Relatório aponta que mais de 180 milhões de crianças correm o risco de sofrer graves consequências na saúde em todo o mundo. Quadros de desnutrição ou magreza extrema podem levar à morte. Crianças esperam para receber comida feita por voluntários em Rafah, na Faixa de Gaza
REUTERS/Hatem Khaled
Mais de 25% das crianças menores de 5 anos no mundo sofrem de “pobreza alimentar severa”, segundo relatório da Unicef publicado nesta quarta-feira (5). Isso significa que mais de 180 milhões de crianças correm o risco de sofrer graves consequências para a saúde, se não tiverem uma dieta nutritiva e diversificada.
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Um número “impactante” de crianças “sobrevive com uma dieta muito pobre, consumindo produtos de dois ou menos grupos de alimentos”, explicou à AFP Harriet Torlesse, uma das autoras do relatório.
Segundo as recomendações da agência da ONU para a infância, as crianças pequenas devem consumir diariamente alimentos de pelo menos cinco dos oito grupos:
leite materno
cereais
frutas e verduras ricas em vitamina A
carne ou peixe
ovos
produtos lácteos
leguminosas
outras frutas e verduras
O relatório aponta que 440 milhões de crianças menores de 5 anos que vivem em 137 países de baixa e média renda não têm acesso a esses cinco grupos todos os dias. Por este motivo, sofrem de “pobreza alimentar”.
Entre essas crianças, cerca de 181 milhões consomem, no máximo, alimentos de dois grupos.
“Crianças que só comem dois grupos de alimentos por dia, por exemplo, arroz e um pouco de leite, têm 50% mais chances de sofrer formas graves de desnutrição”, advertiu a chefe da Unicef, Catherine Russell.
Situações graves como a desnutrição ou uma magreza extrema podem levar à morte.
Segundo a especialista Harriet Torlesse, crianças que sobrevivem nessa situação não conseguem prosperar, tendo pior desempenho na escola e dificuldades na vida adulta. Isso perpetua um ciclo de pobreza de geração em geração.
“O cérebro, o coração e o sistema imunológico, que são importantes para o desenvolvimento e proteção contra doenças, dependem das vitaminas, minerais e proteínas”, disse.
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Situação nos países
A “pobreza alimentar severa” concentra-se em 20 países, com situações especialmente preocupantes na Somália (onde 63% das crianças menores de 5 anos são afetadas), Guiné (54%), Guiné-Bissau (53%) e Afeganistão (49%).
O relatório analisou especialmente a situação em Gaza, onde a ofensiva israelense provocada pelo ataque sem precedentes do Hamas, em outubro de 2023, causou “o colapso dos sistemas alimentar e sanitário”.
Baseando-se em cinco séries de dados coletados por SMS entre as famílias beneficiárias de um programa de ajuda econômica na Faixa de Gaza, a Unicef calcula que 9 em cada 10 crianças sofrem de pobreza alimentar grave.
Embora esses dados não sejam necessariamente representativos, ilustram uma catastrófica piora da situação na região desde 2020, quando apenas 13% das crianças viviam nessa situação, segundo a agência da ONU.
Embora não haja dados sobre países ricos, o levantamento aponta que as crianças de lares pobres também não estão isentas dessas deficiências nutricionais.
Doce, salgados e gordurosos
A nível global, constatando um “progresso lento” nos últimos dez anos na luta contra a pobreza alimentar, o relatório pede a introdução de mecanismos de proteção social e ajuda humanitária para os mais vulneráveis.
Também exige uma transformação do sistema agroalimentar, culpando as bebidas com alto teor de açúcar e os alimentos ultraprocessados industrializados “comercializados agressivamente para os pais e famílias, e que estão se tornando a norma para alimentar as crianças”.
Esses produtos são frequentemente “baratos, mas também muito calóricos, muito salgados e gordurosos. Enchem o estômago e tiram a fome, mas não fornecem as vitaminas e minerais que as crianças precisam”, destacou Torlesse.
Os produtos doces ou salgados, aos quais as crianças se acostumam desde muito cedo, e potencialmente para toda a vida, favorecem a obesidade.
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