Mesmo assim, ela frequentemente lembrava a seus admiradores que não era particularmente corajosa e que precisava superar seu medo.
“Sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo medo”, disse ela em uma entrevista em 2018. “Se eu parar para pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que abrir mão da racionalidade para seguir em frente, deixar a curiosidade e o medo tomarem conta, e aí eu faço qualquer coisa.”
Despretensiosa nos modos e no falar, Glória Maria era especialmente adorada pelos brasileiros que, como ela, vinham da pobreza.
“As pessoas se identificaram com ela, se sentiram representadas por ela”, disse Pedro Bial, que co-ancorou a revista “Fantástico” com ela por uma década. “Deu aos telespectadores – os brasileiros mais pobres, os mais desprovidos de oportunidades – a experiência de viver o que Glória Maria estava vivendo na televisão.”
Sua presença onipresente na televisão também foi profundamente simbólica em um país onde os negros são desproporcionalmente afetados pela pobreza, violência e falta de oportunidades, apesar de constituírem a maioria da população.
“Aqui está essa mulher negra, andando de montanha-russa, se divertindo”, disse Flávia Oliveira, uma apresentadora de televisão brasileira. “Ela nos mostrou que o corpo negro também tem direito ao lazer. Não é só sobre dor, sobre racismo, sobre feridas, sobre problemas.”
Ainda assim, Glória Maria foi frequentemente vítima de racismo. Na década de 1970, ela apresentou uma queixa policial famosa quando um gerente a impediu de entrar em um hotel de luxo. Décadas depois, quando ela coapresentava “Fantastico”, o primeiro programa do gênero no Brasil, os telespectadores ligavam exigindo que ela fosse substituída por um apresentador branco.