O mercado de investimentos em tecnologia, especialmente no setor de private equity, viveu um boom sem precedentes em 2021. Recordes foram quebrados, com o valor total das negociações ultrapassando a marca de 1 trilhão de dólares e o tamanho médio dos acordos superando a casa do bilhão pela primeira vez. Fundadores de startups eram idolatrados, as avaliações inflacionadas e investidores competiam ferozmente para abocanhar uma fatia desse bolo aparentemente infinito.

No entanto, a ressaca veio rápido. Em 2023, muitas dessas mesmas empresas que atraíram rios de dinheiro viram seu valor de mercado derreter em bilhões. Casos emblemáticos como Klarna e Stripe ilustram bem essa inversão de expectativas. A avaliação da Klarna, por exemplo, despencou 85%, saindo de um pico de US$45,6 bilhões em 2021 para US$6,7 bilhões em 2022. A Stripe também sofreu um baque considerável, caindo de US$95 bilhões em 2021 para US$50 bilhões em 2023. Fonte

A Matriz “Quente x Louco” e a Irracionalidade do Mercado

Uma das explicações para essa montanha-russa no mundo dos investimentos tech é a chamada “Matriz Quente x Louco”, que de forma satírica, mas nem tanto, tenta mapear o perfil de empreendedores e startups com base em dois eixos: atratividade (o quão “quente” a ideia ou o fundador parecem ser) e ousadia (o quão “louca” é a proposta). A lógica por trás dessa matriz é que investidores, muitas vezes, se deixam levar por narrativas sedutoras e pela promessa de disrupção radical, negligenciando a análise fundamentalista e a avaliação realista do potencial de longo prazo do negócio.

Essa dinâmica pode levar a alocações de capital equivocadas, com empresas supervalorizadas recebendo investimentos massivos enquanto projetos mais sólidos e com potencial de crescimento sustentável são deixados de lado. Além disso, a pressão para gerar retornos rápidos e a competição acirrada entre os fundos de investimento podem exacerbar essa tendência, incentivando decisões impulsivas e baseadas em hype em vez de fundamentos.

Além da Superfície: A Importância da Análise Crítica

O caso das empresas que perderam valor drasticamente após o boom de 2021 serve como um alerta para investidores e empreendedores. É fundamental ir além da superfície, questionar as premissas por trás das avaliações e analisar criticamente o modelo de negócio, a escalabilidade, a concorrência e o potencial de geração de valor real da empresa.

Para investidores, isso significa dedicar tempo e recursos para realizar due diligence aprofundadas, buscar opiniões independentes e diversificar o portfólio. Para empreendedores, a lição é que o sucesso a longo prazo depende de construir um negócio sólido, com uma proposta de valor clara, um modelo de receita sustentável e uma equipe competente, em vez de apenas buscar validação e financiamento a qualquer custo.

Construindo um Futuro Tech Mais Sustentável

O mercado de tecnologia tem um potencial transformador imenso, capaz de gerar impacto social e econômico positivo em diversas áreas. No entanto, para que esse potencial seja plenamente realizado, é preciso abandonar a cultura do hype e da busca por retornos rápidos, em favor de uma abordagem mais responsável, ética e focada no longo prazo.

Investidores precisam ser mais criteriosos e conscientes de seu papel na alocação de capital, apoiando projetos que realmente contribuam para o desenvolvimento sustentável e a resolução de problemas sociais. Empreendedores devem priorizar a construção de empresas sólidas e com propósito, em vez de apenas buscar validação e financiamento a qualquer custo. Somente assim será possível construir um futuro tech mais justo, inclusivo e próspero para todos.