Entenda o que levou à queda da ministra da Defesa da Alemanha


Além de gafes e fiascos, Christine Lambrecht se tornou símbolo da política alemã hesitante ao envio de armas à Ucrânia. Ela renunciou ao cargo na segunda-feira após mensagem de fim de ano polêmica. Christine Lambrecht, ministra alemã sobre um tanque em visita a Munique em 7 de fevereiro de 2022
Philipp Schulze/dpa via AP
Polêmicas, gafes e fiascos estão por trás da renúncia de Christine Lambrecht como ministra da Defesa da Alemanha, na segunda-feira (17), um dos principais cargos do país.
De acordo com a imprensa local, o social-democrata Boris Pistorius é o mais cotado para assumir a pasta. O anúncio deve sair nesta terça-feira (17).
Lambrecht ficou conhecida internacionalmente em janeiro de 2022, quando anunciou orgulhosamente a doação de 5 mil capacetes militares alemães para a Ucrânia, num momento em que as tropas russas cercavam as fronteiras daquele país. A doação foi chamada pelo governo polonês de “piada”.
Já o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, respondeu com sarcasmo, perguntando se o próxima remessa de ajuda alemã seria um lote “de travesseiros”.
Dessa forma, Christine Lambrecht se tornou um símbolo da política alemã hesitante em relação à guerra na Ucrânia e, mais especificamente, ao fornecimento de armas a Kiev.
Lambrecht é do mesmo partido do chanceler alemão, Olaf Scholz, o Social-Democrata.
Entre as aparições controversas da agora ex-ministra esteve uma visita aos soldados alemães em Mali, quando ela fez revista às tropas usando sapatos de salto alto, o que foi considerado inapropriado para a situação, além de ser uma violação às regras de segurança dos militares.  
Mensagem de Ano Novo
A gota d’água que causou a demissão parece ter sido um vídeo que ela divulgou em seu perfil privado no Instagram, no dia de Ano Novo.
Na filmagem, a então ministra cita a guerra da Ucrânia, discursando sob o estouro de fogos de artifício no céu ao fundo, dizendo ter vivido “muitas experiências especiais” em 2022, que lhe deram a oportunidade de ter “encontros com gente interessante e legal”.
A mensagem causou uma chuva de críticas, sendo vista como um desastre de relações públicas.
Mas não foram só esses tropeços que custaram o posto da ministra. Ela também era vista, desde o começo do mandato, como alguém que não tem experiência para o cargo.
Advogada por formação, Lambrecht, de 57 anos, foi nomeada ministra da Justiça em 2019, na gestão da chanceler Angela Merkel e, em maio de 2021, também assumiu o Ministério da Família. Ela comandava a pasta da Defesa desde dezembro de 2021.
Críticos reclamavam nos últimos meses da lentidão do processo de compra de novos equipamentos para renovar as Forças Armadas alemãs, num momento em que a Europa vem sendo abalada por uma guerra.
Urgência por novo nome
Milhares de pessoas participam do protesto contra a invasão russa à Ucrânia em Berlim, na Alemanha, em fevereiro de 2022.
Markus Schreiber/AP
E exatamente p
r causa dessa guerra na Ucrânia, existe urgência para achar um nome como substituto. A imprensa local tem citado alguns nomes como possíveis substitutos de Lambrecht. Mas a nomeação também esbarra no compromisso de paridade do ministério, que o atual governo alemão prometeu seguir, nomeando o mesmo número de mulheres como de homens para o gabinete.
Há quem diga que, em caso de falta de outra mulher capacitada para o posto, uma solução pode ser uma dança das cadeiras, ou seja, o remanejamento de um ministro de uma outra pasta.
O fato é que há urgência para se achar um novo nome para o ministério da Defesa alemão. A renúncia de Lambrecht acontece em meio à maior operação de rearmamento da Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. Um projeto lançado em fevereiro por conta da guerra na Ucrânia e que envolve um investimento recorde de € 100 bilhões (R$ 556 bilhões) prometido por Scholz e que Lambrecht, aparentemente não vinha conseguindo administrar a contento.
Encontro aliado em Ramstein
Chanceler alemão, Olaf Scholz.
Markus Schreiber/Pool via REUTERS
A chefia do ministério da Defesa fica vaga num momento delicado, a poucos dias de uma reunião internacional de alto nível na base aérea americana de Ramstein, na Alemanha. O encontro do chamado Grupo de Contato para a Defesa da Ucrânia está agendado para esta sexta-feira (20).
A reunião deverá deliberar sobre o envio de mais armas para Kiev. Os aliados têm aumentado a pressão para que o governo do chanceler Olaf Scholz integre uma coalizão internacional para enviar conjuntamente tanques pesados ou pelo menos permitir a reexportação desses veículos.
A Polônia prometeu fornecer o Leopard 2 a Kiev, mas depende de permissão da Alemanha, já que os equipamentos são fabricados no país e sua reexportação só pode acontecer após o aval de Berlim. O Reino Unido também anunciou que enviará à Ucrânia seus modernos tanques Challenger 2.
Por conta disso, a expectativa é que após essa reunião em Ramstein Berlim anuncie a decisão de viabilizar o fornecimento à Ucrânia dos modernos tanques de combate alemães Leopard 2, quebrando mais um dos paradigmas da política alemã de defesa.

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