Hugh Jackman, astro de Wolverine, abre o jogo sobre depressão em set de filmagem


Ator contou à BBC que lutou contra ansiedade e insônia enquanto gravava seu novo filme, ‘Um Filho’. Ator Hugh Jackman em evento em Nova York 11/12/ 2012
Carlo Allegri/Reuters
O ator Hugh Jackman disse que estava “um caos” quando gravou seu último filme, Um Filho.
“Eu certamente percebi o quão vulnerável eu era”, explicou o astro de 54 anos.
No longa, ele interpreta um advogado de sucesso com um filho adolescente (Zen McGrath) do primeiro casamento que sofre de depressão.
Jackman contou à BBC que o tema do filme e o fato de voltar a atuar depois de não trabalhar durante os lockdowns impostos pela pandemia de covid-19 despertaram “ansiedade” nele.
E, para completar, seu pai morreu enquanto ele estava fazendo o filme.
“Na verdade, meu pai nunca perdeu um dia de trabalho na vida”, diz Jackman, explicando por que não tirou folga para viver o luto.
“Eu imaginei o que meu pai diria, e ele diria: ‘Vai trabalhar’.”
No entanto, fazer Um Filho foi difícil — e toda essa pressão teve um preço.
“Eu seria uma das pessoas menos [prováveis] que conheço que descreveria como um caos, mas eu certamente estava (um caos) durante isso.”
Jackman passou noites em claro com insônia enquanto fazia o papel de Peter, um workaholic com uma nova parceira, um bebê pequeno, uma ex-mulher e um filho adolescente problemático.
Ele diz que continua a consultar um terapeuta que o ajudou durante as filmagens.
Os produtores do filme também disponibilizaram psiquiatras no set, caso membros do elenco e da equipe precisassem falar sobre o conteúdo perturbador.
“Foi a primeira vez que vi algo assim em um filme”, ​​diz Jackman. “E as pessoas usaram, e foi necessário.”
Embora os coaches de intimidade tenham se tornado comuns quando cenas de sexo estão sendo gravadas, Jackman também defende o apoio à saúde mental.
“Há uma pequena parte antiquada do meu cérebro [que pensa]: ‘Bem, isso cabe a você resolver.’ Se você precisar ir ao médico, por qualquer motivo, seu pé, sua saúde mental, sei lá, você dá um jeito.”
“Mas acho que certamente seria um sinal do empregador de que nós entendemos que cuidar da pessoa como um todo, não apenas pagá-la, mas cuidar de seu bem-estar de todas as formas é muito, muito importante”.
Inspiração para outros
Hugh Jackman em cena de ‘O rei do show’
Divulgação
A See-Saw Films, que produziu Um Filho, trabalhou com a The Film and TV Charity, que desenvolveu um recurso gratuito para toda a indústria com o intuito de desestigmatizar problemas de saúde mental no cinema e na TV.
A pesquisa Looking Glass, realizada pela instituição beneficente em 2021, mostrou que nove em cada 10 pessoas que trabalham no setor tiveram problemas de saúde mental.
O Whole Picture Toolkit oferece orientação e conselhos sobre como apoiar a saúde mental e o bem-estar no set de filmagem, na pré e na pós-produção — e, até agora, o kit foi adotado por 35 produções.
Jackman diz que espera que Um Filho inspire conversas sobre questões de saúde mental “que são urgentemente necessárias”.
“Há uma verdadeira falta de conhecimento, ignorância e vergonha em torno do assunto, e acho que é algo que precisamos confrontar, muito, muito rapidamente”, diz ele.
O filme, que explora a paternidade ausente e os efeitos do divórcio nas crianças, assim como nos problemas de saúde mental dos adolescentes, é duro de assistir.
Enquanto o crítico Peter Bradshaw, do jornal britânico The Guardian, elogiou o “drama lindamente composto e didático”, nem todo mundo gostou de Um Filho, que estreou no Festival de Cinema de Veneza e vai chegar aos cinemas brasileiros em fevereiro.
David Rooney, da revista americana The Hollywood Reporter, disse que era “um filme deprimente sobre depressão”, enquanto Kevin Maher, do The Times, o classificou como “um recorte previsivelmente cansativo de valores familiares nonsense”.
No entanto, Jackman já recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator por seu papel no drama.
A indicação chega em um momento em que algumas pessoas estão questionando o futuro das categorias de atuação por gênero em cerimônias de premiação.
Jackman diz que é “totalmente a favor” de ter uma categoria de atuação de gênero neutro, na qual todos os artistas competem.
“Seria um passo realmente positivo. Não entendo por que está dividido em apenas dois gêneros, quando todos nós sabemos que é um espectro muito maior.”
Reconhecendo que “poderia ser um tiro no próprio pé”, já que suas próprias chances de ganhar seriam reduzidas à metade se houvesse uma única categoria de atuação não binária, em vez de categorias separadas de melhor ator e atriz, ele acrescenta:
“Seja qual for a combinação, nós talvez devêssemos simplesmente quebrar qualquer uma dessas categorias que acabam sendo divisivas e desnecessárias.”
Se o passado servir de referência, Jackman pode ter chance de levar para casa um prêmio nesta temporada. Um Filho foi coescrito e dirigido por Florian Zeller, que dirigiu o drama de 2020 Meu Pai, que rendeu a Anthony Hopkins seu segundo Oscar.
Hopkins, famoso por seus papéis em O Silêncio dos Inocentes, nas sequências de Thor e na série Westworld, faz uma participação em Um Filho.
E Jackman dá uma visão fascinante de como Hopkins continua a trabalhar depois de mais de seis décadas nas telonas.
“Ele gravou um dia. Ele passou seis meses enviando e-mails para o diretor Florian todos os dias. Florian me disse: ‘Recebi tantos e-mails sobre esta única cena no filme quanto recebi sobre Meu pai, em que ele está em todas as cenas’. Ele leva muito a sério.”
E essa abordagem meticulosa continuou no set de filmagem.
“Em determinado momento, ele quis refazer seu close de novo. E eu puxei Florian de lado e disse: ‘Mas o que ele fez foi tão incrível’.”
“E ele disse: ‘Ah, sim, tenho tudo de que preciso, mas acho que ele só sente falta de atuar. Ele não atuava há 18 meses. Acho que ele só sente falta, ele queria outra oportunidade’.”
Um Filho representa uma virada para Jackman, que interpretou Wolverine em nove filmes de sucesso — e está voltando para pelo menos mais um.
Ele também ficou conhecido por sua atuação em filmes musicais, incluindo Os Miseráveis e O Grande Showman, e na Broadway, onde atualmente estrela The Music Man.
Mas como ele escolhe os papéis?
“Estou sempre buscando coisas que nunca fiz antes, que me desafiem, que me assustem”, diz Jackman.
“E, a propósito, quando eu fiz Wolverine, sempre me assustou também. Também está a um milhão de milhas de distância de quem eu sou.”
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-64039353

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