Quando “Halloween Kills: O terror continua” foi lançado em 2021, muita gente torceu o nariz pela falta de sustos no filme, além da história nada atraente, em especial para os fãs da franquia. O público tinha grandes esperanças de que a prometida terceira e última parte da nova trilogia iria encerrar com tudo nos eixos. Infelizmente, não é o que acontece em “Halloween Ends”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13).
O (suposto) final da franquia até oferece os elementos que os admiradores do gênero adoram, com muitos assassinatos e algum suspense, que aqui é melhor usado do que no filme anterior. Mas seus realizadores resolveram tomar uma direção que, além de ineficaz, não provoca nada além de uma grande decepção.
Assista ao trailer do filme “Halloween Ends”
Depois dos acontecimentos de “Halloween Kills”, a cidade de Haddonfield tenta voltar a ter paz, ainda mais depois que o serial killer Michael Myers (James Jude Courtney/Nick Castle) não é mais visto há anos. Por isso, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis, de “Entre facas e segredos”) decide continuar com sua vida, cuidando de sua nova casa, escrevendo um livro sobre suas experiências e cuidando de sua neta, Allyson (Andi Matichak).
As coisas mudam quando o caminho de Laurie cruza com o do jovem Corey Cunningham (Rohan Campbell). Traumatizado por uma fatalidade, o rapaz se envolve com Allyson, ao mesmo tempo em que tenta superar suas inseguranças.
Mas nem ele nem Laurie conseguem ter paz porque uma série de acontecimentos faz com que Michael Myers volte a atacar a cidade. Laurie não vê outra alternativa a não ser encarar seu inimigo mais uma vez na noite do Dia das Bruxas e acabar com sua matança de uma vez por todas. Nem que isso custe sua vida.
Cena do filme “Halloween Ends”, de David Gordon Green — Foto: Divulgação
Um dos pontos positivos de “Halloween Ends” está na maneira que o diretor David Gordon Green homenageia John Carpenter, o cineasta do primeiro filme e um dos autores do roteiro original (ao lado de Debra Hill). O diretor voltar a apostar mais no suspense do que na sanguinolência, como Carpenter fez em 1978.
Além disso, basta reparar nos easter eggs e em sequências que remetem a outras obras dirigidas por Carpenter, como “O Enigma do Outro Mundo” (1982), “Christine, o Carro Assassino” (1983) e “A Bruma Assassina” (1980), que fizeram a festa dos fãs do terror. Nesses momentos, o longa fica realmente interessante.
Um assassino volta a atacar moradores de uma cidade americana em “Halloween Ends” — Foto: Divulgação
Isso sem falar em mais uma ótima colaboração de Carpenter na trilha sonora. O diretor (que também é um dos produtores executivos, assim como Jamie Lee Curtis), cria mais uma versão do famoso tema do filme que continua a causar o mesmo impacto da música original, além de compor boas músicas para as cenas mais tensas.
Green e mais três roteiristas trabalham melhor a questão da influência maléfica de Michael Myers sobre as pessoas da cidade. Ao contrário de “Halloween Kills”, que tratou essa questão de forma mais incoerente e mais histérica, pelo menos dessa vez o diretor tenta mostrar algo mais aprofundado, mesmo que não seja tão bem sucedido como poderia.
Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) volta a encarar Michael Myers em “Halloween Ends” — Foto: Divulgação
Apesar dessas qualidades (além de mais uma boa atuação de Curtis), “Halloween Ends” comete o erro grosseiro de prometer uma coisa para o público e fazer justamente outra. Afinal, parecia que Michael Myers e Laurie fariam de seu embate uma verdadeira festa para o gênero. Mas não é isso o que acontece.
O problema é que o diretor e seus roteiristas preferiram subverter as regras do terror (mais ou menos como propôs a franquia “Pânico”) e apostar mais em contar a história de Corey durante boa parte do filme, ao invés de priorizar Michael Myers ou em Laurie.
Assim, o espectador é obrigado a ver desde o motivo do trauma do rapaz (numa boa sequência de abertura) até seus desdobramentos e consequências. Mesmo com o esforço do pouco conhecido Rohan Campbell, não é possível criar nenhum interesse ou mesmo compaixão por seu personagem.
Allyson (Andi Matichak) se envolve com Corey (Rohan Campbell) em “Halloween Ends” — Foto: Divulgação
Para piorar, nem o romance entre ele e Allyson consegue cativar. Por causa de um roteiro mal escrito, o relacionamento soa forçado — e a química nula entre os atores não ajuda. Em resumo, o público não se importa com esses personagens e, provavelmente, não se incomodaria se eles fossem descartados com 30 minutos de história. Só que ocorre justamente o contrário.
Com isso, tanto Laurie quanto Michael viram coadjuvantes da história que deveriam protagonizar. A sorte deles só melhora no terceiro ato da trama, quando eles finalmente se enfrentam. O embate é realmente bom e traz o que muita gente estava aguardando ver por muito tempo. Pena que é quase no fim do filme, o que deixa pouco tempo para o que realmente interessa.
Michael Myers (James Jude Courtney) volta a atacar em “Halloween Ends” — Foto: Divulgação
Definitivamente, “Halloween Ends” jogou fora a grande chance de ser um desfecho a altura da importância que a franquia merecia. Os realizadores preferiram trabalhar com elementos que não despertam o menor interesse para a maioria dos espectadores. E não tem nada pior do que filme de terror que aborrece e faz rir pelos motivos errados, como diálogos mal escritos.
Pelo menos, Michael pode dizer (se ele conseguisse falar, claro) que tem mais algo em comum com outros monstros do cinema como Jason (de “Sexta-feira 13”) e Freddy Krueger (de “A Hora do Pesadelo”): ter um último capítulo muito ruim e indigno de sua relevância no cinema de terror. Uma pena, pois ao final da história fica a certeza de que tanto ele quanto Laurie mereciam uma despedida muito melhor do que foi apresentada. Do jeito que ficou, não vai deixar saudades.