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Especialistas analisam características dos discursos dos candidatos à Presidência | Eleições 2022

Falar em público – e para o público – é uma das principais tarefas das pessoas que ocupam cargos políticos. Transmitir uma mensagem de forma clara e ter um discurso que engaje os eleitores pode ter um peso determinante no êxito ou no fracasso nas urnas durante a corrida eleitoral.

Não por acaso, um dos sinônimos para “deputado” ou “senador” é o termo “parlamentar”. A palavra tem origem no vocábulo em latim “parlar”, que significa justamente “falar”, como explica o professor de português Sérgio Nogueira. Daí vem também parlamento para se referir ao Congresso Nacional, local de trabalho dos políticos.

O g1 conversou com especialistas que analisaram as características do discurso dos candidatos à Presidência da República mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos.

Entre os pontos avaliados estão:

  • Capacidade de conexão com o interlocutor;
  • Dicção;
  • Tom de voz;
  • Expressão corporal; e
  • Controle emocional.

A especialista em oratória Bianca Celoto observa que os concorrentes alteram o tom dos discursos de acordo com a ocasião. Já a fonoaudióloga Leny Kyrillos aponta que o cansaço provocado por uma campanha eleitoral – seja físico ou mental – afeta diretamente na capacidade de comunicação dos políticos.

Confira abaixo pontos positivos e negativos no discurso de cada candidato, seguindo a ordem da posição na última pesquisa do Ipec:

2 de 5 O ex-presidente Lula durante campanha — Foto: Isaac Fontana/CJPress/Estadão Conteúdo

O ex-presidente Lula durante campanha — Foto: Isaac Fontana/CJPress/Estadão Conteúdo

  • “Lula tem um apelo popular absurdo, porque fala a língua das pessoas, tem a habilidade de simplificar o discurso, além de demonstrar emoção”, afirma Leny.
  • Para Bianca, o ponto forte na oratória é a capacidade de criar conexão com o público por meio da narrativa e da expressão corporal.
  • “Os pontos negativos, sem dúvida, são a dicção e a voz, que está prejudicada por conta da idade”, diz Bianca.
  • “O Lula passa a ideia de grande esforço e falta de vitalidade ao falar por causa da voz alterada”, indica Leny.
3 de 5 O presidente Jair Bolsonaro durante evento em agosto — Foto: Adriano Machado/Reuters

O presidente Jair Bolsonaro durante evento em agosto — Foto: Adriano Machado/Reuters

  • Na avaliação de Bianca, uma das características que favorecem o discurso de Bolsonaro é a conexão que ele estabelece por meio da simplicidade da fala.
  • Para Leny, em alguns momentos, ao adotar um discurso com característica de mais autoridade e menos conexão, Bolsonaro gera menos proximidade com as pessoas, além de apresentar expressões faciais rígidas e ter uma articulação vocal travada, “o que constrói uma percepção de agressividade contida”.
  • Assim como Lula, o ponto negativo de Bolsonaro é a dicção, na avaliação de Bianca.
4 de 5 Ciro Gomes durante evento de campanha — Foto: Suamy Beydoun/Agif – Agência de fotografia/Estadão Conteúdo

Ciro Gomes durante evento de campanha — Foto: Suamy Beydoun/Agif – Agência de fotografia/Estadão Conteúdo

  • Para Bianca, a oratória de Ciro é a mais apurada entre todos os candidatos, já que utiliza linguagem conotativa e foge do discurso literal: “Isso aumenta o nível de convencimento”.
  • A conexão com o público gerada pela postura corporal e pelas expressões também é um fator favorável para Ciro, segundo Leny.
  • Leny avalia que os discursos verbal e não verbal de Ciro são dúbios em alguns momentos, ponto que pode confundir o entendimento da mensagem. Ela também destaca o estilo passivo-agressivo do candidato: “Ele pode não demonstrar na fala, mas demonstra o incômodo de forma não verbal”.
  • Segundo Bianca, o ex-governador é extremamente rebuscado e, às vezes, complica em vez de simplificar, o que pode dificultar o raciocínio do eleitor.
5 de 5 Simone Tebet durante campanha — Foto: Priscilla Aguiar/g1

Simone Tebet durante campanha — Foto: Priscilla Aguiar/g1

  • Leny considera Tebet a melhor oradora entre os quatros candidatos por demonstrar controle da situação por meio de um tom de voz sereno;
  • Bianca avalia que a candidata tem uma oratória limpa, um vocabulário acessível e boa dicção, além de buscar conexão com o eleitorado feminino por meio do ajuste de linguagem.
  • No entanto, Bianca pontua que, em alguns momentos, principalmente no vídeo, Tebet demonstra falta de traquejo e pode parecer robótica.
  • Leny afirma que o controle de Simone, por outro lado, pode causar a impressão de artificialidade: “É um tipo de discurso que corre o risco de passar uma ideia de menos calor, de menos emoção”.

Bianca Celoto chama atenção para uma questão que pode passar despercebida pelos eleitores em meio a um discurso bem elaborado e uma oratória convincente: o uso intencional de dados imprecisos ou errados, que pode ser classificado como desinformação e confundir a população.

“Tanto Lula quanto Bolsonaro e Ciro usam muitos dados, eles vão jogando números. O ponto é que os dois usam dados errados”, observa. “Do ponto de vista de oratória, para convencer quem está assistindo, isso é chamado de ‘elemento logos’, que é da parte da lógica e aumenta a credibilidade da pessoa quando ela fica usando muito dado”, explica.

O g1, ao lado de outros veículos de imprensa, realizou a checagem de falas dos candidatos durante os dois primeiros debates presidenciais. As frases são classificadas como “Fato“, Fake” ou “Não é bem assim“. (acesse os links acima para conferir)

* Com supervisão de Ricardo Gallo

Fonte

MicroGmx

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