A Coreia do Norte disparou um míssil que passou por cima do Japão, no que parece ser uma escalada deliberada para chamar a atenção dos governos de Tóquio e Washington.
O míssil balístico viajou cerca de 4,5 mil km antes de cair no Oceano Pacífico — distância o suficiente para atingir a ilha norte-americana de Guam se seguisse outra trajetória.
Este é o primeiro lançamento de míssil norte-coreano sobre o Japão desde 2017.
O lançamento levou o Japão a emitir um raro alerta para alguns cidadãos se protegerem.
A ONU proíbe a Coreia do Norte de testar armas balísticas e nucleares. O lançamento de mísseis em direção ou sobre outros países sem qualquer aviso prévio ou consulta também viola as normas internacionais.
A maioria dos países evita completamente fazer isso, pois o ato pode ser facilmente confundido com um ataque. Embora não seja tão grande quanto um teste nuclear — algo que não está descartado para o futuro — o ato norte-coreano pode ser considerado extremamente provocativo.
Pessoas no norte do Japão, incluindo a ilha de Hokkaido e a cidade de Aomori, supostamente acordaram com o barulho de sirenes e alertas de texto que diziam que “a Coreia do Norte parece ter lançado um míssil. Por favor, evacuem para prédios ou para locais subterrâneos”.
Enquanto o míssil sobrevoava, eles foram avisados para ficarem atentos a detritos caindo. Muitos pareciam permanecer calmos, de acordo com relatos. Um vídeo mostra passageiros de Tóquio andando calmamente enquanto os alto-falantes soavam alertas.
Mas outros ficaram mais abalados. “Se um míssil atingir, eu ficaria preocupado que este seria um grande problema não apenas aqui, mas também em todo o país”, disse Kazuko Ebina, moradora de Aomori, ao jornal Asahi Shimbun.
Mais tarde, autoridades disseram que o míssil balístico de alcance intermediário caiu no Oceano Pacífico, longe do Japão, e não houve relatos de feridos.
Ele cobriu a maior distância já percorrida por um míssil norte-coreano e atingiu uma altura de cerca de 1.000 km — mais alta que a Estação Espacial Internacional.
O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, classificou o lançamento como um “comportamento violento”, enquanto o ministro da Defesa, Yasukazu Hamada, disse que o Japão não descarta nenhuma opção para fortalecer suas defesas, incluindo “capacidades de contra-ataque”.
A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, chamou a decisão de “perigosa e imprudente” e disse que o ato “desestabiliza” a região.
O lançamento ocorre quando o Japão, os EUA e a Coreia do Sul trabalham juntos para fortalecer suas defesas, em resposta à crescente ameaça representada pelo Norte.
Na semana passada, os três países realizaram exercícios navais juntos pela primeira vez desde 2017. Esses exercícios há muito antagonizam o líder de Pyongyang, Kim Jong-un, que os vê como prova de que seus inimigos estão se preparando para a guerra.
Após os exercícios combinados em 2017, a Coreia do Norte disparou dois mísseis sobre o Japão em resposta. Uma semana depois, realizou um teste nuclear.
Um dado recente de inteligência sugeriu que a Coreia do Norte está se preparando para testar outra arma nuclear. Acredita-se que a Coreia do Norte estaria esperando até que a China — seu principal aliado — realize seu congresso do Partido Comunista no final deste mês.
Mas alguns especialistas agora estão perguntando se isso poderia acontecer mais cedo do que o esperado — eles acreditam que o lançamento de terça-feira mostra que a Coreia do Norte está preparando o terreno para um teste nuclear.
O lançamento do míssil é o quinto realizado por Pyongyang em uma semana. No sábado, dois foguetes caíram em águas fora da zona econômica exclusiva do Japão.
Muitos dos testes de mísseis da Coreia do Norte são realizados em uma trajetória de voo elevada — evitando voos sobre seus vizinhos.
No entanto, disparar sobre o Japão ou passando por ele permite que cientistas norte-coreanos testem mísseis em circunstâncias “mais representativas das condições que eles suportariam no mundo real”, disse o analista Ankit Panda à agência de notícias Reuters.
Essas ações contribuíram para as tensões duradouras entre a Coreia do Norte e o Japão, enraizadas na colonização anterior da Coreia pelo Japão de 1910 a 1945 e no sequestro de cidadãos japoneses pelo Norte no passado.
No início deste mês, a Coreia do Norte aprovou uma lei na qual se declara um Estado com armas nucleares, com o líder Kim Jong-un descartando a possibilidade de negociações sobre desnuclearização.
Pyongyang realizou seis testes nucleares entre 2006 e 2017, incorrendo em sanções generalizadas.
O país do leste asiático desafia regularmente a proibição de testes nucleares e de mísseis, dizendo que precisa reforçar suas defesas.
Veja os mísseis que a Coreia do Norte tem, além do Hwasong-17:
Que misseis a Coreia do Norte tem — Foto: BBC