Esses espaços são reconhecidos oficialmente pelos municípios e pela Federação Brasileira de Naturismo (FBrN), que estabelece uma série de regras de comportamentos para os visitantes.
Entre as principais faltas nessas praias, consideradas graves pela comunidade, estão:
- A prática de sexo ou atos relacionados nas áreas públicas
- A violência física
- Porte ou uso de drogas tóxicas ilegais
A federação ainda classifica alguns atos menos graves como comportamento inadequado:
- Tirar fotos sem permissão dos outros
- Usar roupas durante os horários definidos de nudismo
- Propostas inconvenientes com conotação sexual
Também é mal visto o uso sem proteção higiênica dos assentos compartilhados dessas áreas. Por isso, as cangas são um dos (únicos) trajes típicos nos encontros naturistas, pela facilidade e praticidade de proteger as partes íntimas nos espaços onde se senta ou se deita.
Não cumprir alguma das regras estabelecidas pode gerar advertências e até a expulsão das pessoas do movimento naturista.
“É um modo de vida que, em harmonia com a natureza, está caracterizado pela prática da nudez social, a qual tem a intenção de melhorar o autorrespeito, o respeito pelo próximo e pelo meio ambiente através de nossas constantes ações”, explica a presidente da FBrN, Paula Silveira.
A busca espiritual, educação ambiental, conhecimentos ancestrais e prática de esportes são outros princípios do naturismo, que também engloba o nudismo.
Silveira estima que 300 mil pessoas aderem à prática no Brasil e 90 milhões no mundo. A filosofia atrai um público diverso, com famílias, jovens e idosos entre os participantes. O g1 conversou com alguns deles, que relatam diversos motivos que os levaram a entrar e a gostar do nudismo.
“É como se você voltasse à sua infância, como se você tivesse vários amigos ali. Sabe quando a gente era criança? Todo mundo tomava banho junto, comia junto e brincava ali pelado, conversava e não dava importância para a roupa”, descreve a aposentada Marcia Silveira, de 59 anos.
Ela admite ter sentido vergonha nos primeiros encontros com naturistas, mas não resistiu quando conheceu a Praia de Barra Seca (ES): “Eu ainda não ficava totalmente à vontade, sempre tinha uma canguinha pendurada. Mas na praia parece que foi feito para ficar nu.” Marcia já pratica o naturismo há quatro anos.
A aposentada Adriana Almada, 52, se apaixonou pelo movimento em 2013 quando conheceu a Praia de Tambaba (PB). Desde então, já foi a sete das oito praias oficiais do Brasil.
“Os primeiros cinco minutos foram estranhos, mas logo tudo passou. A sensação de liberdade, do sol, vento e principalmente da água em contato com o corpo sem o biquíni apertando é indescritível e única”, relembra sobre o momento em que tomou coragem para tirar a roupa.
“O que mais me encantou foi a simplicidade e a quebra do paradigma do corpo perfeito. Todos os corpos são perfeitos, com suas cicatrizes, estrias, etc.”
Adriana Almada na praia de Massarandupió, na Bahia — Foto: Arquivo Pessoal
“Quem pensa que numa praia de nudismo só vai encontrar modelos está muito enganado e este é um dos grandes benefícios. A pessoa passa a se sentir parte da natureza, pela simplicidade de estar nu e pelo respeito com que é tratada”, completa a aposentada.
Já a empresária Susan Galz, 33, não teve dificuldades com a adaptação. Ela é frequentadora da Praia do Pinho, em Santa Catarina, desde que estava na barriga da mãe grávida. A inspiração para a família veio do avô, que sempre teve a curiosidade de conhecer a cultura naturista.
“Ele faleceu muito novo e não teve a oportunidade de conhecer, mas meu pai meio que pegou esse sonho dele e quis sonhar e viver por ele”, relembra.
Em comum, os naturistas reclamam do preconceito e das pessoas que se dizem parte do movimento e desrespeitam as regras internas. Eles relatam que muitos novatos e turistas entendem a prática como uma liberação ao sexo em áreas públicas, o que é repudiado pela comunidade.
“Claro que tirar a roupa em uma praia não naturista pode provocar críticas ou reclamações, mas os naturistas não fazem isso justamente para preservar a filosofia”, pontua o jornalista Gildo Mazza, de 60, que já passou pela Praia do Pinho e planeja conhecer todos os outros pontos naturistas do Brasil.
A aposentada Marcia Silveira e o jornalista Gildo Mazza, nas praias de Barra Seca e Pinho, respectivamente — Foto: Arquivo Pessoal/ Montagem g1
Também por conta disso, essa população sofre com perseguições e pedidos de proibição desde quando o movimento tentava se estabelecer informalmente pelas praias brasileiras.
Em 1986, alguns meses antes da Praia do Pinho ser reconhecida oficialmente como a primeira do país, a Polícia Militar fez uma operação que prendeu 25 naturistas da área. Foi nessa região em que o naturismo brasileiro começou a se organizar em uma federação.
A costa também é a mesma que agora é alvo do pedido de proibição por um projeto de lei do vereador Anderson dos Santos (Podemos). Na justificativa do projeto, ele alega que a praia se tornou um espaço de promiscuidade e uso exacerbado de drogas. A associação naturista da área nega.
Apesar dos espaços serem reconhecidos por leis municipais, o advogado Yuri Carneiro Coelho, doutor em direito penal, explica que essa responsabilidade em tese depende de normas federais.
“As praias são zonas de Marinha, na verdade são territórios da União. Então, se não houver autorização para utilização daquele bem comum do povo de uma forma específica, nem o município nem o estado tem a possibilidade de limitar o acesso da população”, explica.
Atualmente, um projeto de lei federal tramita no Senado para possibilitar às prefeituras e aos governos estaduais concederem licenças para a prática do naturismo.
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