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O Mito da Habilidade Pura: Por que Precisamos Repensar o RNG nos Games

No mundo dos games, poucas discussões são tão acaloradas e, frequentemente, infrutíferas quanto o debate sobre a aleatoriedade, o famoso RNG (Random Number Generator). Em vez de aprofundar a análise, caímos em discussões rasas sobre “RNG versus Habilidade”, um embate que obscurece a complexidade do design de jogos e a experiência do jogador.

A Falácia da Habilidade Pura

A ideia de que jogos deveriam ser puramente baseados em habilidade é, em si, uma falácia. Em primeiro lugar, habilidade é um conceito multifacetado. Envolve não apenas reflexos rápidos e precisão, mas também estratégia, adaptabilidade, compreensão das mecânicas do jogo e, crucialmente, a capacidade de lidar com a incerteza. Reduzir a habilidade a um conjunto de ações perfeitamente executadas ignora a riqueza da experiência de jogo.

Em segundo lugar, a aleatoriedade, quando bem implementada, pode enriquecer a experiência. Ela introduz variedade, tornando cada partida única e imprevisível. Um jogo puramente determinístico, onde o resultado é sempre previsível com base em ações predefinidas, pode se tornar rapidamente repetitivo e desinteressante. A aleatoriedade força o jogador a se adaptar, a pensar fora da caixa, a improvisar e a tomar decisões sob pressão, habilidades valiosas tanto no jogo quanto na vida real.

Além do Binômio RNG vs. Habilidade

Precisamos abandonar a dicotomia simplista entre RNG e habilidade e começar a explorar o espaço de design. A questão não é se a aleatoriedade deve existir ou não, mas como ela pode ser incorporada de forma inteligente e responsável. O RNG pode ser usado para criar desafios interessantes, oportunidades inesperadas, recompensas aleatórias e até mesmo para simular a incerteza do mundo real.

Um exemplo de bom uso de RNG é quando ele é combinado com sistemas que permitem ao jogador mitigar ou influenciar o resultado aleatório. Isso pode ser feito através de habilidades que aumentam as chances de um resultado favorável, itens que fornecem bônus em situações específicas ou mecânicas que permitem ao jogador “rerolar” um resultado indesejado. Dessa forma, o jogador não se sente à mercê do acaso, mas sim empoderado para influenciar o seu destino.

Quando o RNG Frustra

É claro que o RNG também pode ser mal utilizado. Quando a aleatoriedade é excessiva, imprevisível e impossível de mitigar, ela pode levar à frustração e à sensação de injustiça. Jogos onde o resultado de uma partida é decidido puramente por sorte, sem que o jogador tenha qualquer controle sobre o resultado, tendem a ser impopulares e desequilibrados. O RNG também pode ser problemático quando usado para criar barreiras artificiais à progressão, como em jogos “pay-to-win” onde os jogadores precisam gastar dinheiro para aumentar suas chances de obter itens raros ou personagens poderosos.

Conclusão: Um Chamado à Complexidade

A discussão sobre RNG nos games precisa evoluir. Devemos parar de buscar soluções simplistas e abraçar a complexidade do design de jogos. A aleatoriedade não é inerentemente boa ou má; ela é uma ferramenta que, quando utilizada com sabedoria, pode enriquecer a experiência do jogador, desafiá-lo de novas maneiras e tornar os jogos mais interessantes e imprevisíveis. O desafio para os designers é encontrar o equilíbrio certo, criar sistemas que permitam ao jogador sentir que tem controle sobre o seu destino, mesmo em um mundo onde a sorte desempenha um papel.

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