Tensão entre China e EUA: por que a destruição do balão chinês agrava ainda mais a crise diplomática entre os países


Governo chinês argumenta que balão tinha fins meteorológicos e teve a rota desviada por ventos. No entanto, americanos rebatem versão e afirmam que instrumento era usado para vigilância. Suposto balão espião da China sobrevoa os Estados Unidos
De um lado, os Estados Unidos alegam que o balão misterioso que apareceu nos céus do estado americano de Montana na última quinta-feira (2) tratava-se de um objeto chinês de espionagem. De outro, a China informa que o balão nada mais era que um instrumento meteorológico que desviou da sua rota e viajou até o território americano.
O vai-e-vem de declarações e acusações é mais um ponto de estresse de uma relação muito desgastada entre as duas maiores potências do mundo.
E para entender mais este capítulo de crise diplomática entre os Estados Unidos e a China, o g1 conversou com Elias Khalil Jabbour, professor da faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e com Tanguy Baghdadi, criador do podcast Petit Journal.
Balão espião ou instrumento meteorológico?
“Esse balão, na minha opinião, é tudo menos um balão espião. Eu, particularmente, acho que é uma provocação aberta dos Estados Unidos e, evidentemente, que isso vai mexer com as relações com a China. Até porque a China não precisa colocar um balão nos Estados Unidos para saber o que está acontecendo lá dentro”, defende Elias Khalil Jabbour.
Para ele, os americanos nada mais querem que dialogar com o seu público interno e reforçar, ainda mais, a ideia “de que existe uma ameaça à hegemonia americana”. Jabbour, além de achar uma piada a possibilidade de o balão ser um objeto de espionagem, acredita que a acusação faça parte de uma jogada do presidente dos Estados Unidos Joe Biden.
“Hoje, a China é cercada por 80 bases militares americanas”, comenta Jabbour. Com isso, diz o professor, “existe uma força desproporcional empregada pelos Estados Unidos nesse processo que passa essa imagem de que a China é uma ameaça ao mundo”.
Por outro lado, Tanguy Baghdadi discorda: “Meu palpite é que sim tenha algum elemento de coleta de informações”. Na opinião dele, ao lançar um balão, a China consegue obter uma série de informações, como, por exemplo:
Quanto tempo os Estados Unidos vão demorar para abater aquele balão?
Quem comanda o abatimento deste instrumento?
Quanto tempo demora?
É ágil a ação americana?
“Eu acredito que tenha alguma questão relacionada com espionagem, sim. Quando a gente fala de uma relação neste nível, em altíssimo nível político, econômico e diplomático, informação é um elemento muito importante”, argumenta Baghdadi.
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Imagem feita do solo mostra a parte de baixo do balão chinês durante atividade de caça americano para destruir o objeto
Chad Fish via AP
Relação EUA x China
Ainda que se trate de um episódio isolado e quase “cotidiano” da relação entre os dois países, tanto Elias Khalil Jabbour quanto Tanguy Baghdadi explicam que o aparecimento (e o abatimento) do balão chinês eleva, ainda mais, a crise diplomática entre Estados Unidos e China.
“Qualquer coisa que aconteça fora de qualquer padrão nesse momento agravaria as relações. Então, se fosse um drone americano para fins de diversão no mar do sul da China, também teria um problema”, pontua Jabbour.
Ao voltar na história recente, Baghdadi lembra que não é a primeira vez que o governo americano acusa a China de espionagem. Em 2019, por exemplo, dois diplomatas chineses foram expulsos dos EUA por suspeita de espionagem.
Além disso, é importante lembrar, destaca Tanguy Baghdadi, que se trata das duas maiores potências do mundo, que são também os maiores parceiros comerciais e que, com isso, dependem muito um do outro.
“Eu acho que, às vezes, a gente fica esperando grandes acontecimentos. Esse nível de tensão entre Estados Unidos e China vai ter outros capítulos, mas isso faz parte do cotidiano da relação”, resume Tanguy.
O líder chinês Xi Jinping e Joe Biden durante encontro do G20
Saul Loeb/AFP/Getty Images

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