Juntos, Graham Russell e Russell Hitchcock ajudaram a cunhar o conceito de power ballad no começo dos anos 80, com músicas como “All Out of Love” e “Making Love Out of Nothing at All”. As músicas do Air Supply eram sobre amor, como os títulos deixam claro. Faziam parte de uma playlist perfeita para rádios FM, com um rock levinho, romântico e tremendamente assobiável.
Quando surgimos, a power ballad ainda não tinha sido inventada… Então, de repente as pessoas estavam dizendo ‘oh isso é uma grande balada, é uma power ballad’. De repente, a power ballad nasceu, ninguém saiu por aí tentando inventá-la. Simplesmente aconteceu”, recorda Russell.
Aos 72 anos, o cantor e músico inglês segue na ativa e passa faz quatro shows no Brasil a partir desta quinta-feira (veja agenda completa no fim do texto).
Na entrevista abaixo, ele conta como a dupla foi formada na Austrália cantando covers de Beatles e como fez para vender mais de 20 milhões de discos em quase 50 anos de carreira.
Graham Russell, do Air Supply, em foto dos anos 80, e em imagem recenteA — Foto: Divulgação/Site Oficial
g1 – Como outros artistas, sei que os Beatles foram uma grande influência. Você se lembra da primeira vez que ouviu os Beatles e o que sentiu?
Graham Russell – Eu tinha 14 anos. E eu nunca tinha visto uma banda ao vivo antes. E os Beatles foram a primeira que eu vi, tocaram em um cinema da minha cidade [Nottingham, a 200 km de Londres]. Eles eram enormes naquela época e isso mudou minha vida, porque eu já estava escrevendo músicas, mas eu não sabia por que, eu não sabia o que estava fazendo.
Mas quando eu os vi, eu nunca mais voltei atrás. Mudou minha vida e eu só sabia dizer “oh meu Deus”. E desde aquele momento tenho tentado recriar essa experiência, mas não consegui. Acho que vai demorar muito até que isso se repita, porque tudo se encaixou no momento certo em tantos níveis e eu tive muita sorte de ter visto isso na minha infância, em 1964. É como se eu não pudesse descrever, sabe? Mas mudou toda a minha vida.
g1 – Você e Russell costumavam cantar Beatles no início da banda, certo? Como foram esses ensaios cantando Beatles? Quais músicas cantavam?
Graham Russell – Quando nos conhecemos, eu estava tocando uma das minhas músicas e Russell disse “Essa é uma música linda”. E eu disse: “É uma das minhas músicas”. Mas para nos conhecermos melhor, ficamos cantando músicas dos Beatles. E ele dizia: “Qual é a sua música favorita dos Beatles?”. Eu disse que era “If I fell”, do “A Hard Day’s Night”. E ele disse que também era “If I Fell”. “Vamos cantar?” E cantamos na mesma hora.
Nós não tivemos que trabalhar nisso ou dizer “Bem, você canta isso e eu vou cantar aquilo…” Simplesmente aconteceu. Foi orgânico e foi assim que fizemos em todas as músicas, todas as primeiras músicas que gravamos. Quando isso acontecia era uma sensação maravilhosa, sabe?
g1 – Como vê a evolução das baladas românticas, das power ballads dos anos 70 e 80 até hoje? O que mudou e o que continua igual?
Graham Russell – Quando surgimos, a power ballad ainda não tinha sido inventada. Nós aparecemos e existiam outros artistas que cantavam grandes baladas também, mas as nossas por algum motivo realmente se destacaram. Nós tivemos um monte de grandes baladas que foram nossos primeiros singles, como “All Out of Love”, “The One That You Love”.
Então, de repente as pessoas estavam dizendo “oh isso é uma grande balada, é uma power ballad”. Porque tem aquela grande orquestra, uma baita de uma guitarra. Então, de repente, a power ballad nasceu, ninguém saiu por aí tentando inventá-la. Simplesmente aconteceu. Eu sempre disse isto: você tem que começar com uma ótima música, sabe? Você não pode ter uma música medíocre e colocar grandes guitarras e orquestra nela. Só isso não vai funcionar.
g1 – Suas power ballads ainda tocam nas rádios e foram uma influência para artistas mais jovens. Quais novos artistas poderiam ser um herdeiro ou herdeira das baladas? Talvez Ed Sheeran, ou Adele…
Graham Russell – Adele é fantástica. Eu acho que, neste momento, ela é a maior artista do mundo e ela tem uma voz tão bonita, mas as músicas dela não sei se são power ballads. Elas são só um pouco diferentes e eu acho que talvez as músicas dela sejam a versão moderna das power ballads, sabe? Ela não precisa ter grandes guitarras e grandes orquestras, porque a voz faz isso por ela.
Russell Hitchcock e Graham Russell em foto da turnê de 2022 do Air Supply — Foto: Mark Weiss/Divulgação
g1 – Como era fazer música no início da banda e como é fazer música agora?
Graham Russell – É totalmente diferente agora. Quando gravávamos lá nos anos 80 costumávamos passar cerca de dois meses fazendo um disco. Mas isso foi antes dos computadores, claro. Agora a maioria das bandas usa computadores e muitos sons digitais, mas devo dizer que não usamos nada disso.
Nós ainda gravamos do jeito antigo. A banda fica no estúdio e tocamos juntos, gravamos juntos. Não fazemos as coisas em partes individuais. Nós tocamos a música talvez seis ou sete vezes até acertar e então começamos a gravar. Uma vez que você grava dessa maneira, tudo soa diferente. Quando todos os instrumentos se juntam e eles estão tocando as partes certas, fica tudo em uma só sintonia.
g1 – É mais orgânico, né?
Graham Russell – Exatamente, é mais orgânico. Sim, essa é maneira que eu deveria ter descrito. [Risos]
g1 – Alguns críticos diziam que o Air Supply faz soft rock. Qual sua opinião sobre este rótulo?
Graham Russell – Olha, somos tão barulhentos quanto o Metallica ou qualquer uma dessas outras bandas. A gente só é diferente por termos grandes vocais, instrumentos de cordas, pianos bem clássicos. Então, é tão intenso quanto qualquer outra banda por aí, mas se as pessoas querem chamar de soft rock, tudo bem. É um bom termo, mas não acho que nos represente em nosso show ao vivo.
Dupla Air Supply posa em capa do álbum que tem o nome da banda, lançado em 1985 — Foto: Reprodução
g1 – O que os fãs podem esperar dos shows no Brasil?
Graham Russell – Algumas pessoas vão rir, outras vão chorar… é nisso que somos muito bons agora, depois de todos esses anos.
g1 – Falando dos hits… como vocês escolheram gravar ‘Making Love Out Of Nothing At All’?
Graham Russell – Clive Daves [executivo de várias gravadoras desde os anos 60] veio nos mostrar essa música e ele disse: “Jim Steinman [compositor de ‘Total Eclipse of the Heart’] trouxe essa música ‘Making love out of nothing at all’.” E ele perguntou se a gente estaria interessado em cantá-la. Clive tocou a música e, claro, imediatamente nós dissemos: “Uau, ela é fantástica”.
Eu sempre fui um grande fã das pérolas do James, até as dos anos 70 com Meat Loaf. Nós nos encontramos com Jim e dissemos “Sim, adoraria gravá-la”. E a razão pela qual queríamos fazer vai além do fato de que era uma ótima música. Acho que Russell deveria cantar grandes músicas, não apenas minhas músicas o tempo todo. Ele é um grande cantor e tem que cantar músicas diferentes.
Russell Hitchcock e Graham Russell em foto da turnê de 2022 do Air Supply — Foto: Mark Weiss/Divulgação
g1 – É verdade que a gravação foi em um take apenas?
Graham Russell – Gravamos com Jim e Russell cantou em só um take, sim. E Jim virou-se para mim e disse que aquilo “fabuloso”. Foi sem correções, sem afinar a voz, apenas um take e é isso. Era assim que costumávamos fazer naqueles tempos, sabe? É uma música incrível, atemporal e estou muito feliz por estarmos ligados a ela para sempre.
g1 – Vamos então falar de uma composição sua… Como ‘All out of love’ foi composta?
Graham Russell – A gente tinha três singles no top cinco só com o primeiro álbum, então todo mundo estava esperando o segundo meio que prendendo a respiração, imaginando quais seriam as músicas. O Clive não tinha ouvido “All out of love”. Estávamos no estúdio em Los Angeles e ele veio, porque acho que ele estava um pouco preocupado se a gente tinha ou não músicas e ele veio para o estúdio.
Tocamos para o Clive e houve silêncio por cerca de 15 segundos, e nós pensamos “Oh, não! Ele não gostou”. Mas então ele se virou para nós e disse: “Esta é provavelmente a melhor música de vocês.” Ele disse que ela iria para o número um e iria ganhar um Grammy.
E ele estava certo. Naquele momento, nós sentimos um grande alívio, porque de fato era uma balada poderosa. Não apenas porque era uma grande plataforma para a voz de Russell, que cantou em só dois takes. Mas é uma ótima música e estou falando isso só porque ela é minha.
- 13 de outubro – Recife – Classic Hall;
- 15 de outubro – Rio de Janeiro – Vivo Rio;
- 16 de outubro – São Paulo – Espaço Unimed;
- 18 de outubro – Curitiba – Teatro Guaíra.