Assassinato de jovem no Estado do México, perto da Cidade do México, mobilizou aumento de luta contra assassinato de mulheres no país. Amiga da mexicana Monica Citlalli Díaz, assassinada no Estado do México, carrega uma foto em seu funeral, em 11 de novembro de 2022.
Eduardo Verdugo/ AP
Em uma tarde de novembro, Mónica Citlalli Díaz saiu de casa em um populoso subúrbio da capital do México e se dirigiu à escola onde dava aulas de inglês havia anos. Embora parecesse um dia comum, ela nunca chegou ao trabalho.
Sua ausência acendeu imediatamente um alerta – Díaz amava seu trabalho e era muito diligente no comparecimento. Amigos e familiares espalharam panfletos pela cidade, Ecatepec, com sua foto.
Depois de quatro dias sem nenhum sinal de Díaz, de 30 anos, eles bloquearam a rua em frente à escola por horas, exigindo providências das autoridades. Dois dias depois, seu corpo foi encontrado às margens de uma rodovia.
As mulheres no estado do México, que envolve a Cidade do México por três lados, estão morrendo em um ritmo assustador. Entre janeiro e novembro de 2022, foram 131 feminicídios – casos de mulheres mortas em razão de seu gênero. Díaz foi o nono aparente feminicídio durante uma série de 11 dias de assassinatos na Cidade do México e arredores, entre o final de outubro e o começo de novembro.
Foram mais de mil feminicídios no país no ano passado, perdendo apenas para o Brasil na América Latina. Em média, 10 mulheres ou meninas são mortas diariamente no país. As autoridades reconhecem há décadas que os índices de feminicídio e violência contra mulheres são um problema, mas os dados nacionais não evidenciam progresso na área.
Especialistas e ativistas dizem que os assassinatos desenfreados e o histórico de feminicídio podem ser atribuídos ao machismo cultural, à desigualdade de gênero e à violência doméstica, bem como a um sistema judiciário repleto de problemas – policiais que não fazem ocorrências, investigações descuidadas, autoridades que revitimizam as mulheres.
Com tantos casos de feminicídio, a maioria recebe pouca atenção. Mas a recente série de assassinatos, somada aos protestos da família de Díaz, pressionou as autoridades e ganhou as manchetes.
Três dias depois do desaparecimento de Díaz, o presidente da Suprema Corte, Arturo Zaldívar, falou da necessidade de um protocolo nacional para lidar com feminicídios. No dia seguinte, em sua coletiva de imprensa diária, o presidente Andrés Manuel López Obrador disse que concordava.
Alguns estados tentaram resolver o problema criando promotorias especializadas em crimes de gênero. O governo federal já emitiu mais de vinte alertas de violência de gênero desde 2015. Os alertas obrigam as autoridades locais, estaduais e federais a tomarem medidas emergenciais coordenadas para combater os vieses no acesso à justiça.
Parentes e amigos de Monica Citlalli Diaz participam de funeral de jovem, assassinada aos 30 anos no México, em 11 de novembro de 2022.
Eduardo Verdugo/ AP
No estado do México, foi emitido um alerta em 2015. Ele ainda permanece em vigor. Ecatepec é uma das 11 cidades do estado que opera sob esse alerta. As próprias autoridades admitem, porém, que os benefícios dos alertas e de outras medidas são limitados.
Seis dias depois do desaparecimento de Díaz, Olvera acabou vendo imagens do corpo de sua irmã, quando fotos da última vítima começaram a circular. Ela reconheceu as calças, os sapatos, as mãos de sua irmã.
“Eles a deixaram jogada como um saco de lixo.”
Após o assassinato de centenas de mulheres e meninas no estado de Chihuahua, no final da década de 1990 e início dos anos 2000, os parlamentares mexicanos criaram uma comissão sobre feminicídio. O grupo descobriu que, apesar dos índices nacionais alarmantes de violência contra as mulheres, era quase impossível obter dados que mostrassem com precisão a extensão do problema.
Como resultado do trabalho da comissão, foi promulgada em 2007 a Lei Geral de Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência. Ela criou os alertas de violência de gênero. Em 2010, os legisladores incluíram o feminicídio no código penal federal.
Mesmo assim, no ano passado o número de feminicídios no país foi mais do que o dobro de 2015, de acordo com dados federais. Parte desse aumento pode ser atribuída a uma melhora na manutenção dos registros – o feminicídio não estava codificado em todos os estados mexicanos até 2017 – mas o número de mortes vem aumentando anualmente.
Dilcya García, que está à frente da promotoria estadual especializada em violência de gênero, disse que a questão faz parte da própria estrutura social: “A violência contra as mulheres é muito complicada de enfrentar.”
No dia seguinte ao protesto da família Díaz que bloqueou a rua em Ecatepec, García se reuniu com eles. A promotora disse que estava empenhada em encontrar Díaz, mas levantou a possibilidade de que ela não estivesse viva.
Posteriormente, García seria a responsável por telefonar a Olvera para informar que o corpo de sua irmã havia sido encontrado.
Em Ecatepec, uma cidade-dormitório de 1,8 milhão de habitantes com uma das maiores concentrações de pobreza do México, Díaz tinha a sorte de estar em um emprego que amava.
Ela tivera alguns problemas. Díaz teve sua filha Keila aos 19 anos. Ela deixou o pai da menina depois de episódios de violência doméstica, segundo Olvera, sua irmã, e foi morar com os pais e trabalhar como garçonete, passando dificuldades. Ela encontrou então a Quick Learning, uma rede de escolas de inglês, onde estudou antes de começar a dar aulas.
Este ano, Díaz conheceu Jesús Alexis Álvarez Ortiz, um jovem atlético de 27 anos que trabalhava em um hotel. Ele era possessivo, segundo Olvera, e ela percebeu mudanças em sua irmã. Ela perdeu peso, ficava fora até tarde. Ainda assim, nunca faltava ao trabalho.
Na noite em que Díaz desapareceu, seu namorado apareceu na casa da família. Álvarez Ortiz parecia nervoso, tropeçava nas palavras e mudava sua história, contou Olvera.
No dia seguinte, os pais de Díaz foram até a escola, onde novamente encontraram Álvarez Ortiz. Ele os acompanhou até a polícia para fazer o boletim de ocorrência do desaparecimento de Díaz. Dois dias depois, Álvarez Ortiz parou de responder às mensagens e ligações da família. Sua mãe o registrou como desaparecido.
Segundo as autoridades, depois de sair de casa naquela tarde, Díaz pegou um táxi até um shopping, depois outro até a casa de Álvarez Ortiz. O vídeo da câmera de segurança mostra que ela entrou na casa dele, mas não saiu. Uma busca feita na casa encontrou as roupas de Díaz manchadas de sangue.
Dois dias depois que o corpo de Díaz foi encontrado, a polícia prendeu a mãe de Álvarez Ortiz. No dia seguinte, ele próprio foi preso. Uma autópsia mostrou que Díaz havia sido espancada e morrera com um golpe na cabeça
Álvarez Ortiz foi preso pela acusação de sequestro. A família de Díaz espera que em sua próxima audiência, em março, o ministério público esteja em condições de incluir uma acusação por feminicídio.
Um advogado de Álvarez Ortiz respondeu às mensagens deixadas pela Associated Press em uma escola onde ele leciona.
Olvera, como os familiares de centenas de outras vítimas nos últimos anos, exige justiça e espera que os envolvidos sejam responsabilizados.
“Se as autoridades não me derem uma resposta favorável, vou voltar à rua e fechar a avenida”, disse. “Ficarei lá até que prestem atenção em mim e façam justiça.”
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