Os animais já são usados para isso há muito tempo, eles podem identificar o cheiro de suor, hormônios, sangue, excrementos ou até mesmo hálito humano. Quando farejam alguém soterrado, latem e sinalizam com as patas. Cães farejadores durante cerimônia para enviar equipe de busca e resgate para a Turquia, em Jacarta, Indonésia, nesta quinta-feira (9)
Ajeng Dinar Ulfiana/Reuters
Toda vez é como um pequeno milagre: na Turquia e na Síria ainda estão sendo resgatados sobreviventes sob os escombros do terremoto. Cães farejadores ajudam nas buscas. No futuro também deverão ser usados robôs.
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As equipes de resgate trabalham incansavelmente 24 horas por dia na busca por sobreviventes soterrados sob os escombros deixados pelos terremotos na Turquia e na Síria na segunda semana de fevereiro. As chances de encontrar sobreviventes diminuem a cada dia que passa.
Há várias maneiras de descobrir onde possa haver pessoas vivas sob as montanhas de ruínas. Às vezes até é possível a comunicação direta. Voluntários e equipes de ajuda humanitária interrompem seu trabalho quando creem ter ouvido um sinal de vida. Por vezes, os soterrados podem chamar a atenção com gritos ou batidas, ou até mesmo enviar uma mensagem para a família ou amigos.
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Entretanto, essas são exceções. Normalmente, os socorristas dependem de outros métodos para procurar sobreviventes. O projeto da União Europeia Cursor (abreviatura para o nome em inglês de Uso Coordenado de Equipamentos Robóticos Miniaturizados e Sensores Avançados para Operações de Busca e Resgate) apresentou na terça-feira (7) robôs e drones para ajudarem a resgatar vítimas dos escombros de terremotos.
Os pequenos robôs sobre rodas são equipados com câmeras infravermelhas e térmicas, e sugam o ar do local através de um tubo, a fim de verificar a presença de CO2 e proteínas específicas de seres humanos, localizando-os sob os escombros. Com a ajuda de alto-falantes e microfones, pode-se fazer contato com os soterrados. E drones fornecem imagens 3D do local.
Quando persistem os tremores secundários, a busca por sobreviventes é “altamente perigosa [para equipes de resgate], porque tudo pode desmoronar”, diz Karsten Berns, cientista da computação e chefe do departamento de sistemas de robôs da Universidade Técnica da Renânia-Palatinado. “É isso que se quer melhorar com sistemas autônomos como este.”
O que fazem os robôs de resgate?
Berns é especialista em resgate com robôs em áreas de terremotos − sua equipe fez parte de um projeto similar ao Cursor em 2016. Os robôs com que Berns trabalhou no projeto também tinham o objetivo de facilitar a atuação das equipes de socorro.
Havia tanto pequenos veículos sobre esteiras com sensores infravermelhos, como grandes robôs semelhantes a escavadeiras. Graças a sua capacidade de mover escombros pesados ou partes de prédios, e de ser operados a um quilômetro de distância, nenhum operador de escavadeira fica exposto a perigos. Enquanto isso, uma câmera transmite para a central de controle o que o robô “vê”.
Alguns robôs que exploram casas desmoronadas podem ser equipados com sensores de gás: não apenas o risco de desmoronamento, mas também o de uma explosão é alto, devido a tubulações danificadas após um terremoto.
Ainda não operacionais
Tanto os robôs da equipe de Berns quanto os novos exemplares do projeto Cursor são apenas protótipos desenvolvidos em pesquisas e testados no contexto de apresentações individuais.
No entanto, nenhuma dessas máquinas pode ajudar a encontrar soterrados na área do terremoto turco-sírio. A produção em série para uso em desastres reais ainda está longe de ser realidade.
Para tal, é preciso por exemplo esclarecer a questão dos custos: quem deve financiar a produção de máquinas tão caras, quem pagaria o transporte para as áreas do terremoto? Na área de pesquisa não há capacidade de arcar com esses custos, diz Berns em entrevista à DW: é aqui que a indústria tem de se mexer.
O que é melhor: robô ou cão farejador?
Uma vantagem muito clara dos cães de resgate é que eles não são protótipos. Os animais já são usados para isso há muito tempo, e também na Turquia e na Síria estão à procura de sobreviventes sob os escombros. Equipes com cães de resgate também viajaram da Alemanha e do Brasil para a área do terremoto.
Os cães podem identificar o cheiro de suor, hormônios, sangue, excrementos ou até mesmo hálito humano. Quando farejam alguém soterrado, latem e sinalizam com as patas.
Outro aspecto positivo dos animais é que eles não dependem de eletricidade ou da internet, de que os robôs de resgate precisam, para transmissão de dados. Sua única necessidade é água e ração.
Segundo Berns, a tecnologia dos robôs ainda não está aperfeiçoada o suficiente para superar o nariz de um bom cão farejador: “Eu diria que, hoje, o cão pastor ainda é melhor.” Também existem algumas vantagens dos robôs: a transmissão por câmera não é possível com cães, por exemplo, e eles não podem ser controlados com tanta precisão quanto um veículo pequeno.
Humanos tomam a decisão final
Enquanto trabalhavam no projeto Icarus (Sistema de controle para robôs de busca e resgate), Berns e sua equipe divagavam sobre a possibilidade de automatizar a decisão sobre os prédios a priorizar numa operação de resgate. Mas logo foram dissuadidos da ideia por ajudantes ativos.
“Eles disseram: ‘Pelo amor de Deus, tal decisão já é extremamente difícil para um especialista humano’. Há gente sob escombros que está feliz por alguém estar vindo, e os especialistas sabem muito bem que não podem salvá-las.”
Quando o perigo de desabamento é muito grande, por vezes a equipe é forçada a deixar as vítimas soterradas para trás, a fim de não colocar em perigo a vida de quem está ajudando. Tal decisão não pode ser entregue a um robô.