A 10ª edição da premiação aconteceu de 17 a 25 de setembro, em Viena, na Áustria. O jovem, que nasceu em Parelheiros, bairro localizado na Zona Sul de São Paulo, apresentou o “Concerto para Violino em Ré Maior, op. 77”, composto por Johannes Brahms em 1878.
A conquista se dá apenas dez meses após um incidente triste na vida do violinista. Guido participaria da competição Vladmir Spivakov, na Rússia, mas não conseguiu chegar ao destino e retornou ao Brasil deportado.
Segundo seu pai, Silvano, Guido “não conseguiu competir, ficou 08 horas preso na imigração. E agora ele volta com toda a honra para apagar aquele episódio infeliz”.
Guido Sant’Anna, aos 8 anos, durante participação no “Programa do Jô”, em 2013 — Foto: Reprodução/Globo
Guido Sant’Anna começou a tocar violino aos 5 anos de idade e tem Jascha Heifetz (1901-1987) como seu violinista preferido.
O jovem segue morando com a família na Zona Sul de São Paulo. Mas segundo o pai do músico, a família alugou uma residência mais próxima à escola e à casa da professora de violino de Guido para facilitar os estudos do filho.
“A distância era um grande problema. A qualidade do transporte público tomava muito tempo para a escola [tempo integral] e as aulas de violino. Sobrava pouco tempo para descanso e estudo do instrumento. Para minimizar esse problema, alugamos uma casa próxima da escola e da professora, mesmo estando ainda na zona Sul. Isso facilitou muito a logística e ampliou os horários de descanso e estudo”, explica Silvano ao g1.
Guido iniciou seu contato com o violino inspirado em seu irmão mais velho, que também tocava o instrumento. “Eu gostava de ouvir meu irmão maior tocando”, afirmou Guido, aos 8 anos, durante participação no “Programa do Jô”, em dezembro de 2013. (Assista na íntegra)
O violinista Guido Sant’Anna — Foto: Reprodução/YouTube
O Maestro Julio Medaglia, responsável por levar Guido ao programa, disse que “parou de respirar” quando viu Guido tocar pela primeira vez.
“Inclusive meu instrumento é violino, essas czardas, eu não chegava a tocar com essa qualidade toda. Realmente é uma coisa formidável”, completou Medaglia, que usou o Instagram para parabenizar o violinista pela nova conquista.
“Desde muito novo, quando você tinha somente 8 anos e participou do Programa Prelúdio eu sabia que você iria longe e agora você conquistou o prêmio máximo! Meus parabéns, merecidíssimo”, escreveu o maestro, que ainda em 2013, previu: “vai ser um grande artista internacional, se tiver condições”.
Desde 2014, Guido integra o quadro de bolsistas do Instituto Cultura Artística. Segundo dados da instituição, suas aulas e viagens são financiadas por um doador estrangeiro anônimo.
O músico, que aos 13 anos de idade foi aprovado para uma bolsa da escola americana Graded, segue tendo aulas com Elisa Fukuda, sua professora desde os 8 anos.
Antes de vencer o Fritz Kreisler, Guido participou do de três edições do Amis Festival (2017 Bruxelas, 2018 Madrid e 2019 Moscou), do Menuhin Competition em 2018, e do Perlman Music Program, no Summer Music School em Shelter Island (NY), nos anos de 2018 e 2019.
Na grande final da competição da Áustria, Guido enfrentou Michael Shaham, de 19 anos, de Israel, e Rino Yoshimoto, de 19 anos, do Japão.
“Nosso objetivo com essa competição era apenas que ele se destacasse, para que assim, ficasse mais fácil para conquistar bolsas de estudos em universidades de música renomadas no exterior. Quando ele avançou para a primeira final, já havia sido uma surpresa. Era mais do que esperávamos”, afirmou o pai de Guido, que ainda celebrou:
“Ter vencido, já não foi só para abrir mais as portas para conseguir melhores Instrumentos ou bolsa de estudos. Foi fazer a classe de músicos de todo o Brasil, que passam pelas mesmas dificuldades, a se sentirem representados e acreditarem que o Brasil tem talentos, que a música erudita vive no Brasil e tem muitos representantes nas periferias que podem estar lá.”
Guido Sant’Anna durante apresentação no Prêmio Internacional de Violino Fritz Kreisler na Áustria — Foto: Reprodução/YouTube