Michael Cohen trabalhou por mais de dez anos com o ex-presidente dos EUA. Ele era uma espécie de ‘resolvedor de problemas’. Ele já foi condenado pela Justiça federal e preso por vários crimes, inclusive pelo pagamento a Stormy Daniels, e já mentiu ao testemunhar. Desenho de Trump, em primeiro plano, e Michel Cohen durante depoimento no dia 14 de maio de 2024
Jane Rosenberg/Via Reuters
Michael Cohen, um ex-advogado de Donald Trump, foi interrogado nesta terça-feira (14) pelos atuais advogados do antigo chefe no julgamento criminal em que o ex-presidente dos Estados Unidos é réu por esconder contabilmente um pagamento de US$ 130 mil para a atriz pornô Stormy Daniels.
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A defesa de Trump tentou usar antigas declarações de Cohen contra ele mesmo. Foram citados textos de redes sociais e entrevistas para canais de TV.
Todd Blanche, um dos defensores de Trump, listou expressões que Cohen já usou para descrever Trump:
Ditador idiota
Misógino caricato grosseiro
Vilão caricato sujo com farelo de Cheetos (um tipo de salgadinho).
O atual advogado de Trump ainda fez perguntas sobre a falta de honestidade do antigo advogado de Trump. Cohen trabalhou por mais de dez anos com o ex-presidente dos EUA. Ele era uma espécie de “resolvedor de problemas”. O depoimento dele começou na segunda-feira, quando foi questionado pelos promotores, e nesta terça-feira foi interrogado pela defesa de Trump (que deve continuar com as perguntas na quinta-feira).
Cohen descreveu em detalhes as ordens que o antigo chefe supostamente deu para que ele pagasse a atriz pornô Stormy Daniels em 2016, na reta final da campanha presidencial daquele ano —Trump, do Partido Republicano, venceu Hillary Clinton, do Partido Democrata, e se tornou presidente.
Daniels recebeu US$ 130 mil para não dar entrevistas sobre uma relação sexual que ela teria tido com Trump dez anos antes, em 2006 (Trump nega ter tido a relação).
Cohen tem um histórico controverso. Ele já foi condenado pela Justiça federal e preso por vários crimes (inclusive esse do pagamento para Stormy Daniels) e já mentiu ao testemunhar.
O atual advogado de Trump ainda não fez perguntas sobre o pagamento. Até agora, o foco foram os comentários de Cohen sobre o antigo chefe —a ideia da defesa é tentar convencer os jurados de que Cohen se transformou em um inimigo do réu.
Todd Blanche também disse que Cohen acusa Trump porque está interessado em dinheiro, em vingança e em fama, e não pela justiça. A defesa fez perguntas sobre o dinheiro que Cohen ganhou com livros de memórias e com os podcasts dele.
Em seu site, Cohen vende canecas em que se lê: “Mande-o para a casona (ou seja, para a prisão), e não para a Casa Branca”.
Cohen foi ressarcido em parcelas
Segundo os promotores, Cohen pagou US$ 130 mil para Stormy Daniels não dar entrevista
Trump pagou Cohen de volta depois das eleições, mas, ao invés de registrar o dinheiro como gasto eleitoral, escondeu esse pagamento como se fosse honorário advocatício do advogado.
Os pagamentos parcelados a Cohen são a base da acusação de falsificação de registros.
Neste ano, Trump, de 77 anos, é o candidato do Partido Republicano pela terceira vez seguida. Ele se declarou inocente e nega qualquer encontro sexual com Daniels. Segundo o ex-presidente, o processo é uma tentativa de interferência eleitoral.
Cohen também foi interrogado pela promotoria. Ele descreveu uma reunião no Salão Oval da Casa Branca em fevereiro de 2017, na qual Trump disse que iria pagar as primeiras parcelas mensais de um pacote de bônus (de acordo com Cohen nesses valores estava incluído o reembolso pelo pagamento a Daniels).
A promotora Susan Hoffinger mostrou faturas e cheques (alguns assinados pelo próprio Trump) que Cohen recebeu e, segundo ele mesmo, tinham uma falsa descrição de compensação por seu trabalho domo advogado.
Hoffinger perguntou se não havia um contrato de prestação de serviços, e Cohen respondeu que não.
Primeiro dia de depoimento
No primeiro dia de depoimento, Cohen relatou que Trump, ao dar a ordem para que Daniels recebesse o dinheiro, afirmou “simplesmente o faça”.
A história de Daniels era preocupante, de acordo com Cohen: “Ele me disse: ‘Isso é um desastre, um desastre completo. As mulheres vão me odiar. Os caras acham legal, mas isso vai ser desastroso para a campanha'”, afirmou o ex-funcionário de Trump.
Segundo o relato de Cohen, quando Trump estava se preparando para anunciar sua candidatura à presidência, o chefe lhe disse que “muitas mulheres iriam aparecer”.
Em seu depoimento, ele afirmou que se encontrou com Trump e com o Publisher do “National Enquirer”, David Pecker, para usar esse jornal como um veículo de propaganda para o então candidato nas eleições de 2016. A ideia era barrar as histórias que poderiam atrapalhar a candidatura.
Em junho de 2016, um mês antes das convenções do Partido Republicano, Cohen soube pelo “National Enquirer” que uma ex-modelo da revista Playboy, Karen McDougal, estava tentando vender a história dela com Trump –os dois teriam tido uma relação de cerca de um ano.
Segundo Cohen, Trump disse: “Certifique-se de que isso não será publicado”.
Os jurados então ouviram uma gravação de um telefonema entre Cohen e Trump. O ex-presidente dos EUA afirma: “Então, quanto pagamos por isso? Cento e cinquenta?”.
Ele estava se referindo ao valor de US$ 150 mil, que deveriam pagar para reembolsar David Pecker, do “National Enquirer”. O publisher do jornal havia “comprado” o direito de publicar a história de McDougal com exclusividade, mas o propósito não era realmente publicar, mas, sim, nunca revelar a notícia e evitar que ela saísse na imprensa.
Cohen: Trump deu calote quando os dois se conheceram
Cohen, de 57 anos, trabalhou durante quase dez anos como executivo e advogado para a empresa de Trump. Ele chegou a dizer que levaria um tiro pelo chefe e que seu trabalho era o de “resolvedor de problemas” –ele cuidava de “tudo o que Trump queria”.
Em vez de trabalhar como advogado corporativo, Cohen era diretamente subordinado a Trump, e nunca fez parte do escritório de consultoria jurídica geral da Organização Trump.
Era tarefa dele ameaçar pessoas com processos e plantar histórias positivas na imprensa, segundo seu próprio depoimento.
Trump, segundo Cohen, se comunicava principalmente por telefone ou pessoalmente –o ex-presidente nunca criou nem mesmo um endereço de e-mail. “Ele comentava que e-mails são como papéis escritos, que muitas pessoas se deram mal por terem e-mails, que os procuradores podem usar em um caso”, disse Cohen.
Cohen contou como foi chamado para trabalhar para Trump. Ele havia prestado um serviço para uma das empresas do então empresário e cobrou US$ 100 mil. Trump quis contratá-lo.
“Fiquei honrado. Fui pego de surpresa e concordei”, disse Cohen –Trump nunca pagou a conta de US$ 100 mil.
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