Um rico acervo guardado nesses edifícios do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto sofreu diversos tipos de danos.
Os responsáveis pelos prédios lamentaram a perda de parte importante desse acervo, que é apontado por eles como um capítulo importante da história nacional.
Os estragos são avaliados pelas autoridades e ainda não se sabe o que poderá ser reparado futuramente.
“O valor do que foi destruído é incalculável pela história que representa. O acervo é uma representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro nesse longo período que se inicia com JK. Esse é o seu valor histórico”, disse à BBC o diretor de curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho.
Abaixo, veja uma lista com algumas dessas obras que foram danificadas no domingo:
Quadro de Di Cavalcanti foi rasgado — Foto: g1
O quadro é a principal peça do Salão Nobre do Planalto e tem um valor estimado em R$ 8 milhões, embora seu valor de venda possa ser cinco vezes maior em leilões, de acordo com o governo.
A obra de 1962 é uma das mais importantes já produzidas pelo pintor carioca Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (1897-1976).
O Planalto informou que foram encontrados sete rasgos de diferentes tamanhos.
Elizabeth Di Cavalcanti, filha do artista, esclareceu ao jornal O Globo que, embora a tela esteja sendo chamada na imprensa e nas redes sociais de As Mulatas, ela não tinha nome, porque seu pai não batizava suas obras.
‘Fiquei estarrecida’, diz filha de Di Cavalcanti sobre obra do pai atacada no Planalto
“Esse quadro também já apareceu muito na mídia com o nome ‘Mulheres na varanda’. Mas ele não intitulava as obras, quem fazia isso eram colecionadores e agentes do mercado secundário”, disse ela ao jornal.
Ainda segundo Elizabeth, a obra provavelmente foi feita por encomenda da companhia de navegação estatal Lloyd Brasileiro, hoje extinta, para decorar o salão nobre de um dos seus navios turísticos.
“Depois que a Lloyd acabou, essa obra foi parar na sede do governo brasileiro”, disse a filha do pintor.
‘O Flautista’, de Bruno Giorgi
Escultura “O Flautista”, de Bruno Jorge, antes de ser danificada por bolsonaristas radicais — Foto: Beto Barata/Presidência da República
A escultura de bronze do artista paulista Bruno Giorgi (1905-1993) foi “completamente destruída”, informou o governo.
A peça, avaliada em R$ 250 mil, ficava no 3º andar do Planalto, onde está localizado o gabinete presidencial.
Giorgi é o autor de outras obras muito conhecidas instaladas em palácios públicos em Brasília, como Meteoro, no Itamaraty, e Os Candangos, na Praça dos Três Poderes.
‘Bandeira do Brasil’, de Jorge Eduardo
Obra Bandeira do Brasil, que ficava no térreo do Palácio do Planalto, foi danificada — Foto: Guilherme Mazui/g1
A pintura de 1995 reproduz a bandeira nacional hasteada diante do Planalto.
O governo federal informou que ela foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o local após os hidrantes instalados ali serem abertos.
A obra vandalizada está entre as registradas nas fotos feitas por Ricardo Stuckert e compartilhadas pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), em sua conta no Twitter.
‘Galhos e Sombras’, de Frans Krajcberg
A escultura em madeira ficava instalada na parede do terceiro andar do Planalto.
A obra foi quebrada em diversos pontos, informou o governo, e pedaços dos galhos que a compunham foram atirados para longe.
O valor da peça é estimado em R$ 300 mil, disse o Planalto.
Relógio de Balthazar Martinot
Relógio Balthazar Martinot, 1808 — Foto: Reprodução
Com um valor “fora de padrão”, segundo o Planalto, o relógio de pêndulo do século 17 foi totalmente destruído pelos invasores.
A peça foi dada de presente pela Corte francesa a Dom João 6º. Seu criador, Balthazar Martinot (1636-1714), era o relojoeiro do rei francês Luís 14.
Segundo o Planalto, restam apenas dois relógios feitos por ele no mundo. O segundo está no Palácio de Versalhes, mas tem metade do tamanho do exemplar que foi destruído.
‘A Justiça’, de Alfredo Ceschiatti
‘A Justiça’, de Alfredo Ceschiatti, foi pichada — Foto: Reprodução/Twitter
A escultura de 1961 que fica diante do palácio do Supremo Tribunal Federal (STF) foi pichada com a frase “Perdeu, mané”.
As palavras foram ditas por um dos ministros da Corte, Luís Roberto Barroso, ao ser questionado por apoiadores de Bolsonaro sobre fraudes na última eleição em viagem a Nova York, nos Estados Unidos em novembro passado.
A peça em granito de mais de três metros de altura do artista plástico mineiro Alfredo Ceschiatti (1918-1989) retrata uma Têmis, deusa da justiça, da lei e da ordem, com os olhos vendados, segurando uma espada no colo.
De acordo com o STF, uma perícia técnica está sendo realizada para verificar os danos causados no interior do edifício.
“Depois da perícia, o STF vai iniciar o trabalho de catalogar os estragos e quantificar os prejuízos. Também não há previsão para a conclusão deste trabalho”, informou a Corte.
Muro Escultórico, de Athos Bulcão
O ‘Muro Escultórico’ foi a segunda peça de Athos Bulcão alvo de depredação — Foto: Elisa Clavery/g1
A obra “Muro escultório”, do artista plástico e professor Athos Bulcão, passou a fazer parte da decoração do Salão Verde da Câmara dos Deputados na década de 70, após ampliação do Edifício Principal, que teve o projeto de decoração elaborado por Oscar Niemeyer.
O muro escultórico, de Athos Bulcão, que era colaborador de Niemeyer, foi criado especificamente para o local, segundo texto compartilhado na página da Câmara dos Deputados.
Durante o vandalismo de domingo, a obra foi perfurada na base, segundo a assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados.
Bailarina, de Victor Brecheret
‘Bailarina’, obra do escultor italiano Victor Brecheret, foi descolada da base — Foto: Acervo Câmara dos Deputados
A escultura em bronze polido, dos anos 1920, que retrata uma bailarina também foi alvo de ataques neste domingo na Câmara dos Deputados.
A obra “Bailarina”, do escultor italiano Victor Brecheret representava a fase parisiense dele, na qual prevalece a delicadeza das formas e a sutileza com que tratava os temas femininos, diz texto compartilhado no site da Câmara dos Deputados.
Os invasores radicais retiraram a bailarina do pedestal, segundo a assessoria de imprensa da Câmara.
Escultura Maria, Maria, de Sônia Ebling
Escultura “Maria Maria”, da pintora e professora Sônia Ebling, foi depredada com pauladas — Foto: Acervo Câmara dos Deputados
A escultura em bronze Maria, Maria, da artista Sônia Ebling também foi alvo dos ataques.
A obra de 1980 está localizada na Câmara dos Deputados e foi marcada com pauladas durante a invasão de domingo.