A celebração do Mês da Herança Asiática Americana e das Ilhas do Pacífico (AAPI) nos convida a refletir sobre a intrínseca ligação entre a natureza e as culturas ancestrais. Um artigo da Wildlife Conservation Society (WCS), publicado originalmente no blog da Nature, nos oferece uma janela para essa relação simbiótica, narrada a partir da experiência de uma menina crescendo em meio aos campos de arroz do sul da Índia.
Um Legado de Conexão com a Terra
A narrativa da menina, que cresceu em Srirangam, nos mostra a natureza não como um cenário distante, mas como parte integrante de sua vida. As memórias de infância, descalça pelos campos, revelam um contato direto e visceral com o meio ambiente. Essa conexão profunda molda uma compreensão particular sobre a importância da preservação, não como uma atividade isolada, mas como um compromisso com a própria sobrevivência e identidade cultural.
O Paradoxo da Conservação e o Deslocamento de Comunidades
O artigo da WCS nos confronta com uma dura realidade: a conservação da natureza, por vezes, paradoxalmente, pode levar ao deslocamento de comunidades indígenas e tradicionais. Áreas protegidas, criadas com a intenção de preservar a biodiversidade, acabam por restringir o acesso dessas populações aos recursos naturais dos quais dependem para sua subsistência. Essa contradição expõe a necessidade urgente de repensar as estratégias de conservação, colocando as pessoas no centro das decisões.
A Voz das Comunidades Locais: Um Imperativo Ético
A proteção do planeta não pode ser dissociada da proteção dos direitos humanos. As comunidades indígenas e tradicionais, guardiãs de saberes ancestrais sobre o manejo sustentável dos recursos naturais, devem ser ouvidas e incluídas nos processos de tomada de decisão. Ignorar suas vozes é não apenas uma injustiça social, mas também um erro estratégico, pois impede a construção de soluções eficazes e duradouras para os desafios ambientais que enfrentamos.
Empoderamento e Justiça Ambiental: O Caminho para um Futuro Sustentável
A chave para uma conservação bem-sucedida reside no empoderamento das comunidades locais. Ao garantir o acesso à terra, aos recursos naturais e à participação política, estamos investindo em um futuro onde a justiça social e a sustentabilidade ambiental caminham juntas. Projetos de conservação que respeitam os direitos e os conhecimentos tradicionais, que promovem a autonomia e a autodeterminação das comunidades, são os que têm maior probabilidade de gerar resultados positivos a longo prazo.
Um Chamado à Ação: Repensando a Conservação
A experiência da menina de Srirangam nos ensina que a natureza não é um objeto a ser preservado à distância, mas sim um tecido vivo do qual fazemos parte. Proteger o planeta exige um compromisso com a justiça social, com o respeito à diversidade cultural e com o reconhecimento do papel fundamental das comunidades locais na conservação da biodiversidade. É hora de repensarmos nossas abordagens, de ouvirmos as vozes que foram silenciadas por tanto tempo e de construirmos um futuro onde a natureza e a humanidade prosperem em harmonia.
Para aprofundar a reflexão sobre este tema, sugiro a leitura do artigo “Linking biodiversity conservation and the Sustainable Development Goals” publicado na revista PNAS: https://www.pnas.org/doi/full/10.1073/pnas.1906665116
E o artigo “Indigenous and Traditional Peoples’ territories amount to 37% of the Earth’s remaining intact landscapes” publicado pelo Journal of Sustainable Forestry: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10549811.2023.2166399