O deputado distrital Leandro Grass (PV) enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, neste sábado (15), um pedido para investigar a conduta do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em um encontro com meninas venezuelanas em comunidade do Distrito Federal.
Em entrevista a um podcast na sexta (14), Bolsonaro falava sobre a vinda de venezuelanos ao Brasil quando narrou um encontro com meninas de idades entre 14 e 15 anos durante um passeio de moto nos arredores de Brasília. Ao relatar o episódio, o presidente disse que “pintou um clima” ao interagir com as garotas menores de idade, que segundo ele estavam se prostituindo. Essa declaração gerou uma ampla repercussão e foi criticada por opositores nas redes sociais.
“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto […] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas… Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou.
No ofício enviado à PGR, Grass questiona por que o presidente não acionou as autoridades competentes para “para que providências fossem tomadas” e afirma que se trata de “caso gravíssimo”. O parlamentar pede que seja apurado “o que de fato ocorreu, com a urgência que o caso requer”.
“Se havia algum problema por ele [Bolsonaro] verificado, deveria procurar as instâncias de controle, justamente para que providências fossem tomadas. Há, na região, Conselho Tutelar ativo e que exerce seu mister com bastante competência. Há, no Distrito Federal, Ministério Público extremamente capaz e que tem agido de forma impecável nas questões relacionadas a direitos humanos. E há, em seu governo, Ministérios da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, bem como o Ministério da Justiça, que lida com questões relacionadas a nacionais de outros países que, ao que tudo indica, sequer foram acionados pelo Presidente. Estamos diante de um caso gravíssimo”, afirma o documento.
Grass diz ainda que “as ações do Presidente da República precisam ser investigadas, para que se verifique o que de fato ocorreu após ter ‘pintado um clima’, as condições em que se deram a entrada na residência em que estavam as adolescentes venezuelanas, quem administra o local e para que se apure se a sugestão de atividade ilícita, para ganhar a vida, esteja de fato ocorrendo”.
Presidente Jair Bolsonaro em entrevista ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro — Foto: Reprodução/Paparazzo Rubro-Negro
A entrevista de Bolsonaro a influenciadores de torcidas de futebol foi transmitida ao vivo na sexta (14), e o trecho com a fala sobre as garotas repercutiu neste sábado (15).
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado Federal, disse sentir “nojo” e “revolta” e afirmou que ficou “mais chocado com o que ele [Bolsonaro] é e o que representa”.
“NOJO, REVOLTA! O que Bolsonaro disse nessa entrevista, com tanta naturalidade, me deixou ainda mais chocado com o que ele é e o que representa! Ele disse que ‘PINTOU UM CLIMA’ entre ele e meninas de 14/15 anos. E ainda pediu para entrar na casa delas!”, afirmou Randolfe.
A cantora Daniela Mercury classificou a situação como “absurda” e questionou sobre o que o presidente Jair Bolsonaro quis dizer com a expressão “pintou um clima”.
“Essa situação é absurda. Como assim? Pintou um clima? O que isso significa? É preciso investigar imediatamente tudo que aconteceu dentro daquela casa. Ele é presidente da república e tinha a obrigação de defender as adolescentes contra qualquer tipo de exploração, ou crime”, afirmou Mercury.
Rosângela Silva, conhecida como Janja, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa a presidência com Bolsonaro nas eleições deste ano, afirmou que que “ouvir o ‘presidente’ falando que ‘pintou um clima’ com meninas de 14 anos” causa “revolta e indignação”.
“Trabalhei durante anos no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes na Tríplice Fronteira e ouvir o “Presidente” falando que “pintou um clima” com meninas de 14 anos me causa tanta revolta e indignação que nem consigo descrever aqui”, afirmou Janja.
A deputada federal pelo Distrito Federal Erika Kokay (PT) disse que é “muito grave” a afirmação de Bolsonaro. A parlamentar questionou a razão pela qual o presidente teria entrado na residência das meninas.
“É muito grave afirmação de Bolsonaro de que ‘pintou um clima’ com meninas de 14 anos, venezuelanas, em São Sebastião-DF. Pior, que ele teria entrado na casa onde estavam. Para fazer o quê? E ainda tem gente que elege um sujeito desse como representante da ‘família’?”, disse Kokay.
O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) disse que o presidente é “asqueroso e pervertido” e questionou “esse é o candidato que diz defender a moral e a família?”.
Talíria Petrone (PSOL), deputada federal pelo Rio de Janeiro, disse que “assim como Damares [ex-ministra], Bolsonaro faz apologia a crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Ele precisa ser investigado”.
O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou em suas redes sociais que “estava neste dia” e que o presidente saiu para “ouvir as necessidades do povo”.
“Estava nesse dia! Inacreditável o caráter desses da esquerda nojenta. O Presidente sai às ruas para ouvir as necessidades do povo enquanto o pessoal do “fique em casa” o fuzilava, faz uma live mostrando a realidade sofrida do povo e mesmo assim há quem insista na fakenews boçal!”, afirmou.
O senador Flávio Bolsonaro, irmão mais velho de Carlos, disse em suas redes sociais que Bolsonaro “sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia”.
“Completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia”, escreveu o senador.
Durante a entrevista, Bolsonaro também fez afirmações infundadas sobre o impacto da Covid-19 em crianças.
“A molecada não sofre com vírus. Você não viu moleque morrendo de vírus por aí. O que aconteceu: o moleque teve traumatismo craniano, caiu de bicicleta. Botavam em um leito UTI Covid, porque ele recebia por dia meu R$ 2 mil. Botou lá, se o cara morreu de traumatismo, tinha que botar Covid.”
No entanto, segundo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz a partir do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), a Covid-19 matou 539 crianças de 6 meses até 3 anos entre 2020 e 2021.
Durante a gravação, o candidato do PL à reeleição disse também que entregou “uma parte do poder” ao conjunto de partidos de centro e centro-direita, conhecido como Centrão.
“Centrão veio para nosso lado e você não tem notícia de eu ter entregue diretorias, bancos estatais para eles. Uma parte do poder entreguei, segundo escalão, entregamos e botamos pessoas para vigiar.”, afirmou.
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