Entenda por que, ao contrário de Castillo, Fujimori conseguiu dar o autogolpe há 30 anos no Peru


Sem apoio popular e das Forças Armadas, presidente eleito há 17 meses foi destituído pelo Congresso ao tentar tomar o poder. O ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori, durante de julgamento em base naval no Peru, em 2018.
Reuters/Mariana Bazo
O presídio de Barbadillo, em Lima, para onde o presidente deposto Pedro Castillo foi levado após tentar dar um golpe de Estado no Peru, hospeda outro ex-presidente – Alberto Fujimori, de 84 anos, que cumpre pena de 25 anos por violações dos direitos humanos.
O dramático desenlace do turbulento governo de 17 meses de Castillo reavivou a lembrança do autogolpe implementado há 30 anos por seu agora companheiro de prisão e que ficou conhecido como Fujimorazo.
No dia 5 de abril de 1992, dois anos após ser eleito sem maioria no Legislativo, Fujimori dissolveu o Congresso, neutralizou seus opositores, interveio no Judiciário e concentrou todos os poderes.
Passou a liderar um regime de exceção, tal como planejou fazer Castillo na operação frustrada de quarta-feira (7). Sem garantia constitucional, o autogolpe se justificava pela crise econômica e o terror perpetrado pelo grupo Sendero Luminoso.
Diferentemente do ex-professor e líder sindical rural que em 2021 se elegeu presidente numa disputa apertada, Alberto Fujimori tinha na época mais de 80% de apoio popular. Contava também com o respaldo das Forças Armadas, que agora viraram as costas para Castillo, assim como seus ministros.
Ex-presidente do Peru é levado para base policial em Lima
Um plebiscito realizado em 1993 assegurou ao então presidente uma nova Constituição e um Congresso unicameral. A empreitada autoritária o manteve no poder até 2000, quando, envolvido num escândalo de corrupção e crimes contra a Humanidade, foi destituído pelo Congresso por “incapacidade moral permanente”, o mesmo instrumento usado contra Castillo.
Ambos se envolveram na compra de votos de parlamentares de outras bancadas para se segurar no cargo e deixaram o poder desmoralizados e com contas a prestar na Justiça – destino convergente selado para todos que governaram o Peru no período de instabilidade política entre os dois presidentes.
Fujimori foi bem-sucedido no seu plano de fuga para o Japão, de onde enviou uma carta de renúncia e passou a viver, graças à dupla nacionalidade. A prisão ocorreu em 2005, durante uma viagem ao Chile, e a extradição para Lima, dois anos depois.
Em sua rota de fuga – provavelmente o refúgio na Embaixada do México – após o pronunciamento grotesco, o amador Castillo não teve a mesma sorte: foi emboscado pelo tráfego de Lima e acabou sendo preso pela própria escolta.
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