Uma recente disputa no Reino Unido reacendeu o debate sobre apropriação cultural e a crescente tendência de registrar nomes de pratos e ingredientes. Uma mulher está ameaçando processar um livro de receitas por usar a palavra ‘sabzi’, que se refere a ervas ou vegetais em diversas línguas do Oriente Médio e da Ásia Central. Essa ação levanta questões importantes sobre quem pode reivindicar a propriedade de termos culinários e os impactos dessa prática na diversidade e na liberdade criativa na cozinha.
O que é ‘sabzi’ e por que a disputa é relevante?
‘Sabzi’ é uma palavra com raízes profundas em diversas culturas, utilizada para descrever uma variedade de pratos e ingredientes à base de ervas e vegetais. A tentativa de registrar esse termo como marca exclusiva por uma única pessoa no Reino Unido é vista por muitos como uma forma de apropriação cultural, limitando o uso da palavra por outros cozinheiros, autores e empresas que trabalham com culinária do Oriente Médio e da Ásia Central. A reivindicação levanta a questão de até que ponto se pode privatizar um elemento cultural compartilhado por diversas comunidades.
A crescente onda de ‘propriedade’ na culinária
O caso de ‘sabzi’ não é isolado. Nos últimos anos, temos visto um aumento no número de tentativas de registrar nomes de pratos, ingredientes e técnicas culinárias. Essa tendência, impulsionada por uma cultura de propriedade intelectual cada vez mais agressiva, ameaça sufocar a criatividade e a inovação na cozinha. Se cada ingrediente ou técnica tiver um dono, a troca de conhecimento e a fusão de culturas, tão essenciais para a evolução da culinária, podem ser prejudicadas.
Os perigos da apropriação cultural
A apropriação cultural na culinária ocorre quando elementos de uma cultura são adotados por membros de outra cultura dominante sem o devido respeito ou compreensão. No caso do ‘sabzi’, registrar a palavra como marca exclusiva impede que pessoas de culturas onde o termo é usado há séculos o utilizem livremente. Isso pode marginalizar ainda mais essas comunidades e reforçar desigualdades sociais e econômicas.
Impacto na diversidade e na criatividade culinária
A liberdade de usar e adaptar receitas e nomes de pratos é fundamental para a diversidade e a criatividade na culinária. Restringir o uso de termos como ‘sabzi’ por meio de marcas registradas pode levar à homogeneização da comida, limitando a experimentação e a inovação. Além disso, essa prática pode desencorajar a partilha de conhecimento e a colaboração entre cozinheiros de diferentes origens.
Um chamado à reflexão
O caso da marca ‘sabzi’ é um lembrete de que a culinária é um patrimônio cultural compartilhado, que deve ser protegido e celebrado em sua diversidade. A tentativa de privatizar termos e ingredientes culinários representa uma ameaça à liberdade criativa e à justiça social. É preciso questionar os limites da propriedade intelectual na culinária e defender o direito de todos de cozinhar, criar e compartilhar a comida que amam.
Este caso nos força a refletir sobre o papel das marcas registradas na cultura alimentar. Será que estamos caminhando para um futuro onde cada prato e ingrediente terá um dono, limitando a nossa capacidade de criar e experimentar? A resposta a esta pergunta depende de nossa capacidade de defender um mundo onde a comida seja um símbolo de união, partilha e diversidade, e não de competição e exclusividade. A cultura alimentar é um bem comum da humanidade, e é nossa responsabilidade protegê-la.
