O Vaticano reconheceu nesta quinta-feira (29) que há dois anos puniu secretamente Carlos Ximenes Belo, bispo de Timor-Leste e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em resposta a alegações de que ele abusou sexualmente de meninos décadas atrás.
O Vaticano só reconheceu que puniu o bispo depois de uma reportagem desta semana da revista holandesa De Groene Amsterdammer.
Na reportagem, a De Groene Amsterdammer citou dois homens, identificados com pseudônimos, dizendo que Belo os estuprou quando tinham 14 e 15 anos e depois lhes deu dinheiro.
A publicação citou os dois homens dizendo que acreditavam que Belo havia abusado sexualmente de outros meninos em Timor-Leste. Alguns dos abusos teriam ocorrido na residência do bispo na capital do país, Díli.
A De Groene Amsterdammer disse ter evidências de que Belo também abusou sexualmente de meninos na década de 1990, quando era padre.
A Reuters não conseguiu localizar Belo. A De Groene Amsterdammer disse que ele desligou o telefone quando foi contactado para comentar as alegações.
Belo, de 74 anos, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1996 junto com o agora presidente do Timor-Leste, José Ramos-Horta, por seu trabalho para acabar com o conflito no país.
O comitê norueguês do Nobel citou a coragem de Belo em ajudar a esclarecer um massacre de timorenses em 1991 por militares indonésios.
A ex-colônia portuguesa conquistou a independência da Indonésia em 2002, após uma sangrenta ocupação na qual centenas de milhares foram mortos.
No mesmo ano em que o Timor-Leste conquistou a independência, Belo apresentou sua renúncia ao cargo de administrador apostólico da Diocese de Díli ao papa João Paulo 2º, alegando razões de saúde provocadas por stress e esgotamento. O então papa aceitou.
Belo tinha apenas 54 anos na época, 21 anos antes da idade normal de aposentadoria para um bispo.
Após deixar o cargo de bispo de Díli, Belo trabalhou como missionário em Moçambique e depois se estabeleceu em Portugal, onde ainda vive.
Em comunicado, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse que o escritório doutrinário do Vaticano, que lida com casos de abuso sexual, se envolveu no caso pela primeira vez em 2019 “à luz das acusações que recebeu sobre o comportamento do bispo”.
Em 2020, o órgão impôs “restrições disciplinares” incluindo “limitações aos seus movimentos e ao exercício do seu ministério, a proibição de contacto voluntário com menores, de entrevistas e contatos” com Timor-Leste.
Bruni disse que em 2021 as medidas foram “modificadas e reforçadas”, sem dar detalhes. O porta-voz do Vaticano disse que o bispo “aceitou formalmente” as restrições nas duas vezes.
Belo é membro da ordem religiosa salesiana, que tradicionalmente se especializa na educação de crianças.
A sucursal da ordem em Portugal disse em seu site que ouviu falar da “suspeita” de abuso sexual de menores por parte de Belo com profunda “tristeza e perplexidade”.
Afirmou que, desde o momento em que chegou a Portugal, Belo não teve “responsabilidades educativas ou pastorais” com a ordem.
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