Compra dos dispositivos foi anunciada pela prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, e custou R$ 849 mil. Orcam MyEye é uma tecnologia israelense que transforma textos em áudios e é importada para o país desde 2018. Estudante Tiago Ferreira Porto com os óculos em biblioteca de SP
Marcelo Brandt/g1
Bibliotecas municipais de São Paulo receberão a partir desta sexta-feira (16) mais 60 novos óculos com inteligência artificial, chamados Orcam MyEye. A tecnologia foi criada em Israel e é capaz de transformar textos de livros ou de qualquer superfície, como um cardápio, em voz alta e sem necessitar de conexão à internet.
A compra dos dispositivos foi anunciada pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, nesta última quinta-feira (15).
Segundo a pasta, a aquisição das unidades custou R$ 849 mil e a primeira entrega será feita nesta sexta na Biblioteca Mario de Andrade, que receberá mais cinco óculos.
“Essa tecnologia é revolucionária, pois permite que qualquer pessoa que antes não tinha acesso à leitura possa ler o livro que quiser e usufruir do vasto acervo das nossas bibliotecas. Um único par de óculos é capaz de abrir as portas de milhares de mundos diferentes”, afirmou a secretária de Cultura Aline Torres, em nota.
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Como funciona?
O dispositivo pesa apenas 22 gramas, é do tamanho de um dedo e se conecta a todo tipo de armação de óculos. Basta apontar o dedo onde quer que se faça a leitura.
O sensor óptico captura a imagem e através da inteligência artificial converte as informações instantaneamente em áudio por meio de um pequeno alto-falante localizado acima do ouvido (veja mais detalhes abaixo).
No Brasil, os óculos chegaram em 2018 pela empresa Mais Autonomia, que é do ramo de tecnologia assistiva. Segundo o diretor Doron Sadka, ele conheceu o dispositivo quando viajou para Israel e decidiu importá-lo com o sistema adaptado em três idiomas: português, inglês e espanhol.
E desde 2018, as 54 bibliotecas da Coordenação do Sistema de Bibliotecas, além da BMA e do Centro Cultural São Paulo (CCSP), possuem uma unidade dos óculos para auxiliar pessoas na leitura.
Leitura que se tornou paixão
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Tiago Ferreira Porto tem baixa visão grave desde que nasceu. Morador de São Paulo, o adolescente de 16 anos conta que ler nunca foi algo prazeroso na infância, já que colocava o livro próximo ao rosto para poder enxergar.
Mas há quatro anos a atividade se tornou uma paixão. Ao ir até a biblioteca municipal Affonso Taunay, no bairro Mooca, ele foi informado que havia chegado uma tecnologia que o ajudaria na leitura: os óculos Orcam MyEye.
Estudante de São Paulo relata como tecnologia ajudou na leitura
Marcelo Brandt/g1
O estudante conta que, após ter contato com a tecnologia, chegou em casa e contou para os pais sobre a autonomia que teve com o dispositivo.
“Ah, ele chegou todo feliz falando que tinha conseguido ler sozinho. Eu vi a alegria dele”, enfatiza o pai, Gibrailton Santos Porto.
Coordenadora da biblioteca, Meire Rose Stankevicius Bassi afirma que é gratificante quando usuários com baixa visão ou cegos usam os óculos e conseguem ter independência na leitura.
“Eles podem ler qualquer tipo de livro e acessar todo o acervo. Temos o caso de um idoso que ficou cego e ficou emocionado ao conseguir ler. E isso é muito legal. A gente quer que a leitura esteja também no mundo deles”, relembra.
Desde a pandemia, Tiago não consegue ir com tanta frequência para a biblioteca por ter começado o ensino médio em uma escola mais distante.
“Foi uma experiência cortada porque não consegui vir mais por estudar mais longe. Eu espero que tenha em todas as escolas porque têm muitas pessoas com baixa visão”.
Como funciona o Orcam
Arte/g1
De Israel para o Brasil
Segundo um relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 16 de maio deste ano, apontou a falta de acesso às tecnologias assistivas.
Mais de 2,5 bilhões de pessoas precisam de um ou mais produtos assistivos no mundo, mas quase um bilhão não tem acesso, principalmente em países de baixa e média renda, diz o relatório.
Orcam MyEye
Marcelo Brandt/g1
O dispositivo Orcam MyEye foi lançado em 2015 por Amnon Shashua e Ziv Aviram, em Israel, para atender esse público. Os dois são donos da empresa de tecnologia Orcam, que foi fundada em 2010 e tem como foco desenvolver a inteligência artificial.
O diretor da empresa que importa a tecnologia para o Brasil diz que a entrada do dispositivo nas instituições de ensino começou depois que ele e a empresa analisaram o último censo do IBGE sobre pessoas com deficiência.
“Em Israel, o governo paga 50% da tecnologia porque tem o subsídio. França e Alemanha também. Aqui no Brasil não tem política de subsídio para tecnologia assistiva ainda. Talvez um dia possa ter. Então, comecei a entrar em contato com governadores, prefeitos e reitores de universidades para explicar como era o dispositivo”, afirma Doron Sadka.
Por ser a única representante no país, a lei permite que o dispositivo seja comprado por inexigibilidade, sem necessidade de licitação.
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