Cida Moreira segue toadas nobres ao cantar modinhas no II ‘Festival Mário de Andrade’ | Blog do Mauro Ferreira

SÃO PAULO – Por sempre ter pairado acima das modas do mundo da música, o canto perene de Cida Moreira se aclimata tanto na atmosfera de cabaré como na ambiência evocativa de salão imperial onde as modinhas eram a trilha sonora preferencial.

Na tarde deste sábado, 22 de outubro de 2022, a cantora paulistana pôs a voz maturada a serviço de modinhas, muitas de autores anônimos, recolhidas pelo poeta e musicólogo Mário de Andrade (1893 – 1945).

Atração musical da segunda edição do Festival Mário de Andrade, evento multimídia em cartaz de 21 a 23 de outubro na cidade de São Paulo (SP), Cida apresentou no hall da Biblioteca Mário de Andrade o show Modinhas brasileiras.

Acompanhando-se ao piano, ladeada pelos músicos Omar Campos (violão) e Yuri Salvagnini (acordeom), a artista tirou momentaneamente de cena a despudorada dama do cabaré para incorporar intérprete de alma melancólica, hábil no canto de músicas que caracterizou precisamente como “românticas, delicadas e ingênuas como a gente já não é mais”. A artista se referiu a modinhas como Róseas flores d’alvorada e Hei de amar-te até morrer.

Aberto e encerrado com O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos, 1930, com letra de Ferreira Gullar, 1978), o roteiro seguido por Cida também pôs nos trilhos temas de outros gêneros musicais afinados com o espírito tristonho das modinhas.

Foi o caso do pioneiro samba-canção Linda flor (Yayá) (Luiz Peixoto, Marques Peixoto, Henrique Vogeler e Cândido Costa, 1919), tema de empatia imediata com a plateia pela beleza melódica e a melancolia, elementos também presentes em Quem sabe (Tão longe de mim distante) (Carlos Gomes e Francisco Bittencourt Sampaio).

Por ser intérprete vocacionada para os palcos, com canto teatral, Cida Moreira emocionou a plateia ao acertar o tom exato da melancolia entranhada em Azulão (Jayme Ovale e Manuel Bandeira, 1944) e Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo, 1933), obras-primas do cancioneiro popular brasileiro de alma mais lírica.

Nas águas de Chuá, chuá (Pedro de Sá Pereira e Ari Pavão, 1925), modinha de tom ruralista evocado pelo toque do acordeom de Yuri Salvagnini, Cida explorou os agudos da voz maturada pelo tempo em outro momento tocante de recital embebido na nobreza do canto da dama e de sentimentos de música de tempos idos em que o amor romântico era a moda.

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