O xeque Youssef al-Qaradawi, um guia espiritual da Irmandade Muçulmana que foi referência das revoltas da Primavera Árabe de 2011 e desestabilizou governantes no Egito e no Golfo Árabe com sua pregação islâmica, morreu nesta segunda-feira (26) aos 96 anos.
Nascido no Egito, Qaradawi passou grande parte de sua vida no Catar, onde se tornou um dos clérigos muçulmanos sunitas mais reconhecidos e influentes do mundo árabe, graças a aparições regulares na rede Al Jazeera do Catar.
Qaradawi, que estudou na Universidade Al-Azhar do Cairo, era frequentemente descrito pelos apoiadores como um moderado que oferecia um contrapeso às ideologias radicais defendidas pela Al-Qaeda. Ele condenou veementemente os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e apoiou o sistema democrático.
Mas ele também apoiou a violência nas causas que defendia.
Primavera Árabe teve início na Tunísia; foto de janeiro de 2011 mostra protesto contra o então presidente — Foto: Fethi Belaid/AFP
No Iraque, após uma invasão liderada pelos EUA em 2003, ele apoiou ataques às forças da coalizão norte-americana e defendeu os atentados suicidas palestinos contra alvos israelenses durante uma revolta que começou em 2000.
Durante as revoltas da Primavera Árabe, ele pediu que o líder líbio Muammar Gaddafi fosse morto e declarou jihad contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Qaradawi ingressou na Irmandade Muçulmana ainda jovem. Defendendo o Islã como um programa político, a Irmandade tem sido vista como uma ameaça por líderes árabes autocráticos desde que foi fundada em 1928 no Egito por Hassan al-Banna, que Qaradawi conhecia.
Ele recusou a chance de liderar a organização, concentrando-se na pregação, no conhecimento islâmico e na construção de seguidores que se estendiam muito além do grupo.
Foto de 13 de setembro de 2011 mostra manifestantes celebrando a queda de Muamar Khadafi, ditador da Líbia retirado durante a Primavera Árabe — Foto: Mahmud Turkia/AFP
Sua proeminência cresceu após as revoltas árabes de 2011.
Qaradawi também se opôs ao grupo radical Estado Islâmico, dizendo que discordava totalmente do Daesh “em ideologia e meios”.
No entanto, ele rejeitou o papel dos EUA na luta contra o grupo como interesse próprio. Os críticos observaram como essa posição parecia contrastar com seu apoio tácito a uma ação norte-americana na Síria em 2013, quando Washington considerou, mas nunca realizou, ataques ao governo sírio pelo uso de armas químicas.
Ele apoiou firmemente a luta palestina com Israel.