Como educar filhos (e filhas) antimachistas: veja 4 dicas essenciais


Diante do estereótipo de que cabe à mulher a maior parte da responsabilidade de cuidar da casa e da criação dos filhos, mesmo quando trabalha fora, é fundamental educar tanto meninos quanto meninas para romper esse ciclo machista. Dicas de como criar filhos antimachistas.
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Quantas vezes você já ouviu que “mulher tem mais jeito para cuidar da casa” ou que “trocar fralda não é coisa de homem”? Em uma sociedade como a brasileira, em que muitas mulheres sofrem com a tripla jornada ao trabalhar fora de casa e ser ainda responsável pelas tarefas domésticas e a criação dos filhos, é fundamental educar desde cedo tanto meninos quanto meninas para quebrar esse estereótipo e romper o ciclo machista.
(Esta reportagem é parte de uma série que o g1 sobre como a falta de equilíbrio na divisão de tarefas impacta na educação dos filhos e ainda como “desenhar” para os pais o que é a carga mental das mães.)
🤨 Mas, afinal, o que é o machismo? É o comportamento, expresso por opiniões e atitudes, que prega que, por suas diferenças, homens e mulheres devem desempenhar papéis diferentes. Isso se reflete dentro de casa e em outras esferas, como no mercado de trabalho, em que, por exemplo, apenas 29% das mulheres estão em cargos de liderança.
O feminismo, ou o antimachismo, em contrapartida, não é um movimento contra os homens. É, na verdade, a defesa da igualdade de direitos entre os gêneros em todas as situações, inclusive a familiar.
⚠️ Quais as consequências do machismo? Vão desde a sobrecarga feminina no ambiente doméstico, com impacto na educação dos filhos, ao desrespeito pelas mulheres, como os movimentos “redpill”, e até situações de insegurança e violência. Em 2022, o Brasil bateu recorde de feminicídios, com uma mulher morta a cada 6 horas.
📝 E por que é importante educar contra o machismo desde cedo? Segundo a psicóloga infantil Cíntia Gouvea, ajudará a tornar as crianças mais respeitosas e conscientes sobre seu papel como cidadãs. O lar, ressalta, é “o norte que vai guiar a criança na construção de sua identidade”.
“A ideia não é ‘militar’ com a criança, mas transformá-la em um adulto funcional, que saiba ser independente. Então, meninas viram mulheres que sabem se impor e meninos viram homens que sabem se virar sozinhos”, afirma.
Para a psicanalista e psicóloga Renata Bento, que tem especialização em psicologia clínica com criança, não há uma idade mínima para trabalhar o tema na vida da criança. Segundo ela, deve ser algo naturalizado em casa.
Dicas para uma educação antimachista:
1. Dê o exemplo dentro de casa
Se a criança cresce em um ambiente respeitoso, equilibrado e diverso, é muito mais fácil ela replicar estas características na vida futuramente.
A psicanalista Renata Bento concorda. “É importante que a noção de igualdade esteja presente na família desde sempre para a criança crescer com [o antimachismo] como algo natural”, avalia.
Exemplos de situações machistas no cotidiano:
Assumir que a mulher tem mais jeito com a casa apenas por ser mulher: A verdade é que as mulheres são ensinadas a cuidar da casa desde cedo, enquanto os homens são dispensados de aprender sobre o assunto. Isso pode levar o homem a se tornar um adulto que não sabe lidar com afazeres domésticos, mas que pode aprender, mesmo crescidinho.
Achar que existe coisa de homem e coisa de mulher: Algumas convenções da sociedade machista rotulam cozinhar, lavar roupa e cuidar dos filhos como coisas de mulher, enquanto jogar bola, trabalhar fora e assistir futebol são do universo masculino. Mas estas são convenções ultrapassadas que não condizem com a realidade. Cada um pode e deve fazer o que quiser.
Agir como se a opinião da mulher fosse inferior à do homem: É comum que falas e opiniões femininas sejam descredibilizadas, enquanto as de homens são aceitas como a verdade.
“Ajudar” nos afazeres de casa ou na criação dos filhos: Se um homem e uma mulher vivem juntos na mesma casa, a responsabilidade pelo lar deve ser dos dois. Um homem que lava a louça e recolhe a roupa não está “ajudando” a parceira, está cumprindo com sua obrigação como habitante daquele espaço. A divisão de tarefas vale também na criação dos filhos – mesmo se os pais não forem casados.
2. Converse sobre o assunto
Tão importante quanto mostrar via exemplo é conversar com a criança sobre o assunto. Ao dialogar sobre algo, a criança percebe a abertura dos pais e fica mais à vontade para se expressar e trazer eventuais dúvidas.
Isso é importante também para explicar que aquele tema pode ser tratado de outra maneira em outros ambientes e dá aos pais a chance de reforçar que, no lar da família, a dinâmica é aquela.
Por exemplo, se os avós da criança têm uma relação diferente, em que avó seja sempre submissa ao avô, isso pode servir de exemplo para a criança entender que nem todos agem como seus pais.
A conversa também vai ajudar a criança a reconhecer e respeitar as diferenças.
3. Estimule a criança a pensar
Pais podem trabalhar educação antimachista com os filhos.
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O machismo afeta o comportamento, mas também reprime o sentimento, especialmente nos homens, e este aspecto também deve ser trabalhado nas crianças.
Vamos supor que o menino chega em casa triste e ouviu de alguém que homem não chora. Os pais podem explicar que é um conceito antigo e as coisas mudaram, para o filho saber que pode chorar se sentir vontade e que isso não faz dele mais ou menos homem.
O estímulo também pode vir direto dos pais, que devem dar abertura para a criança demonstrar fragilidades e dúvidas. O pai, por sua vez, pode transparecer a sensibilidade e mostrar para a criança que ele tem sentimentos e isso é normal.
4. Normalize a igualdade em conceitos diários
As brincadeiras podem ser aliadas ao ensinar e ajudar a criança a entender que igualdade independe da situação.
Ao aprender que podem brincar de boneca e de casinha, os meninos vão crescer achando natural a divisão de tarefas para cuidar dos próprios filhos e da casa. Assim como meninas podem brincar de bola e com carrinhos se quiserem para saber que as suas escolhas não devem ser limitadas na vida adulta.
A leitura também pode ser útil nesta empreitada, especialmente com obras literárias infantis que promovam a igualdade entre os gêneros.
🎯 Benefícios para a vida toda
Para as especialistas, estas práticas corriqueiras vão dar às crianças liberdade, flexibilidade e sensibilidade para mostrar suas características, transformando-as em adultos mais “completos”.
“Homens adultos tendem a ter grandes dificuldades de acessar e falar sobre seus sentimentos, mas eles sentem, internalizam e sofrem por isso. É quase como se fosse vergonhoso. Então, esses homens poderiam ser muito mais felizes se conseguissem trabalhar em si mesmos estes aspectos, e preparar a criança e normalizar isso vai fazer com que ela sofra menos na vida adulta”, avalia Renata Bento.
Da mesma forma, as mulheres também podem ser mais felizes se tiverem mais liberdade de escolha e menos obrigações.
“No final, trata-se de preparar os adultos de amanhã para serem independentes e autossuficientes”, observa.
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