de uma cena em com “I love it”, em 2013, um ano após a música ser lançada, que o Icona Pop estourou de vez (veja a cena no vídeo do topo).
“Foi um grande momento para nós e para a música, porque ouvimos alguns rumores que a música estaria em ‘Girls’, mas não sabíamos que elas iriam tipo cantar e que seria uma cena tão épica. Eu me lembro que estávamos na Suécia e começamos a ver muitos tuítes e gente falando nas redes sociais sobre isso. Então foi aí que percebemos tipo ‘Oh uau!’.”
O duo sueco Icona Pop — Foto: Divulgação/Warner Music
De Abba, Roxette e Ace of Base até Icona Pop, a Suécia tem tradição de fazer uma música pop meio melancólica, com temas além dos temas básicos alegria e amor. Como é crescer em um país com essa tradição?
“É algo sobre o qual você não pensa direito quando está crescendo, porque você está aqui e vive aqui. Mas uma vez que você começa a viajar e começa a escrever música em outros lugares, é aí que você percebe que ‘Oh, a Suécia é bem dark!'”, constata Caroline.
Elas também reconhecem nos sons suecos “um monte de melodias que são tão antigas e tradicionais”. “É como música viking”, diz Aino, rindo e imitando um viking marchando. “Às vezes, ela soa como o pop atual sueco. Eu adoro esse mix de pop ensolarado, mas com uma profundidade que só existe na Suécia.”
O duo sueco Icona Pop — Foto: Divulgação/Warner Music
Para Hjelt, o melhor tipo de música “é aquele que você pode dançar e chorar ao mesmo tempo”. “As melhores músicas são aquelas que quando você está feliz, você fica mais feliz. E se você está triste, então você pode chorar… você pode encontrar conforto nisso e você pode ficar ainda mais triste, porque às vezes quando você está triste, você só quer ficar ainda mais triste.”
O Icona Pop abriu shows de vários artistas do pop, como One Direction, Katy Perry e Miley Cyrus. “Foi tão divertido, principalmente a turnê da Miley Cyrus nos Estados Unidos, que foi algo louco. Era como um ‘match’ perfeito… eu sinto tanta falta”, comenta Caroline.
“É até meio difícil falar sobre isso, porque eu sinto que só quero pular em um ônibus de turnê e sair tocando. Eu nunca mais vou reclamar sobre segurança pedindo crachá ou acordar de manhã cedo tipo sem dormir. Eu quero fazer tudo isso de novo, por favor. Eu só quero sair em uma turnê de novo.”
Aino Jawo e Caroline Hjelt, da dupla Icona Pop, em novembro de 2014, em São Paulo — Foto: Celso Tavares/g1
Elas também lembram com carinho do Brasil, onde tocaram em 2014. Depois dessa vinda, seguiram lançando músicas, algumas com uma pegada diferente, um pouco menos frenéticas como “Emergency”, um electro swing de 2015. Outras trouxeram de volta a vibe carpe diem de “I love it”, ao mesmo tempo dançante e reflexiva, como “Feels in my Body”, de 2020.
Em mais de dez anos de carreira, o machismo esgotou a paciência das duas. Uma vez, um executivo da música pediu que elas passassem a usar saltos não tão altos em eventos. Ele queria que elas não corressem o risco de ficarem bem mais altas do que os homens convidados. Pois é.
“Usamos saltos altos cada vez mais altos, quanto mais alto melhor”, diz Caroline. “A gente só foi escalando ano após ano. Acho que para nós tem sido assim: se alguém nos diz que não podemos fazer algo, é quase como um gatilho, porque ficamos tipo… ‘não devemos usar salto alto porque um homem pode se sentir desconfortável sendo mais baixo do que nós?’. Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Por que devemos mudar?”
Caroline Hjelt e Aino Jawo formam a dupla sueca Icona Pop — Foto: Divulgação/Warner Music
“Eu fico chocada, às vezes”, resume Aino. “Coisas assim não existem mais ao nosso redor, porque acho estabelecemos uma marca que as pessoas sabem o que defendemos. Mas eu me lembro de quando estávamos fazendo shows e as pessoas sempre nos perguntavam se realmente tocávamos. Só porque nós éramos garotas… Tipo como se tudo no show fosse apenas uma grande faixa e a gente mal estivesse apertando os botões.”
“Há um monte de coisas que você percebe agora que as pessoas não perguntam aos caras, mas sempre nos perguntavam. Queriam saber se a gente brigava! É legal ser tipo pioneiras, espero que o que fizemos talvez tenha ajudado outras garotas. Como qualquer outra pessoa, garotas podem tocar instrumentos eletrônicos. Isso é óbvio, qualquer idiota entende hoje, mas não era óbvio uns 10 anos atrás. Então, espero que a gente tenha feito algo de bom.”
O duo sueco Icona Pop — Foto: Divulgação/Warner Music
Na manhã de sábado, 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil,…
Certificado lista destinos em áreas costeiras que tiveram compromisso com a preservação ambiental e o…
Gisèle Pelicot abriu mão do anonimato para tornar público o julgamento de seu ex-marido e…
"Embora 99,999% dos usuários do Telegram não tenham nada a ver com crimes, os 0,001%…
Mesmo com o imposto de 100% sobre o valor dos veículos americanos, os carros elétricos…
A medida tem como objetivo garantir o direito ao voto para o eleitor. A restrição…