Diretor da PRF diz ao STF que pôs mais agentes na rua no 2º turno, quando corporação estava proibida de atuar, do que no início dos bloqueios bolsonaristas


Informação está em ofício enviado pelo diretor da corporação, Silvinei Marques, ao Supremo. Marques é investigado pelo Ministério Público Federal por eventual omissão nos bloqueios golpistas no país. PRF pede reforço para desbloquear estradas
Diego Vara/Reuters
O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Marques, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a corporação colocou mais agentes nas ruas no domingo, 30 de outubro, no 2º turno da eleição presidencial –quando a PRF estava proibida pelo TSE de fazer operações em rodovias– do que na segunda-feira (31), data em que começaram os bloqueios ilegais de bolsonaristas que não aceitaram o resultado da disputa, vencida por Lula (PT).
Marques é investigado pelo Ministério Público Federal por eventual omissão nos bloqueios golpistas no país.
A informação está em ofício da PRF –órgão do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato derrotado à reeleição– assinado por Marques e datado do último domingo (6). Um processo que corre no tribunal cobra da corporação detalhes sobre o esforço feito para liberar as rodovias federais.
O g1 procurou Marques, mas ele não quis se pronunciar. A reportagem solicitou posicionamento da assessoria de imprensa da corporação e aguarda uma resposta.
No documento, a Polícia Rodoviária Federal informou ao STF que 4.341 policiais atuaram nos 26 estados e no Distrito Federal no 2º turno das eleições; na segunda-feira, o contingente foi de 2.830, ou 34,8% menor.
Os dados também mostram que a PRF reforçou bem mais o efetivo para a operação do 2º turno –bloqueios e inspeções que, na prática, pararam veículos e dificultaram a chegada de eleitores aos locais de votação — do que para tentar coibir os atos golpistas de bolsonaristas. No domingo de eleições, 45,7% dos 4.341 policiais reforçavam a operação; na segunda-feira, 7,95%.
Ao STF, o diretor-geral da PRF argumentou que houve aumento de efetivo; para fazer essa análise, ele levou em conta, porém, apenas os policiais previamente escalados, e excluiu os reforços.
“No dia 30/10, foram 2.354 policiais operacionais que estavam na escala previamente definida ou foram convocados nas suas próprias unidades de lotação. Já no dia 31/10, esse número saltou para 2.605, um acréscimo de mais de 10%”, disse Marques no ofício.
O diretor lista ainda que outros 118 policiais atuaram em funções administrativas, ou seja, foram das ruas, no domingo de eleições (30) e outros 3.099 na segunda-feira seguinte (31).
Reforço em estados com mais bloqueios
No documento enviado ao Supremo, a PRF argumenta que reforçou as equipes, na segunda-feira, em estados com maior número de bloqueios bolsonaristas.
O g1 mapeou os bloqueios em todo o Brasil, com base em dados da própria PRF e também de concessionárias. Os três estados com mais bloqueios na segunda-feira (31) foram Paraná (64), Rio Grande do Sul (49) e São Paulo (48).
No Paraná, segundo os dados enviados pela PRF ao Supremo, houve 18 reforços (o equivalente a 7% do efetivo total); no Rio Grande do Sul, 14 policiais se incorporaram à operação de desbloqueio de estradas (6,5% do total). Em São Paulo, apenas um agente reforçou a operação — o que representa 0,45% do contingente de 222 policiais rodoviários federais.
Houve proporcionalmente maior emprego de reforço na Bahia (33%), onde ocorreram três bloqueios bolsonaristas, Roraima (20%), com cinco manifestações na segunda-feira pós-eleições, e Distrito Federal (19%), com apenas um ato golpista em rodovia.
Os números enviados pela PRF ao STF indicam que dez estados não contaram com agentes de reforço para atuar contra as barricadas bolsonaristas. Em relação ao percentual de acréscimo, 16 UFs receberam reforço inferior a 5% do efetivo total.
Mais policiais ao longo da semana
O domingo da eleição foi marcado por uma série de blitz feitas pela corporação a ônibus e outros veículos, ação que contrariou decisão do próprio STF.
Já na segunda-feira, em meio aos bloqueios bolsonaristas, o Ministério Público Federal questionou a reação da PRF para impedir bloqueios de rodovias pelo país.
Ao STF, a corporação alega que “envidou todos os esforços para o restabelecimento da normalidade e salvaguarda de novas interrupções do tráfego rodoviário”.
O efetivo cresceu na terça-feira (1º), com 4.367 agentes nas ruas (3.378 operacionais e 989 IFRs). O número é maior do que o total de policiais envolvidos com blitz no domingo. O reforço foi aumentado da quarta (2), com 3.784 PRFs (2.550 operacionais e 1.234 IFR).
Na quinta (3), a situação já estava mais controlada nas rodovias, que tiveram 3.208 agentes em serviço de rua (2.764 operacionais e 444 reforços IFR).
Custo das operações
O documento da PRF ao Supremo Tribunal Federal detalha os valores gastos nas operações para o 1º e 2º turno das eleições em todo o país.
Em 2 de outubro, primeira votação, a corporação teve R$ 3,5 milhões em recursos, valor que subiu para R$ 3,6 milhões no dia 30, data da segunda votação em todo o país.
A posição da polícia ao poder Judiciário detalha a necessidade de uma nova operação, denominada “Rescaldo”, para atuar contra os bloqueios feitos por bolsonaristas em todo o país.
Em apenas três dias, os gastos adicionais superaram R$ 14,7 milhões: foram R$ 970 mil na segunda-feira (31), R$ 10,8 milhões na terça (1º) e R$ 3 milhões na quarta-feira (2).
“Os recursos financeiros foram solicitados para viabilizar o reforço de efetivo, já que houve cortes orçamentários que atingiram algumas receitas”, diz a PRF.
Em seguida, a corporação justifica ao STF que teve corte orçamentário no meio do ano, depois de já ter empenhado 50% do valor previsto para todo o ano ao longo de seis meses.
A PRF alega que o corte causou contenção de custos, pois restam “em torno de 25% dos valores que foram executados no primeiro semestre para todo o segundo semestre de 2022”.
Por este motivo, alega a PRF, foi solicitado valor extra ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao qual ela está vinculada.

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