Continuação do game de 2018 toma notas do outro exclusivo de sucesso da Sony, ‘The Last of Us’, e expande possibilidades, mas não revoluciona franquia como antecessor. Em 2018, o retorno de Kratos como um paizão coroa e barbudo revolucionou uma das franquias de games mais famosas e bem sucedidas do PlayStation. “God of War Ragnarok” expande ainda mais as possibilidades do seu antecessor – mas carece do espírito inovador que quebrou todas as regras para conseguir uma das maiores surpresas dos últimos anos.
O jogo, lançado como um exclusivo para PlayStation 4 e 5 nesta quarta-feira (9), é uma evolução natural em quase todos os aspectos. Sem a necessidade de introduzir, ou reapresentar, os personagens centrais, tem uma história mais madura e complexa.
Com a introdução de uma nova e interessante arma, além de novas dinâmicas dos heróis (em um eco revigorante com outra franquia da Sony, “The Last of Us Part 2”), as batalhas são ainda mais satisfatórias, brutais e recompensam selvageria e estratégia em um equilíbrio fino.
Os diversos mundos da mitologia nórdica onde a trama se desenrola estão mais bonitos, ricos e dinâmicos – e é um prazer quase inenarrável revisitar antigas locações sob novas perspectivas.
Mas mesmo com tudo isso, é difícil evitar a esperança de algo verdadeiramente novo, assim como foi o maravilhoso jogo que reinventou a série há quatro anos. Expectativa que, com o passar das muitas horas dedicadas a decapitar, trucidar e desmembrar inimigos e deuses, nunca é atingida.
Assista ao trailer de ‘God of War: Ragnarök’
Conhecimento divino
“Ragnarok” é uma sequência direta, mas começa alguns anos depois do fim de “God of War”. A relação entre Kratos, o antigo guerreiro/deus da guerra grego exilado na terra dos vikings, e seu filho Atreus amadureceu, mas continua assombrada pela armadura emocional do herói.
Agora no começo da adolescência, o jovem não consegue evitar o desejo por descobrir a verdade por trás de sua natureza – uma sensação familiar a qualquer um que tenha passado por essa fase cheia de incertezas, imortal ou não.
E é essa busca que leva os protagonistas a entrarem mais uma vez em confronto com o panteão de deuses nórdicos. Ou pelo menos com aqueles que escaparam das lâminas flamejantes do Fantasma de Esparta.
Alguns até se juntam ao grupo de resistência ao poder de Odin – e os roteiristas mantêm sempre um equilíbrio entre a urgência da história e o humor das relações absurdas entre os personagens.
Kratos e Atreus em ‘God of War Ragnarok’
Divulgação
Guerra expandida
O game mantém grande parte das mecânicas do antecessor. Continua um excelente exemplar do gênero de ação em terceira pessoa, e o herói controlado pelo jogador invariavelmente conta com um companheiro que o ajuda a enfrentar as hordas de monstros e outros guerreiros sedentos por sangue divino.
Sem entrar em spoilers, é possível dizer que a dinâmica presente no game de 2018 ganha um bem-vindo sopro de ar fresco com uma expansão nas parcerias. Cada uma delas adiciona novas vantagens e pode afetar a maneira como o público encara os desafios, em especial os inimigos mais poderosos.
Se “God of War” já recompensava um controle maior sobre a porradaria descontrolada, “Ragnarok” aumenta ainda mais a estratégia e a atenção ao cenário.
Ainda estão lá também possibilidades para personalizar, até certo ponto, atributos e habilidades dos heróis. Com armaduras e relíquias focadas em aumentar a força de Kratos, por exemplo, é possível acessar características especiais de amuletos que facilitam a vida de quem prefere combates diretos sem tanta preocupação com a defesa.
Kratos enfrenta monstros em ‘God of War Ragnarok’
Divulgação
O futuro é agora
Com tudo isso, é difícil não se frustrar com a sensação de oportunidade perdida. “Ragnarok” é, afinal, o primeiro grande exemplar novo de uma série exclusiva da Sony desde o lançamento do PlayStation 5 – e o novo console parece ter sido pouco lembrado pelos desenvolvedores.
Tudo bem, ainda são poucos aqueles que têm acesso aos aparelhos, mas uma atenção maior às novidades introduzidas com a nova geração – em especial os gatilhos adaptáveis dos controles DualSense – bastaria para afagar aqueles carentes de algum lançamento pensado para o PS5.
“Ragnarok” é, sem dúvidas, um dos melhores games do ano. Apresenta cenários deslumbrantes, ação empolgante e uma história rica e complexa, digna de uma série que mistura com maestria duas das mitologias mais famosas do ocidente.
Mas, depois de dezenas de horas de compromisso e de aventuras com Kratos e Atreus, fica um gosto que a dupla merecia um pouco mais de ousadia por parte de seus criadores.
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