A reeleição de Alassane Ouattara para um quarto mandato presidencial na Costa do Marfim, com uma vitória esmagadora nas urnas, reacende o debate sobre a consolidação do poder e os desafios da democracia no país da África Ocidental. A ausência de uma oposição robusta e a contestação em torno da legitimidade de sua candidatura lançam sombras sobre o processo eleitoral, mesmo em um contexto de notável progresso econômico sob sua liderança.
O Legado Econômico e as Controvérsias Políticas
Desde que assumiu o poder em 2011, Ouattara é amplamente creditado pela transformação econômica da Costa do Marfim. O país se tornou um dos principais polos de crescimento na África, impulsionado por investimentos em infraestrutura, políticas de incentivo ao setor privado e a estabilidade macroeconômica. No entanto, esse sucesso econômico tem sido acompanhado por críticas crescentes em relação ao seu estilo de governo, com acusações de autoritarismo e restrição do espaço político para a oposição.
A Questão da Elegibilidade e o Boicote Eleitoral
A candidatura de Ouattara a um terceiro mandato (agora quarto, devido a uma interpretação controversa da nova Constituição) foi o principal ponto de discórdia. A oposição argumentava que a Constituição limitava o número de mandatos presidenciais a dois, mas Ouattara e seus apoiadores defendiam que a nova Carta Magna “resetava” o contador, permitindo que ele concorre novamente. Essa interpretação foi duramente criticada e resultou em um boicote eleitoral por parte de alguns dos principais líderes da oposição, o que contribuiu para a baixa participação e a vitória expressiva de Ouattara.
A decisão de Ouattara de concorrer a um terceiro mandato gerou tensões políticas e sociais, com protestos e confrontos violentos que resultaram em mortes e feridos. A frágil estabilidade política da Costa do Marfim, ainda marcada pelas cicatrizes da guerra civil de 2010-2011, foi novamente colocada à prova. A comunidade internacional expressou preocupação com a situação e apelou ao diálogo e à reconciliação nacional.
Desafios e Perspectivas para o Futuro
Com a reeleição de Ouattara, a Costa do Marfim enfrenta o desafio de consolidar sua democracia e garantir a estabilidade política a longo prazo. É fundamental que o governo promova um diálogo inclusivo com a oposição e a sociedade civil, buscando um consenso em torno das regras do jogo democrático e das reformas necessárias para fortalecer as instituições. A promoção da justiça social, o combate à corrupção e a garantia dos direitos humanos são outras prioridades urgentes.
A Costa do Marfim possui um grande potencial para se tornar um modelo de desenvolvimento na África Ocidental, mas para isso é essencial que o país supere suas divisões políticas e construa uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática. A comunidade internacional tem um papel importante a desempenhar nesse processo, oferecendo apoio técnico e financeiro, mas também monitorando de perto a situação dos direitos humanos e da democracia no país. O futuro da Costa do Marfim depende da capacidade de seus líderes e de sua população de construir um futuro de paz, prosperidade e justiça para todos.
O mandato de Ouattara, portanto, inicia-se sob o signo do desafio. O desafio de demonstrar que o desenvolvimento econômico pode andar de mãos dadas com a consolidação democrática. O desafio de provar que a estabilidade política não precisa ser sinônimo de restrição das liberdades. O desafio, em suma, de construir uma Costa do Marfim que seja, ao mesmo tempo, próspera e livre.
