Foi impedimento? A bola saiu? Tudo depende do ângulo que você vê, que pode ser o certo ou o errado. Gol de Cristiano Ronaldo foi anulado em jogo contra a Suíça por causa de impedimento.
Paul Childs/REUTERS
Se você costuma questionar o árbitro quando um impedimento é marcado, saiba que pode estar cometendo um erro de paralaxe. Há milhares de anos, o conceito é usado por astrônomos para medir a distância entre objetos no céu, mas também pode ajudar a explicar lances polêmicos no futebol.
Um exercício simples ajuda a entender como funciona a paralaxe: estenda o braço e, com o polegar, tape um objeto ao fundo. Feche o olho direito. Depois, troque e feche o olho esquerdo. Parece que o objeto se deslocou, não é mesmo?
Isso é paralaxe: o deslocamento aparente de um objeto por conta da mudança do ponto de vista do observador.
“Quando você tapa um dos olhos, tem a impressão de que o objeto está em um lugar diferente, mais à esquerda ou mais à direita. Isso acontece por causa da distância dos nossos olhos. É como se você estivesse olhando de duas posições diferentes”, explica Aline Novais, doutoranda em astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Objeto parece se deslocar quando visto com um olho aberto e outro fechado
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A paralaxe é datada do período da Grécia Antiga e usada na astronomia para medir a a distância das estrelas usando o movimento da Terra em sua órbita.
“Você observa a estrela numa data específica e depois observa a mesma estrela seis meses depois, porque a Terra estará do outro lado da órbita. Vai acontecer a mesma coisa que acontece quando você observa com um olho de cada vez: parece que a estrela se desloca. Mas, na verdade, isso é aparente e acontece por causa da distância angular, que é a paralaxe”, afirma Aline.
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Qual a relação com o futebol?
Mas o que isso tem a ver com futebol? A paralaxe pode ser usada, por exemplo, para explicar as divergências entre torcedores e árbitros nos impedimentos.
O professor de física Douglas Gomes explica que, ao traçar uma linha de impedimento, o referencial é o campo – e não a visão que você tem dele em uma transmissão de TV, por exemplo.
“Quando a gente assiste a um jogo, a gente enxerga a partir do nosso ponto de vista. Temos dificuldades em fazer o traçado geométrico que vai levar o referencial para o campo. A mudança de referencial é algo tão complicado que até hoje tem gente que acha que o Sol gira em torno da Terra”, disse o professor, entre risos.
O torcedor, então, pode ter uma visão aparente de um impedimento que deveria ter sido marcado pelo árbitro, mas não foi, segundo a opinião dele. A explicação está na posição em que o torcedor se encontra, que pode dar uma visão distorcida do lance.
“Um erro de paralaxe é um erro que a gente comete quando se encontra em uma posição de observação que não vai nos dar a verdadeira posição dos jogadores. Ele acontece quando você não consegue identificar quem está à esquerda ou à direita de forma correta”, ressalta Gomes.
O árbitro também precisa estar bem-posicionado, justamente para ter o campo como referência.
“Para esse árbitro em posição inadequada, o jogador que seria o zagueiro está à esquerda dele e o atacante do outro time está à direita. Mas se a gente for olhar para o campo, é ao contrário”, disse o professor de física. “Por isso, o auxiliar de arbitragem precisa acompanhar o último homem da defesa, para ficar na mesma linha que ele em relação às paralelas do campo”.
Posição do árbitro é determinante para evitar erros de paralaxe
g1
Tudo é questão de ângulo
É fato que, em determinados casos, é praticamente impossível fazer a análise com um rápido golpe de vista humano. Assim, a tecnologia do VAR entra em campo para solucionar lances como o que determinou o gol na vitória do Japão sobre a Espanha, na fase de grupos da Copa do Catar.
A FIFA usou imagens da câmera da linha do gol para confirmar que a bola não saiu totalmente de campo. Porém, muitos teimam até hoje que a bola sim estava fora.
Gol regular, embora polêmico, do Japão em virada sobre a Espanha
Dylan Martinez/Reuters
A paralaxe explica: dependendo do ângulo que você olha, realmente parece que a bola saiu. Mas imagens vistas de cima, tendo a linha de fundo como referência, mostraram que faltou muito, mas muito pouco para a bola cruzar totalmente a linha. E, por isso, o gol foi válido.
“A nossa visão tem muitos elementos que podem enganar. Não diria que sejam ilusões de ótica, mas há algumas alterações em relação à percepção do que a gente vê. Às vezes, o que a gente vê não é realmente o que acontece”, ressalta o professor de física, Douglas Gomes.
Lance milimétrico checado pelo VAR determinou gol do Japão na Copa
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