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Etgar Keret e a Urgência de um Novo Vocabulário para Narrar a Guerra

Em tempos de conflito, a linguagem se torna um campo de batalha tanto quanto o território físico. O escritor israelense Etgar Keret, conhecido por suas narrativas curtas e contos que exploram a complexidade da vida moderna, levanta uma questão crucial: a necessidade de um novo vocabulário para discutir a guerra. Em entrevista à NPR, Keret refletiu sobre a inadequação das palavras existentes para capturar a profundidade do trauma e da experiência humana em meio ao caos.

Keret argumenta que a linguagem atual está carregada de conotações políticas e ideológicas que obscurecem a realidade. Termos como “terrorista”, “ocupação” e “autodefesa” tornaram-se tão polarizados que perderam sua capacidade de transmitir significado genuíno. Essa linguagem divisória, segundo ele, impede a construção de pontes e a promoção do entendimento mútuo. Em seu recente artigo de opinião no The New York Times, Keret enfatizou a importância de criar um novo léxico que possa expressar a complexidade emocional e moral da guerra.

A Narrativa como Ferramenta de Resistência

Para Keret, as histórias desempenham um papel fundamental em tempos de guerra. Elas oferecem um espaço para a empatia, a reflexão e a compreensão. Ao compartilhar experiências pessoais e narrativas individuais, podemos humanizar o conflito e desafiar as generalizações simplistas que alimentam o ódio e a violência. As histórias nos lembram que, por trás das linhas de batalha, existem pessoas com sonhos, medos e esperanças.

A escrita de Keret é caracterizada por sua honestidade brutal e sua capacidade de encontrar humor mesmo nas situações mais sombrias. Ele acredita que o humor pode ser uma forma de resistência, permitindo-nos manter a perspectiva e a sanidade em meio ao absurdo da guerra. Suas histórias muitas vezes exploram os paradoxos da vida israelense, revelando as contradições e as complexidades da identidade nacional.

A Busca por uma Linguagem da Empatia

A proposta de Keret de um novo vocabulário para a guerra não é apenas uma questão semântica. É um chamado à ação para repensarmos a forma como falamos sobre o conflito. Ele acredita que, ao criar uma linguagem mais precisa e matizada, podemos abrir espaço para o diálogo, a negociação e a reconciliação.

Essa nova linguagem deve ser baseada na empatia, na compaixão e no reconhecimento da humanidade compartilhada. Deve evitar o uso de rótulos e estereótipos que desumanizam o “outro”. Deve buscar expressar a dor, o sofrimento e a perda que a guerra inflige a todos os lados do conflito.

Um Legado de Reflexão e Humanidade

A reflexão de Etgar Keret nos lembra da importância de questionar as narrativas dominantes e de buscar novas formas de entender e comunicar a experiência da guerra. Sua chamada por um novo vocabulário é um convite à reflexão crítica e à busca por uma linguagem que possa promover a paz e a reconciliação. Em um mundo cada vez mais polarizado, sua voz ressoa como um farol de esperança e humanidade. O trabalho de Keret, disponível em diversas coletâneas e traduções [como esta](https://www.amazon.com.br/Saudades-S%C3%A9micas-Etgar-Keret/dp/8535908802), demonstra o poder da literatura para construir pontes e promover o entendimento em tempos de conflito.

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