Multinacional chinesa chama de 'atropelo' volta do imposto sobre importação de elétricos; governo quer 'estimular indústria nacional'


Taxação de veículos eletrificados será restabelecida de forma gradual a partir de janeiro, mas líder de mercado defende escalonamento maior do imposto. Carro eletrificado da multinacional chinesa BYD
Divulgação BYD
O diretor institucional da filial brasileira da multinacional chinesa BYD, Marcello Von Schneider, afirmou nesta terça-feira (14) que “sentiu como um atropelo” a retomada do imposto de importação para carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in.
Na semana passada, o governo federal decidiu voltar com o imposto a partir de janeiro de 2024 de forma escalonada para “estimular a indústria brasileira”. Entenda as alíquotas nesta reportagem.
Em entrevista ao g1, na sede da empresa em Campinas (SP), Schneider disse que a BYD é a favor da retomada do imposto, já a empresa está montando três fábricas em Camaçari (BA), mas defendeu uma mudança no início da tributação para que as empresas do setor tenham tempo de iniciar a produção no Brasil.
“A gente sentiu como um atropelo. Então, infelizmente uma pressão de outros lados convenceu o governo e nós vamos trabalhar agora baseado nesses novos números, tanto de alíquotas quanto de cotas de importação, e ver o que a gente pode fazer. Infelizmente, quem pede é o consumidor final novamente”, afirmou o executivo ao g1.
Alíquotas mais escalonadas
O diretor da gigante chinesa afirmou que, se o objetivo da medida era trazer mais investimentos, isso não vai acontecer a curto ou médio prazo. Para Schneider, é necessário um escalonamento maior das alíquotas.
“Acho que uma transição em um período de cinco anos com cotas e uma alíquota subindo um pouco menos ao longo desses cinco anos seria algo bem interessante”, defendeu.
Marcello Von Schneider, diretor da BYD Brasil
Divulgação BYD
Indústria nacional deve ser estimulada, diz Alckmin
Ao g1, o ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços informou que a posição do governo foi “debatida e anunciada com todo o setor e todas as entidades representativas, inclusive dos importadores de veículos eletrificados”.
“As propostas e sugestões foram colecionadas e analisadas por mais de 60 dias, gerando certeza e previsibilidade para todo o setor. A decisão contribui para promover a produção, a geração de empregos e renda no Brasil”, diz a nota.
Na semana passada, ao anunciar a retomada do tributo, o vice-presidente e ministro da pasta, Geraldo Alckmin (PSB), justificou o retorno apontando para a necessidade de incentivar a indústria nacional.
“O Brasil é um dos principais mercados automobilísticos do mundo. Temos de estimular a indústria nacional em direção a todas as rotas tecnológicas que promovam a descarbonização, com estímulo aos investimentos na produção, manutenção e criação de empregos de maior qualificação e melhores salários”.
Vice-presidente Geraldo Alckmin
Valdinei Malaguti/EPTV
Antecipação da fábrica brasileira
Segundo o governo da Bahia, as fábricas da multinacional chinesa no estado devem começar a produzir entre o fim de 2024 e o começo de 2025. Questionado pelo g1 se a tributação pode acelerar a operação em Camaçari, o executivo afirmou que “qualquer antecipação se for possível de ser feita, será feita”.
“O que a gente puder acelerar para poder começar a fabricar o quanto antes, melhor. Mas tem coisas que a gente não consegue acelerar, mas ainda estamos dentro do nosso cronograma, do nosso plano”, afirmou Schneider.
Impacto no preço dos veículos
Segundo o executivo, a empresa está estudando os cenários com essas alíquotas e cotas e vai “tentar minimizar os impactos para o consumidor final”. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a BYD é, atualmente, líder no mercado de veículos eletrificados, que inclui elétricos e híbridos.
Como ficam os impostos de importação
O governo informou que as porcentagens de “retomada progressiva” de tributação para os automóveis vão variar com os “níveis de eletrificação” e com os processos de produção de cada modelo.
Carros a combustão, híbridos e elétricos: entenda as diferenças
Carros híbridos:
12% em janeiro de 2024
25% em julho de 2024
30% em julho de 2025
35% em julho de 2026
Híbridos plug-in (recarregados externamente):
12% em janeiro de 2024
20% em julho de 2024
28% em julho de 2025
35% em julho de 2026
Elétricos:
10% em janeiro de 2024
18% em julho de 2024
25% em julho de 2025
35% em julho de 2026
Elétricos para transporte de carga ou caminhões elétricos:
20% em janeiro de 2024
35% em julho de 2024
Como funcionam os carros elétricos
Cotas
O governo explicou, porém, que as empresas também têm até julho de 2026 para continuar importando com isenção até determinadas cotas de valor, também estabelecidas por modelo.
Para híbridos: cotas de US$ 130 milhões até julho de 2024; de US$ 97 milhões até julho de 2025; e de US$ 43 milhões até julho de 2026.
Para híbridos plug-in: US$ 226 milhões até julho de 2024, US$ 169 milhões até julho de 2025 e de US$ 75 milhões até julho de 2026.
Para elétricos: nas mesmas datas, respectivamente US$ 283 milhões, US$ 226 milhões e US$ 141 milhões.
Para os caminhões elétricos: US$ 20 milhões, US$ 13 milhões e US$ 6 milhões.
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