O Incentivo ao Nascimento em um Mundo de Desigualdades
Vivemos em um mundo de paradoxos gritantes. De um lado, vemos países implementando políticas de incentivo à natalidade, oferecendo benefícios e subsídios para casais que decidem ter filhos. Do outro, observamos restrições ao acesso ao aborto, com legislações que visam a aumentar o número de nascimentos a qualquer custo. Paralelamente a tudo isso, figuras proeminentes do setor tecnológico expressam preocupação com o crescente número de ‘pessoas inúteis’ no planeta. Essa aparente contradição nos leva a questionar: o que realmente está acontecendo?
A busca por respostas nos leva a mergulhar nas complexidades das políticas demográficas, dos interesses econômicos e das ideologias que moldam o nosso mundo. O incentivo à natalidade, muitas vezes, é justificado pela necessidade de reverter o envelhecimento da população e garantir a sustentabilidade dos sistemas de previdência social. Em países com baixas taxas de natalidade, o governo busca a todo custo aumentar o número de jovens para garantir a força de trabalho no futuro e sustentar os benefícios dos aposentados.
A Mão Invisível do Mercado e o Valor da Vida
No entanto, essa visão puramente economicista da natalidade ignora as profundas questões sociais e éticas envolvidas. A ideia de que o valor de uma pessoa reside em sua capacidade de contribuir para a economia é, no mínimo, problemática. Reduzir um ser humano a um mero fator de produção é desconsiderar sua dignidade intrínseca e seu direito a uma vida plena e feliz, independentemente de sua capacidade de gerar riqueza.
As restrições ao aborto, por sua vez, são frequentemente motivadas por crenças religiosas e valores morais conservadores. Contudo, a proibição do aborto não impede que ele ocorra, apenas o torna mais perigoso e clandestino, colocando em risco a vida e a saúde das mulheres, especialmente as mais pobres e marginalizadas. A criminalização do aborto é uma forma de violência de gênero que perpetua a desigualdade e a opressão.
O Futuro da Humanidade em um Mundo em Transformação
A declaração de que há ‘pessoas inúteis’ é uma expressão cruel e desumanizadora que revela uma visão de mundo elitista e excludente. Essa ideia reflete a crescente desigualdade social e a concentração de riqueza nas mãos de poucos, que veem a maioria da população como um peso morto, um obstáculo ao seu enriquecimento. Em um mundo cada vez mais automatizado e digitalizado, a preocupação com o desemprego e a obsolescência da força de trabalho é legítima, mas a resposta não pode ser a exclusão e o preconceito.
É preciso repensar o modelo de desenvolvimento econômico e social, buscando alternativas que garantam a inclusão e a dignidade de todos. A educação, a saúde, a cultura e o lazer devem ser acessíveis a todos, independentemente de sua condição social ou econômica. É preciso valorizar o trabalho criativo, o empreendedorismo social e as formas de produção colaborativas, que geram valor para a sociedade como um todo.
Um Chamado à Ação por um Futuro Mais Justo
Diante desse paradoxo da natalidade, é fundamental que a sociedade se mobilize para defender os direitos humanos, a justiça social e a igualdade de oportunidades. É preciso combater a cultura do ódio, o preconceito e a discriminação, promovendo o diálogo, a tolerância e o respeito à diversidade. É preciso construir um mundo onde todas as pessoas tenham o direito de nascer, crescer, viver e se desenvolver plenamente, sem serem vistas como ‘úteis’ ou ‘inúteis’, mas sim como seres humanos com valor intrínseco.
Afinal, o futuro da humanidade depende da nossa capacidade de construir um mundo mais justo, solidário e sustentável, onde todas as pessoas tenham o direito de ter uma vida digna e feliz.