“Ser carioca é ser alguém.
Nem melhor nem pior do que ninguém.
Famoso desconhecido, quem?
Com conta bancária ou sem
Que não tem medo do verão que vem.
Nascido ou não no Rio de janeiro, amém
É da gema do ovo ou da clara do povo
Tem como característica estar sempre elegante na foto, bem com a vida, versus qualquer tempestade
Como a das setas do Tião Padroeiro que contra a sua vontade respingam gotas de sangue ferindo sua cidade chamada maravilhosa, injustamente sofrida
Que corre o risco de achar expansiva, encamisada, exclusiva ou traçante
No cartão postal escondida a tal da bala perdida
Ser carioca é beber mais poluído e comer o biscoito jornal.
É lamentar o tatuí sumido das areias do seu litoral.
É dar um jeito no jeitão para disfarçar seus defeitos. fazendo de domingo todos os dias lindos e feriado improvisado de qualquer dia nublado.
Ser carioca é morar no River of January na Barra da Tijuca,
conviver no end of the world que a esperança batuca, transformando o samba em marcha cara de pau só pra caber no tempo de atravessar o Sambódromo no carnaval
É harmonizar a labuta para não fugir da luta
É usar o seu desgosto para pagar imposto
É fingir que foge da raia para ser descoberto na praia fazendo o que for preciso para bronzear seu sorriso
Ser carioca é ver a existência como se fosse um coco e tratar o sol como se fosse Deus
É ver seu rosto na face do Cristo para ter certeza que é visto
E ter a bexiga cheia de sorte para mijar no sorteio da morte
É estar sempre na moda para gourmetizar a foda
Fazendo um menu de afeto sob as bençãos do Redentor
Em qualquer sotaque que for ser carioca é ser do mundo
Desde que tenha seu lindo mar imundo para pescar amor lá no fundo”