Em ensaio, g1 conversou com cantora, antes do show deste sábado (25) no Lollapalooza. ‘Prefiro ter um público fiel que levanta tag para falar da minha música nova. E eu nem pago pra eles.’ Em um estúdio na zona sul de São Paulo, Carol Biazin tenta se movimentar com uma roupa azul volumosa que usará no Lollapalooza. Ela mostra o figurino para uma parte de sua banda. “O que era pra ser essa roupa aí? Um macacão?”, pergunta a guitarrista. “Não, são vários casacos colados um no outro”, a figurinista explica.
A roupa feita com vários casacos será um dos looks do show de sábado (25) da cantora paranaense de 25 anos. “Tocar no Lolla é como uma comprovação para mim, do tipo ‘você fez a coisa certa’, sabe? ‘Você estava no caminho certo’. Antes, vou estar em pane, mas na hora some tudo. Geralmente, eu fico tão em êxtase que quando você vê já acabou”, diz ela ao g1.
Ela avalia a atual fase, desde que revelada em 2017, no “The Voice Brasil”. “Eu acho que eu mudei não só fisicamente. Mudei a minha voz, o meu jeito de escrever. Eu me sinto mais segura com as coisas.”
Carol Biazin fez parte do time de Ivete Sangalo e ficou no segundo lugar do ‘The Voice Brasil’, em 2017
Divulgação/TV Globo
Ela diz que o show de 45 minutos será “como uma grande festa”. Quase toda apresentação será baseada no álbum “Reversa”. O segundo disco da carreira saiu em no mês passado, com uma história contada, de trás frente e em três atos, sobre o término de uma relação: Carol namorou a também cantora Day Limns por quatro anos. Elas terminaram em 2022. No mesmo ano, quando foi ao Lolla pela primeira vez, disse para um amigo que estaria no palco do festival no ano seguinte. “Não tinha sido convidada nem nada, apenas joguei pro universo.”
Caroline dos Reis Biazin morou em três cidades paranaenses (São João do Ivaí, Campo Mourão e Curitiba) até ir para São Paulo tentar a sorte como cantora. “Eu perdi um pouco o sotaque”, diz ela. “Acho que ainda tem um pouco desse ‘r’ puxado, né? A galera me zoa um pouco. Pensam que eu sou do interior de São Paulo.” A timidez e o ar interiorano foram se perdendo também, à medida que “porrrtas” foram se abrindo.
Em 2016, competiu no “X-Factor”, da Band, reality que a deixou com mais traumas do que com boas recordações. “Eu era muito inexperiente, não conseguia me comunicar com as pessoas. Eu não conseguia fazer amigos rápido”, recorda. “Cheguei lá e tinha uma galera muito desenvolta. Todo mundo se vestindo de um jeito estranho e eu falava: ‘caramba, eu tô aqui com a minha camisetinha e calça jeans e tal… como é que eu vou chamar atenção aqui?’.”
A eliminação em uma das fases iniciais a deixou insegura. O fato de se achar normalzinha demais também contribuiu com isso. “Eu me senti inapta”, resume Carol. “Senti que eu não era capaz de ser arista, de fazer o que eu queria fazer. Eu pensei: ‘caramba, acho que eu sou muito comum para isso’.
Carol teve vontade de largar a música, em mais de um sentido. “Tinha entrado na Faculdade de Música em Curitiba naquela época e lembro que liguei para o meu pai chorando muito. Ele foi tentando me acalmar. Eu estava muito estressada e muito fora de mim. Aí ele falou: ‘Vem para cá e fica com a gente’.” Passou um mês com os pais em Campo Mourão tentando se “reconectar de alguma forma com a música”.
Capa do EP ‘S’, lançado por Carol Biazin em 2019
Reprodução
Os pais a fizeram ver que aquele primeiro baque era parte do percurso. “Eles conversaram muito comigo, diziam que eu tinha levado o meu primeiro grande não.” Mas, peraí, você não tinha passado na seletiva do “X Factor”? “É mesmo, né? Tipo, eu passei. Eram 30 mil pessoas na fila. Eles colocaram essa ideia na minha cabeça, deram uma dose de autoestima para mim. E aí eu voltei faculdade.”
Ela mal tinha voltado aos estudos, quando veio o convite para o “The Voice”. Ela foi escolhida após mandar duas covers: uma de “Send my love”, de Adele; outra de “Bang”, da Anitta. “Estava todo mundo fazendo cover acústico de música pop na época.”
Nas gravações dessas versões e nas apresentações em busca da vaguinha no reality, resolveu empunhar o violão. Ela já havia sido negada uma vez no programa e queria, desta vez, fazer diferente. Quatro cadeiras viraram e ela foi parar no time de Ivete Sangalo.
“A cidade parou pra me ver, foi muito doido”, recorda, sorrindo. “A galera ficou falando: ‘Cara, é uma menina daqui’. Era como se fosse final de copa para eles. Foi uma grande experiência, a partir daí foi que eu consegui um grande público para mim. Aquela que era pressão que de verdade. Você tem que viver para entender.”
Carol Biazin
Divulgação/acid.vk
Bem antes do segundo lugar no “The Voice”, Caroline já sabia que queria cantar por aí. A primeira vez que notou que levava jeito para a coisa foi quando tinha oito anos, durante uma viagem de praia com a família. Família mesmo, com primos e tios que insistiram que ela cantasse para eles.
“Na época, estava tocando muito aquela música ‘I’m yours’, do Jason Mraz, e eu estava tentando aprender. Eu subi no balcão da cozinha e eu comecei a tocar, meio batendo as mãos”, recorda, imitando meio que um batuque. “Meus pais ficaram pensando: ‘de onde essa menina esse negócio?’ Eles ficaram impressionados.”
Ela começou a fazer aula de violão, incentivada pela família, mas demorou a ganhar o primeiro instrumento. “Minha mãe sempre foi uma taurina pé no chão”, define. “Ela tinha uma coisa sistemática. Eu sou igual a ela, sou taurina também, então ela tinha falava que eu tinha que aprender a tocar primeiro, depois a gente vê se vai dar certo, senão você vai deixar o violão encostado.”
Após quase um ano de aulas, ganhou o sonhado primeiro instrumento (levando em conta que a bancada da cozinha na casa de praia não é um instrumento, é claro). “Eu ganhei numa Páscoa, pouco antes do meu aniversário. E aí ele me deu esse violão da Giannini pretinho. Não tenho mais ele, fiz a burrada de vender, mas eu me arrependi muito disso.” A partir daí, fez o que tinha que fazer: dos shows em barzinhos às gravações caseiras. “Gravava e editava tudo sozinha. Não ficava da melhor qualidade, porque eu não sabia mixar, mas era o que tinha.”
Feat com Glória Groove, hit de Luísa Sonza
Capa do single ‘Rolê’, de Carol Biazin com Gloria Groove
Divulgação
A carreira foi ganhando corpo com músicas como “Raio X”, com Dilsinho, e “Rolê”, com Glória Groove. A projeção trouxe um apelido adotado por fãs e por ela mesma: “Carol é do contra”. “Eu me via muito sendo essa artista que gosta de fazer um esforço a mais para chegar em algum lugar”, ela explica. “Fico meio nadando contra a maré, eu sou meio do contra mesmo. Eu tento fugir o máximo que eu posso de ser convencional, o que pode ser um defeito, dependendo do ponto de vista.”
Cantar música de outros artistas, a fez entender o processo de composição melhor. Ela passou a escrever para outros artistas, como Rouge e Vitão. Mas é “Penhasco”, cantada por Luísa Sonza, o maior hit coescrito por ela. Ela separa muito bem as coisas: tudo é bem mais pessoal quando está compondo para a própria carreira.
Não parece ser tão fácil para Carol estar sempre no centro das atenções. Em um dos ensaios antes do Lolla, ela começa meio sem jeito cercada pela banda: um septeto basicamente só de mulheres (só o baterista é um rapaz). “Eu queria ter a sensação de ser alguma de vocês”, ela diz, distraída. “Eu tenho que ficar aqui, todo mundo me olhando.” Ela dá uma ligeira sambada. “E se eu cair? Vocês podem cair.” Enquanto isso, uma das duas backing vocals faz uma boa observação sobre o som que está saindo de seu fone de ouvido, diz que está ouvindo “um eco de banheiro de igreja”.
Carol concorda que existe um certo conflito em sua vida artística: o que ela quer para a carreira x o que esperam de você. Até que ponto essa parte ser mais diva pop é uma concessão a ser feita pela carreira? “Tudo que eu tenho feito é com muita paciência”, ela explica. “Minha vida inteira foi assim, tudo foi coloca um tijolo, coloca cimento, coloca mais um tijolo”, compara, gesticulando com uma mão em cima da outra. “Eu prefiro mil vezes fazer assim e ter um público fiel que levanta tag para falar da música nova. E eu nem pago pra eles. Eles simplesmente gostam de mim”, diz rindo.
“Às vezes você alcança uma massa, e é lindo. Amanhã, você não vai ter mais aquele grande hit para segurar essa galera… Então, eu prefiro que as coisas aconteçam devagar, porque talvez eu não esteja pronta para para segurar um público grande. Não vou mudar de um dia para o outro só para agradar as pessoas.”
Mas ela quer ser ouvida pelo maior número de pessoas, é claro. “Eu não consigo imaginar minha avó ouvindo música pop, o pop tem um público jovem, mais nichado”, ela define. “Mas minha mãe sabe quem é o Jão, ‘Idiota’ furou a bolha, ele canta um tema universal… ‘Penhasco’, da Luiza, chegou na minha avó, ela conhece.” E não é só por ela ter sido composta pela própria neta, é claro.
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