As teorias sobre o que (ou quem) causou a explosão da ponte na Crimeia | Mundo

O que se sabe sobre o que causou a dramática explosão, no último sábado (8/10), da ponte Kerch, que liga a Rússia à Crimeia? Há muitas teorias, nem todas muito críveis.

A Rússia rapidamente indicou que se tratava de uma bomba em um caminhão, mas não apontou culpados.

A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, afirmou que o fato de a Ucrânia ter celebrado o episódio indicava que ele era de “natureza terrorista” – mas ela não implicou Kiev diretamente no caso.

Imagens de câmeras de segurança divulgadas nas redes sociais mostram um caminhão – supostamente vindo da cidade russa de Krasnodar, a uma hora de distância da ponte – se movendo pela ponte no momento da explosão.

Autoridades russas dizem que o veículo pertencia a Samir Yusubov, 25, e que um parente dele, Makhir Yusubov, era o motorista.

Mas uma análise detalhada das imagens parece indicar que o caminhão talvez não tenha nada a ver com a explosão.

As cenas mostram uma enorme bola de fogo pouco atrás – e ao lado – do caminhão enquanto este subia pela parte elevada da ponte.

A velocidade com que a teoria da bomba no caminhão se espalhou em círculos russos levanta suspeitas. Isso sugere que o Kremlin prefere a ideia de um ato de terrorismo a uma possibilidade mais alarmante: de que se tratou de um audacioso ato de sabotagem conduzido pela Ucrânia.

“Já vi muitos dispositivos explosivos para grandes veículos. Não parece ser o caso aqui”, diz à BBC um ex-integrante das Forças Armadas britânicas, especialista em explosivos.

Uma explicação mais plausível, diz ele, é que tenha ocorrido uma enorme explosão sob a ponte – possivelmente provocada por explosivos levados por um drone marítimo.

“Pontes geralmente são projetadas para resistir à carga em cima e também a uma certa quantidade de peso dos lados, por causa do vento”, o ex-oficial britânico agrega. “Geralmente não são projetadas para resistir carga de baixo para cima. Acho que isso foi explorado no ataque”.

Alguns observadores notaram que, em um dos vídeos das câmeras de segurança, algo que se parece a ondas de um pequeno barco surge perto de um dos pilares da ponte, frações de segundo antes da explosão.

Que tipo de barco poderia ser?

Cenas da parte da ponte incendiada após explosão; Rússia não culpou diretamente a Ucrânia, que tampouco assumiu responsabilidade — Foto: Reprodução

Em 21 de setembro, imagens que circularam nas redes sociais russas mostravam um misterioso barco não tripulado que surgiu às margens da base naval russa em Sevastopol, na Crimeia.

Parecia ser um grande caiaque, coberto de senores e um dispositivo parecido a um periscópio. Segundo relatos da imprensa local, a embarcação foi levada ao mar e detonada.

“Uma parte de um veículo não tripulado foi descoberta”, disse na ocasião o governador pró-Rússia de Sevastopol. “Depois de uma avaliação, o aparato foi destruído no mar por uma explosão. Ninguém ficou ferido.”

Esse não foi o primeiro relato a circular sugerindo que a Ucrânua tinha acesso a esse tipo de equipamento clandestino.

“Há relatos bem fundamentados indicando que os ucranianos têm usado veículos de controle remoto tanto para vigilância quanto para ataque”, diz à BBC o britânico especialista em explosivos.

Se foi desse modo que a Ucrânia conseguiu atacar a ponte Kerch, a centenas de quilômetros do território ainda controlado pelo governo ucraniano, então se trata de uma das mais ambiciosas operações levadas a cabo por Kiev na guerra até agora.

Mas, fora alguns relatos extraoficiais na capital ucraniana, ninguém conforma a teoria.

De fato, em pronunciamento na noite de sábado, o chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, Mykhailo Podolyak, pareceu endossar a teoria russa da bomba no caminhão – e disse que a explosão seria resultado de brigas internas entre diferentes alas das forças de segurança russas.

“As respostas devem ser procuradas na Rússia”, ele declarou. “Isso (explosão) é uma manifestação concreta das disputas entre o FSB (serviço interno de inteligência russo), agentes militares privados de um lado e o Ministério da Defesa e funcionários da Federação Russa do outro”.

Seria o caso de Podolyak saber algo que ninguém mais sabia? Ou ele estaria “trollando” Moscou, em cima das recentes perdas russas no campo de batalha na Ucrânia?

Até o momento, não se sabe.

Assim como em episódios anteriores – incluindo o naufrágio do Moskva, importante embarcação da frota russa no Mar Negro, e o misterioso ataque que devastou uma base aérea russa na Crimeia em agosto -, Kiev tem preferido deixar as teorias circularem sem resposta.

É parte de uma bem-sucedida campanha de informação sendo travada pela pela Ucrânia, junto ao esforço militar desde o início da guerra, em fevereiro. A campanha, até agora, parece ter dado resultados.

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