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g1 testou: ChatGPT é um bom corretor de redação do Enem? Veja se 'robô' pode ajudar nos estudos


Ferramenta de inteligência artificial consegue sugerir temas, corrigir textos, apontar pontos fortes e fracos da dissertação e dar ideias de argumentos. O g1 consultou duas professoras de redação para saber se esses auxílios do ‘robozinho’ podem mesmo ser levados a sério. ChatGPT ajuda mesmo a estudar para a redação do Enem?
Celso Tavares/g1
A poucas semanas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o principal conselho de professores de redação e de candidatos que já tiraram a nota máxima é: treinar, treinar e treinar.
Ok, como você quer arrasar na prova, seguirá a dica e escreverá um texto por semana. Mas quem vai corrigi-lo, para apontar o que precisa ser melhorado? Em casa, será que dá para contar com a ajuda de… um robô?
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O g1 testou se o ChatGPT, recurso de inteligência artificial, pode ser um aliado nos estudos para a redação do Enem ao:
sugerir temas para você treinar;
apontar qual seria a sua nota;
mostrar seus pontos fortes e pontos fracos;
dar ideias de argumentos.
As professoras Roberta Panza, do Sistema PH, e Marina Rocha, do Colégio e Curso AZ, fizeram a análise do “bot”. Veja a seguir:
ChatGPT é bom para… sugerir temas?
ChatGPT sugere temas de redação do Enem
Reprodução
O g1 pediu ao ChatGPT: “Sugira, por favor, temas de redação para que eu treine para o Enem”. O robozinho respondeu com mais de dez itens, como:
Desafios da Educação no Brasil: Discuta os principais problemas enfrentados pelo sistema educacional brasileiro e proponha soluções para melhorar a qualidade da educação no país.
Desigualdade Social e Econômica: Analise as causas e consequências da desigualdade social e econômica no Brasil e explore maneiras de combatê-la.
Meio Ambiente e Sustentabilidade: Aborde questões relacionadas ao meio ambiente, como desmatamento, poluição, aquecimento global e a importância da preservação ambiental.
Cultura e Identidade Brasileira: Discuta a diversidade cultural do Brasil, sua história e como a cultura influencia a identidade nacional.
São bons palpites? ❌Não.
“Na verdade, o ChatGPT não sugere temas que cairiam no Enem, e sim recortes temáticos mais amplos. Fala, por exemplo, de ‘desigualdade social e econômica’. A gente já viu algo assim cair, mas de forma bem mais específica, sobre pessoas que não têm documento [tema do Enem 2021]”, explica Marina Rocha.
Mais um exemplo: no ano passado, a prova cobrou que os candidatos escrevessem sobre os “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, em vez de algo tão abrangente como o sugerido pelo ChatGPT (“cultura e identidade brasileira”).
A professora Marina afirma que a ferramenta pode até ajudar o aluno a perceber campos possíveis de discussão, mas não exatamente o que será abordado na prova.
ChatGPT é bom para… dar notas?
ChatGPT topa o desafio de corrigir uma redação do Enem
Reprodução
O g1 enviou ao robozinho três redações que tiraram mil no Enem 2022: as de Luís Felipe de Brito, Carina Moura e Maria Fernanda Simionato.
❌Nenhum dos três, na avaliação do robô, tiraria a nota máxima — eles alcançariam, respectivamente, 850, 880 e 880 pontos.
“Ele dá notas que nem existiriam no sistema do Enem, como 850 [seria 840 ou 860, pelo padrão da prova]”, diz Marina.
Roberta Panza, do Sistema PH, acrescenta ainda que o ChatGPT não explicita quanto o candidato tirou em cada uma das cinco competências exigidas, como ocorre no boletim oficial. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) atribui pontuações de 0 a 200 para cada um dos 5 itens:
Competência 1 – Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos
“Seria importante que o aluno soubesse onde perdeu e onde ganhou pontos”, diz Roberta.
ChatGPT é bom para… apontar os pontos fortes e fracos das redações?
Analisando os apontamentos do ChatGPT a respeito das três redações nota mil, as professoras consultadas pelo g1 afirmam que:
❌ a ferramenta não domina 100% dos critérios de correção exigidos pelo Enem, ao apontar supostos erros que não trariam nenhuma penalidade “na vida real”;
✅ mas traz sugestões interessantes de melhoria no texto, que podem ser levadas em conta nos estudos.
“Eu realmente não acho que, neste primeiro momento, o ChatGPT consiga trazer todas as nuances de uma correção feita por um professor”, afirma Panza. “Mas ele pode ser um mecanismo para ampliar o repertório do aluno.”
Abaixo, veja a íntegra do texto nota mil de Luís Felipe e, em seguida, os comentários feitos pelo robozinho:
Redação nota mil: “O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em “Erro de Português”, que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português – uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável.
Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” – ideia essa que deslegitima a luta dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fometam a desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos.
Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se preocupam com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais.
Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo estabelecimento da grade curricular das escolas – deve educar os alunos a respeito dos empecilhos à preservação dos indígenas, por meio da inserção da matéria “Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do Desenvolvimento – pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – precisa fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis, visando à valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias.”
🤖Comentários do ChatGPT (reproduzidos aqui na íntegra):
“Sua redação aborda de forma bastante completa os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil. Você apresenta argumentos relevantes e propostas de solução. Aqui estão alguns pontos de destaque:
Pontos Positivos:
Uso de Referência Cultural e Histórica: Você começa sua redação com uma citação de Oswald de Andrade, que contextualiza o problema historicamente, mostrando uma compreensão profunda da questão.
Argumentação Coerente: Seus argumentos são bem elaborados e se relacionam diretamente com o tema. Você explora tanto a questão da educação quanto a do desenvolvimento sustentável, destacando sua importância na valorização das comunidades tradicionais.
Citação de Fontes e Autoridades: A menção à Teoria do Indigenato e ao ministro Edson Fachin do STF fortalece seus argumentos, demonstrando embasamento em fontes confiáveis.
Propostas de Solução: Você oferece sugestões práticas e viáveis para lidar com os desafios identificados, incluindo a introdução de uma matéria curricular e fiscalização de atividades econômicas prejudiciais.
Pontos de Melhoria:
Estruturação do Texto: Embora seu texto tenha uma introdução e desenvolvimento bem articulado, ele parece terminar abruptamente. Uma conclusão mais elaborada, reforçando suas propostas e resumindo os principais pontos, seria benéfica.
Exemplos Adicionais: Embora você tenha dado um exemplo importante relacionado aos pescadores na Região Amazônica, a inclusão de exemplos adicionais poderia enriquecer ainda mais sua argumentação.
No geral, sua redação é sólida e bem fundamentada. Com uma conclusão mais completa e alguns exemplos adicionais, ela poderia receber uma nota ainda mais alta. Agora, atribuindo uma nota de 0 a 1000, considerando os pontos positivos e as sugestões de melhoria, eu daria a sua redação uma nota de 850. Lembre-se de que a avaliação final depende dos critérios de correção utilizados pelo avaliador real do Enem.”
Avaliação da professora Marina a respeito do ChatGPT:
“Achei que os pontos de melhoria são dicas importantes e legítimas, mas que [fazem referência a erros que] não levariam a uma penalização nos critérios do Enem. A retomada da tese, por exemplo, para reforçar o tema principal no último parágrafo, realmente poderia ter sido melhor; foi uma sugestão importante do ChatGPT”, diz.
“Quando ele diz para dar exemplos adicionais, também faz sentido, mas seria uma pequena falha que não tiraria nota no Enem.”
ChatGPT é bom para… dar ideias de argumentos?
ChatGPT dá exemplos de argumentos para a redação do Enem
Reprodução
✅ Se você pedir ao ChatGPT ideias de argumentos para determinado tema de redação, a ferramenta trará pontos interessantes, que podem dar um direcionamento ao seu texto, recomenda a professora Roberta Panza.
Na imagem acima, é possível ver o que o robô sugere na proposta do Enem 2022, sobre “desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. Ele levanta ideias mais genéricas, como “legislação e direitos”, e as detalha em seguida, estimulando o aluno a citar a Constituição de 1988 e a discutir quais os desafios para que as leis sejam implementadas de forma efetiva.
É claro que só esses “conselhos” não garantirão uma boa nota — você precisará articular os argumentos, desenvolvê-los, integrá-los de forma coesa e adequá-los à estrutura esperada no Enem.
ChatGPT escreve redação do Enem em 50 segundos; saiba quanto ele tiraria na prova
Vídeo
Veja dicas de redação vindas de quem tirou nota mil no Enem 2022:
Veja dicas de alunos que tiraram nota mil na redação do Enem 2022

Fonte

MicroGmx

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